O nome técnico ainda causa estranheza – cirurgia cosmética genital feminina – mas com o avanço da medicina representa melhoria na qualidade de vida das mulheres.
Popularmente chamado de cirurgia íntima, o procedimento pode solucionar má-formação congênita, envelhecimento ou danos após o parto normal. Os médicos afirmam que a procura pela cirurgia também cresce entre mulheres que desejam melhorar a estética da vagina.
Um deles é o ginecologista Guilherme Furst. Segundo ele, entre as operações mais comuns, estão reconstruções, perineoplastias e correções de assimetria. Para diferenciar o procedimento estético do funcional, Furst cita como exemplo uma paciente que, ao passar por três partos normais, ficou com alargamento vaginal, flacidez muscular, bexiga caída e incontinência urinária.
“A cirurgia funcional tem o intuito de corrigir esses problemas, mas se a paciente quiser tirar os pelos, clarear a vulva e corrigir defeitos externos é possível”, afirma. Segundo ele, nos casos estéticos são utilizados procedimentos médicos mais avançados.
“Para isso, profissionais especializados em cirurgias plásticas passaram a aplicar os conhecimentos dentro da ginecologia”, ressalta. Conforme Furst, as contraindicações dependem do tipo de procedimento.
“É preciso ver qual necessidade e idade da paciente”, relata. Apesar da maior popularização dos procedimentos estéticos, as ações são invasivas e têm os mesmos riscos inerentes a outros tipos de cirurgias, diz.
Função aliada à estética
Furst ressalta que a cirurgia cosmética genital feminina é complexa. Segundo ele, não existe padrão de beleza e formato ideal definido da vulva. Conforme o médico, a vagina necessita de harmonia em seu conjunto para ser bonita. “Isso se alcança preservando as estruturas durante a cirurgia. Por isso, as demandas vêm de percepção pessoal.”
Em alguns casos, afirma, a operação tem o poder de melhorar relações sexuais para a mulher. Mas, segundo Furst, é preciso ter cuidado com esse conceito, pois muitos médicos tentam incluir no grupo de procedimentos a amplificação do ponto G e reconstrução do hímen. Essas são cirurgias ainda questionáveis e mal-aceitas pela Federação Internacional de Ginecologia (Figo), diz.
Segundo o ginecologista, se a função sexual não está boa, o procedimento cirúrgico pode ajudar a melhorar, mas não é a “salvação”. “Os médicos não conseguem promover a satisfação íntima com uma cirurgia.”
O exemplo mais comum de melhora com correção estética é o caso de mulheres que têm os lábios da vagina muito grandes. De acordo com Furst, a situação é comum depois da gravidez e do período de amamentação.
“Na hora da relação sexual, esses pequenos lábios se dobram para dentro da vagina devido ao seu tamanho e causam dor à mulher”, explica. Isso pode ser resolvido com a labioplastia (redução dos pequenos lábios).
Dona de si
O público que busca a cirurgia cosmética genital feminina é o mais variado, conta Furst. Os procedimentos mais simples, como depilação a laser na vulva, alcançam público com idade média de 25 anos. Já a reconstrução vaginal por conta de partos e alterações oriundas do tempo é mais comum em mulheres mais velhas.
Os motivos também são diversos. Há pacientes jovens que procuram a cirurgia por ter nascido com assimetria nos pequenos lábios. Outras, emagreceram e perderam muita gordura na região da vulva, e sentem necessidade de reposição. Pacientes idosas, em plena atividade sexual, querem rejuvenescer a vagina.
A busca pela cirurgia é incentivada de acordo com o perfil da mulher contemporânea, que vive em época de exposição sexual. Segundo o médico, ela se permite mostrar o corpo ao parceiro no momento de prazer. “A intenção é estar à vontade consigo mesma.”
Furst acredita na popularização contínua dos procedimentos. O motivo seriam as queixas quanto à estética e funcionalidade da vulva, muito comuns dentro dos consultórios ginecológicos. “Infelizmente, alguns médicos não têm acesso ou não sabem sobre a cirurgia.” As indicações de pacientes, em sua maioria, ocorrem por meio de amigas.
Conhecimento compartilhado
A Clínica Dr. Wilson Dewes oferece a cirurgia faz três anos. Frente aos avanços científicos na área, desde 2014, promovem cursos para ensinar a médicos os detalhes dos procedimentos. Entre os estágios da formação, realizam operações assistidas com especialistas de renome nacional. “São médicos reconhecidos pelo trabalho exemplar realizado.”
Um dos objetivos destses encontros é compartilhar conhecimentos. “As técnicas se complementam então é sempre bom buscar renovação.” A cirurgia cosmética genital feminina é sub especialidade nova, lembra Furst. A Figo somente passou a publicar artigos e recomendações sobre os procedimentos em 2011.
Furst esclarece que o custo depende muito do estado da paciente. Casos em que a rotina é prejudicada, com mulheres que se sentem desconfortáveis com o corpo, são desafiadores. Para Furst, são esses os pacientes que mais precisam de ajuda. “E isso não tem preço.”
Procedimentos
Veja a lista de procedimentos praticados pela cirurgia cosmética genital feminina, reconhecidos pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo).
Labioplastia redutora: diminui o tamanho dos pequenos lábios vaginais
Labioplastia de aumento: aumenta o volume dos grandes lábios vaginais com produtos sintéticos ou gordura
Redução do capuz clitoriano: diminui o capuz de pele que cobre o clitóris
Vaginoplastia: alargamento ou estreitamento do canal vaginal
Revisão de episiotomias: correção de cicatrizes de episiotomias realizadas nos partos
Perineoplastia: correção de flacidez muscular ou distopias (prolapsos) de órgãos
Clareamento vaginal: despigmentação e melhora do aspecto da pele vular
Técnica a laser: depilação definitiva da vulva
Lipoaspiração do monte pubiano: retirada do excesso de gordura depositado no monte pubiano
