“Temos que ir mais para dentro das escolas do  que para o rio”

Viva o Taquari-Antas Vivo

“Temos que ir mais para dentro das escolas do que para o rio”

Projeto voluntário iniciado em 2007, o Viva Taquari Vivo se expande para quase 1/3 do território gaúcho e ganha reconhecimento nacional. Da coleta de lixo nas margens do rio a trabalhos nas escolas, busca conscientizar para a preservação ambiental. Neste sábado, ações simultâneas em seis municípios levam mais de 600 pessoas à beira do Rio Taquari.

“Temos que ir mais para dentro das escolas do  que para o rio”

A nomenclatura da região formada pelos 36 municípios não é à toa. Ladeado por montanhas, o Vale surgiu a partir do seu principal símbolo: o Rio Taquari.

Por meio de embarcações, imigrantes chegavam para dar forma às principais cidades hoje conhecidas, todas construídas a partir das margens do afluente. Com o tempo, o curso de água acabou escanteado e suscetível à degradação decorrente da expansão urbana.

Por décadas, a administração pública direciona o planejamento de forma a dar território e potência às cidades. Mas no processo de desenvolvimento o ambiente fica de fora das prioridades.

A condição provoca o voluntariado, cujas ações visam despertar na sociedade a consciência sobre preservar os recursos naturais. Sai de Lajeado e Estrela um dos projetos mais imponentes e de maior repercussão no país: o Viva o Taquari Vivo, que desde o ano passado se expande para quase 1/3 do território gaúcho.

Lançado em 2007, surgiu por intermédio da Associação Comercial e Industrial (Acil) e a Parceiro Voluntários. “Eu apoiei e lancei o desafio de que não fosse um projeto especificamente da Acil, mas totalmente aberto à comunidade”, lembra o publicitário Gilberto Soares, um dos idealizadores da iniciativa, que na época era vice-presidente de Responsabilidade Social da entidade.

Além do recolhimento de lixo, criou-se uma rede de relacionamento na qual a sociedade pudesse interagir e começar a se articular, com a liberdade para lançar ideias.

No primeiro mutirão, mais de uma tonelada de resíduos foi recolhida às margens do Taquari. Metodologia desenvolvida com apoio da Associação Estrelense de Proteção ao Ambiente Natural (Aepan) possibilitou diagnóstico sobre o que era descartado no rio e posterior destinação do material.

“Não queríamos apenas levar as pessoas para o local, mas também ter uma atividade de interação com o rio, ver de que maneira estávamos tratando-o e, a partir disso, provocar uma grande discussão”, aponta Soares.

O sucesso da atividade resultou um segundo mutirão naquele mesmo ano, quando a Univates assumiu a coordenação técnica no lugar da Acil. A metodologia foi aperfeiçoada e o avanço, visível. Com dados em mãos da coleta anterior, pôde ser feito um cotejamento entre as duas edições. Tais análises foram documentadas e passaram a servir de base para as próximas ações.

Escola adentro

O próximo passo foi a criação da “Mostra Espelhos”. Tal atividade busca, por meio de painéis fotográficos, provocar a sociedade a refletir. “Temos que ir mais para dentro das escolas do que para dentro do rio”, destaca Soares ao citar o pouco uso do patrimônio natural para ações como o Natal nas Águas, criado por Bom Retiro do Sul.

“Com o trabalho nas escolas pretendemos dar aos jovens uma base de informações para provocar debates com os amigos, em casa, na rua.”

Desde o princípio, o grupo almejava espraiar o projeto e torná-lo conhecido como um modelo em toda a região. E de fato houve repercussão, mas muito além do esperado. Ações paralelas tornaram o Viva o Taquari Vivo mais robusto e requisitado em diversas cidades.

Em 2008, por exemplo, foi criado o seminário ambiental realizado até hoje. Da Educação Infantil ao Ensino Médio, ocorre a cada 20 de setembro na Univates.

