Moradores divergem sobre corte de árvores

Lajeado

Moradores divergem sobre corte de árvores

Sema autorizou a supressão de 18 plantas nativas e exóticas em praça do Americano

Moradores divergem sobre corte de árvores
Lajeado
oktober-2024

O barulho das motosserras modificou a rotina de moradores do bairro Americano. Funcionários da Secretaria de Agricultura (Seaab) realizavam o corte e a poda de árvores na Praça João Zart Sobrinho, chamada de “Praça do Papai Noel”. Pela licença ambiental, serão retiradas espécies de aroeira, sibipiruna, timbaúva, bolão-de-ouro, extremosa, abacateiro, álamo e grevilha.

O pedido para as podas e a supressão de algumas árvores foi protocolado em 2014 pelo presidente da Associação de Moradores do Bairro Americano (Amba), Derlei Christ. A solicitação tinha como objetivo retirar plantas mortas, debilitadas e também galhos muito baixos, cujas folhas das aroeiras estariam causando irritação e alergia a algumas crianças frequentadoras do local.

De acordo com o alvará de licenciamento para esses serviços florestais, a justificativa para o manejo de 18 árvores – sete exóticas e 11 nativas – é o “estado fitossanitário ruim” delas. Segundo o coordenador da Gestão do Meio Ambiente da Sema, Jean Todeschini Tasca, três técnicos vistoriaram toda a vegetação da Praça do Papai Noel em momentos distintos antes de concluírem pela intervenção.

Tasca salienta que muitas das árvores suprimidas durante a quinta-feira já estavam mortas. “Também foi verificado no momento do corte que algumas não estavam debilitadas, e por isso optamos por não cortá-las.” Conforme o coordenador, é possível que algumas das 18 plantas previstas na licença ambiental permaneçam no local.

Sobre o momento adequado para podas, ele admite que a Sema se antecipou ao período considerado ideal. “O correto é iniciar esses serviços em maio. Mas foi preciso fazer antes para que, até o fim do inverno, consigamos atender toda a demanda de cortes e podas solicitadas.” Com a medida, serão gerados pelo menos cinco metros cúbicos e outros oito metros estéreo de madeira.

15 árvores para cada supressão

O coordenador da Sema entende as reclamações geradas durante a quinta-feira, principalmente pelas redes sociais. “Entendemos e consideramos justas de certa forma essas reclamações. No primeiro momento, o corte pode chocar um pouco. Mas tudo tem um fundamento. Não iríamos autorizar esses cortes se não houvesse um motivo”, observa.

Tasca comenta ainda que, para cada árvore nativa cortada, 15 serão plantadas em outros ambientes da cidade, totalizando 165 mudas. “Também será feito o plantio de mudas em cada local onde houve cortes na praça”, diz. No local, a Sema pretende plantar ipê-amarelo, considerada a árvore-símbolo de Lajeado, além de sibipiruna, ipê-roxo, pitangueira, tipuana e quaresmeira.

Moradores criticam ação

Pela manhã, a jornalista Laura Peixoto, uma das idealizadoras do Projeto Arte na Praça, foi até o local tentar impedir o avanço das máquinas sobre os túneis verdes. “Quando cheguei, uma árvore já estava cortada. Não era apenas uma poda. É a cultura do cimento e do asfalto numa cidade onde todo mundo sentiu na pele os 45ºC do último verão.”

Ela demonstra surpresa com o fato de a ação ter sido solicitada pela associação. Admite não participar assiduamente dos encontros, mas diz que poucos vizinhos sabiam. “Tenho acompanhado os esforços do Darlei para o bem do bairro. Mesmo com um mínimo de moradores se fazendo presente. Por isso, me espantei quando soube que a solicitação foi do presidente.”

Laura lembra outras ações semelhantes realizadas no bairro. Entre elas, o corte de uma antiga figueira na av. Acvat, e a supressão de diversas pitangueiras na própria Praça do Papai Noel. “É inadmissível apoiar essa atitude. Percebo que plantaram árvores na praça. E dizem que vão plantar mais. Mas quantos anos vamos esperar para termos sombra”, questiona.

Outra moradora do bairro Americano, a empresária Thássia Cobalchini, demonstra surpresa com o pedido em nome do associação de moradores. Garante não ter sido consultada. “Confesso que desconheço essa Amba. E quem conheço no bairro também não foi consultaada. Acho que 90% do pessoal do bairro desconhece a associação.”

Thássia mora no bairro faz 28 anos – 20 deles na rua Duque de Caxias e o restante na av. Alberto Pasqualini – e lamenta os recorrentes cortes de vegetação considerados desproporcionais naquela região da cidade. A reportagem ligou para o presidente da Amba, responsável por protocolar o pedido, mas Christ não atendeu.

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“É compreensível a indignação, mas é necessário dizer que as árvores em questão devem ser substituídas por estarem debilitadas. Na eminência de haver um risco de queda e para evitar mal maior, o corte foi liberado. Já houve casos de árvores caídas no Parque dos Dick e também em ruas, como na Bento Gonçalves, que atingiu automóvel estacionado. O corte, devidamente autorizado, não é aleatório, devendo ser compensado com o plantio de outras 210 árvores.”
Vice-prefeito, Vilson Jacques
“Em Encantado foram cortadas quase todas as plantas da rua Mons. Scalabrini quando o asfalto foi feito. Até hoje, quase dez anos depois, não há árvores fortes ou que aguentem muito tempo no local.”
Renata Agostini, jornalista
“Uns pedem. Mas alguém do poder público precisa endossar. Lamentável o que fizeram. Falta só terem derrubado o ipê que plantei quando tinha 8 anos de idade.”
Fábio Kraemer, publicitário

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em Ambiente e Desenvolvimento

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