Jovens eleitores relatam ceticismo com a política

Eleições 2016

Jovens eleitores relatam ceticismo com a política

TSE promove campanha para conscientizar adolescentes sobre a importância de participar do processo democrático

Jovens eleitores relatam ceticismo com a política

Na Semana do Jovem Eleitor, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encabeça campanha para incentivar jovens de 16 e 17 anos a fazerem o primeiro título.

Diante do momento de instabilidade política e social no país, se mostram descrentes. Influenciados ou não pelas mídias ou mesmo pela opinião dos pais, partem do pressuposto de que é preciso desconstruir o modelo político atual.

Se em 2012 esses adolescentes representavam 2% dos votos na região, hoje esse número caiu para 0,9%. No estado, a última atualização aponta que há 87.315 eleitores nessa faixa etária. Na 29ª Zona Eleitoral, que compreende oito municípios ligados a Lajeado, são 922 eleitores menores de idade.

Apesar de fazerem parte de um pequeno grupo de eleitores, os jovens votantes dizem ser apartidários e desejam mudanças. Querem que haja maior comprometimento moral e ético, não só dos políticos, mas de toda a sociedade. A maioria dos entrevistados afirma que fará questão de votar, mesmo não sendo obrigatório.

O prazo para realizar a biometria ou encaminhar o título de eleitor encerra no dia 4 de maio. Até lá, jovens que ainda têm 15 anos, mas completarão 16 até o dia 2 de outubro, poderão encaminhar o documento para escolher os representantes políticos das próximas eleições.

Debates nas escolas

No Colégio Gustavo Adolfo, jovens se reúnem e debatem o cenário político atual. O estudante Silas Castoldi, 17, defende que é preciso reconstruir a política com rostos novos, em uma nova gestão. Vigo Ely, 18, acredita que quem está no poder há muito tempo deixa de trabalhar para o povo.

Vinícios Malmmann, 16, e Stephanie Westerhofen, 17, avaliam que falta qualidade dos políticos para exercer os cargos públicos.

Para Matheus Hiterholz, 16, deveria haver um curso para preparar os políticos antes da candidatura. Conforme a aluna Laura Scapini Weiand, 16, na hora do voto, temos que esquecer os partidos e pensar no melhor projeto. Segundo Laís Feldens, 17, se não houver escolha, se forem os mesmos candidatos, sem novidades, a opção é o voto nulo.

Rafaela Madeira, 17, e Carolina Heberle, 16, acreditam que a reeleição é um dos males do sistema atual.
O grupo tem pensamentos distintos, mas em alguns aspectos aponta para conclusões comuns. A posição unânime é a falta de ética. “A maior crise brasileira não é política ou econômica, mas a crise de ética”, disse um dos alunos, para aprovação de todos.

A maioria acompanha informações políticas dos grandes conglomerados. Redes sociais como Facebook e Twitter também servem para pesquisa. Para eles, ainda vai levar um tempo para que as coisas melhorem no meio político.

Política em sala de aula

Em outra escola particular de Lajeado, no Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), o pensar sobre política é tema de aula. A partir de um trabalho interdisciplinar, diz o diretor Rodrigo Ulrich, os educadores incentivam o pensamento crítico nos alunos.

De acordo com ele, as aulas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia são as que mais exigem esse tipo de reflexão. “Os alunos são mais desafiados a uma busca constante de fontes de informação para ter uma noção ampla da política.”

As oficinas de Redação tratam do exercício da democracia e da liberdade de expressão. “As opiniões são importantes. Focamos na liberdade com responsabilidade. É preciso ter senso crítico, mas a crítica não deve ser infundada. É preciso argumentação”.

Para o diretor, desenvolver o espírito de liderança e retórica envolve os estudantes em um trabalho de consciência do direito da democracia. “Com a liberdade, vêm grandes responsabilidades.”

Os jovens observam o momento histórico com menos vícios do que os adultos 

O sociólogo Renato Zanella vê nos jovens um sinal de esperança para renovação do sistema político. Trata-se, segundo ele, de um público distinto, que tenta fugir à regra na manipulação das grandes mídias. Para ele, a juventude tem um senso de grupo instintivo. Com os amigos, trocam ideias e ampliam horizontes.