“E conseguimos criar um rede de relacionamento, envolvendo as mais variadas organizações, indivíduos. Temos do trabalhador ao patrão, do aluno ao professor. Todos estão engajados no projeto e isso impulsionou o crescimento.”

Projeto alcança 1/3 do RS

Com o tempo, outros municípios das proximidades aderiram ao projeto. Em Teutônia, foi desenvolvido o Revive Boa Vista em prol do Arroio Boa Vista. Na primeira edição, os organizadores do Viva o Taquari ajudaram montagem. Hoje, a atividade corre por conta própria e se qualifica a cada ano.

Na mesma época, o modelo também foi aplicado em Arroio do Meio por intermédio do Rotary Club e da administração municipal, com importantes trabalhos realizados junto nas escolas. O grande salto do projeto ocorreu no ano passado, quando houve a adesão de Cruzeiro do Sul, Venâncio Aires e Bom Retiro do Sul.

A expansão da atividade para o Vale do Rio Pardo foi muito comemorada pelos organizadores. Por ser um município tradicional e com vasto território, Venâncio Aires tem a condição de incentivar outras cidades da região a aderir.

Pela primeira vez, aponta Soares, uma administração municipal investiu de forma exclusiva no projeto. “Apesar de se falar muito em preservação do meio ambiente nos dias atuais, muitas vezes, isso não se reflete em ações práticas”, enaltece o prefeito Airton Artus.

No fim do ano, a grande notícia. Em reunião na UCS, em Caxias do Sul, o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas aderiu ao projeto. Considerada a maior bacia do estado, envolve 120 municípios, com população de 1,3 milhão de pessoas. A área da bacia representa 17% do PIB gaúcho.

De acordo com o presidente Julio Cesar Salecker, uma das atribuições do comitê é a educação ambiental molhada, aquela voltada para os recursos hídricos.

Com a adesão ao projeto, enaltece, será possível potencializar tal conscientização na área da bacia. Um grupo de trabalho foi criado para levar aos municípios a proposta do Viva o Taquari Vivo. Em muitos, a reação tem sido imediata.

Salecker cita projeto de Caxias do Sul, inspirado no trabalho desenvolvido pelas entidades e o voluntariado do Vale do Taquari. Nesta semana, Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) inaugurou o Parque dos Pinhais – Reserva Natural, no distrito de Vila Seca. São quase 500 hectares no intuito de preservar a bacia de captação do Arroio Marrecas.

Reconhecimento nacional

O Viva o Taquari Vivo ficou conhecido em todo o país após participar do Prêmio da Agência Nacional das Águas (ANA) em 2014. Entre mais de 450 projetos inscritos, esteve no grupo dos 27 finalistas e conquistou a terceira colocação entre aqueles desenvolvidos por ONGs. Foi considerado pela agência como o maior projeto de defesa voluntária de um rio.

Como trata-se de uma ação desenvolvida pelo voluntariado, não há aporte de recursos para a veiculação na mídia. Assim, enfatiza o publicitário Soares, o reconhecimento da ANA amplia a visibilidade e facilita a interação com a comunidade.

Voluntários vão ao rio neste sábado

O Viva o Taquari Vivo chega à décima edição neste sábado. De forma simultânea, seis municípios promovem atividades das 7h30min às 12h. A organização espera público superior ao do ano passado, quando foram reunidas 650 pessoas.

Como no ano passado, a limpeza do rio ocorre no Porto dos Bruder, em Lajeado; no Parque Municipal da Lagoa, em Estrela; no bairro Navegantes, em Arroio do Meio; no Clube Náutico Delta, em Cruzeiro do Sul; em Vila Mariante, Venâncio Aires; e na Barragem Eclusa, em Bom Retiro do Sul. Na área de abrangência do Comitê Taquari-Antas, é possível que ocorram ações paralelas.

Nas nove edições, foram recolhidas 27 toneladas de lixo nos municípios participantes. Ao todo, mais de cinco mil voluntários se engajaram neste período. Apenas no ano passado, mutirões retiraram quase cinco toneladas de resíduos das margens do rio.

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