O jovem pode até sofrer a influência da TV e da família, mas está na fase da contestação. Eles forçam o adulto a rever as posições, pois não são sectários. Negam o ar messiânico diante de uma tendência política e buscam sempre o novo.

Mesmo sendo facultativo, o voto é uma forma de exercer o direito, mas a cidadania ultrapassa o momento da escolha, para uma prática diária de fiscalizações e vigília dos escolhidos políticos.

A Hora – Qual é a importância do voto facultativo aos menores?
Renato Zanella – Quem faz 16 anos e vai votar pela primeira vez está em um momento especial. Quanto antes iniciarem na participação política, melhor. E isso ultrapassa a simples obrigação do voto. Devem observar de que maneira esta crise política e a condução dos fatos nacionais interferem na vida.

Como a abordagem dos meios de comunicação sobre a política influencia nos jovens que se preparam para votar pela primeira vez?
Zanella – Há jovens que prestam mais atenção a informações independentes das grandes mídias, dos grandes conglomerados da comunicação como Globo, Veja, Estadão. É preciso que busquem informações em fontes de fora do Brasil, para ter uma visão distanciada sobre o que acontece aqui. É onde a análise pode ser mais isenta.
A diferença desta geração é que eles têm a oportunidade única de buscar notícias fora dos veículos tradicionais de comunicação que servem aos interesses econômicos. Pela primeira vez, uma geração tem os meios para, a partir de um senso mais crítico, ver de maneira mais honesta a situação político-econômica.

Eles devem negar os grandes conglomerados da comunicação?
Zanella – É preciso ouvir os grandes meios de imprensa sim, mas é ainda imprescindível ter parâmetros contrários a eles. Os jovens têm de ouvir democraticamente as diversas opiniões, pois não têm o tato histórico.

Mesmo que tenham acesso à história recente do país?
Zanella – Eles têm a intuição limpa, pois são livres de preconceitos. Resistem aos enquadramentos da sociedade e buscam ainda viver o idealismo. Não sofreram as mazelas das traições da vida.

Como é o jovem idealista hoje?
Zanella – Este jovem que é ativista político está desprendido. Está menos vulnerável às amarras ardilosas da sociedade que insiste em comprar seu voto.Esta juventude que votará pela primeira vez em um dos momentos mais conturbados da história brasileira está informada. Embora ingênuos, são necessários. Podem até errar, mas por desinformação. É fácil de ver a diferença entre um jovem engajado e um desinteressado. O primeiro está na linha de frente. Ele enfrenta o poder constituído porque sabe que este vigente não funciona mais.2016_04_01_Anderson Lopes_Zanella

Como você vê o cenário político atual? 

Agora as pessoas estão vendo de forma mais clara o que está acontecendo no Brasil. Falta punição. Enquanto os políticos continuarem a se beneficiar nosso país não vai mudar. Não me manifesto no Facebook, pois acredito que não tenho muito conhecimento e irão me julgar.  

Lucas Faleiro, 18, estudante 09_AHORA


Nem tenho muito tempo, pois estudo o dia inteiro e à noite faço cursinho pré-vestibular. No momento, é o que posso fazer por mim e pelo meu país. Sei o que está acontecendo com a política brasileira. E não é de hoje.

Cláudia de Oliveira,  16, estudante 09_AHORA


Estou desacreditada na política brasileira. É o sistema que tem que mudar. Não adianta nada trocar o político e continuar tudo como está. As coisas têm que surtir efeito.

Larissa Emerich, 17, estudante09_AHORA


Vou querer votar assim que puder. Acho que todo mundo tem o direito ao voto e isso pode mudar tudo. Se a gente participar, tem que acompanhar sempre as ações dos políticos, dos projetos que eles fazem. 

Natália Baldo, 12, estudante09_AHORA


Não votei na última eleição porque não era obrigatório. Acompanho os fatos políticos pela TV e Facebook. Isto está uma vergonha, mas não é de agora, vem há muito tempo. Só agora foi exposto. Prefiro não me manifestar, nem dizer minhas opiniões na rede.  

Bruno Eckartd, 18, estudante09_AHORA

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