As análises das amostras para atestar a qualidade do leite industrializado estão interrompidas desde novembro, no Unianálises, da Univates, em Lajeado.
Conforme o diretor administrativo do Tecnovates, parque tecnológico onde ficam os laboratórios, Eloni José Salvi, em setembro do ano passado, os fiscais do Ministério da Agricultura iniciaram uma auditoria comum na estrutura.
De 1,5 mil itens avaliados, foram encontradas 21 inconformidades, número considerado normal. Em outras épocas, as análises quantitativas, biológicas, físicas e químicas do leite eram mantidas enquanto o laboratório providenciava as medidas corretivas.
“Tínhamos 30 dias para fazer as correções, no entanto, agora decidiram suspender o credenciamento antes do prazo terminar, dia 12 de novembro. Nenhuma das divergências apontadas estava diretamente ligada ao leite.”
Com essa medida, apenas é permitido fazer as análises quantitativas, por exemplo, avaliar os teores de gordura e células somáticas da matéria-prima. Em funcionamento desde 1994, é a primeira vez que o Mapa suspendeu o trabalho no local.
Segundo Salvi, as correções foram feitas e estão sendo verificadas por técnicos federais. Uma nova vistoria será agendada e, caso todas as correções estiverem adequadas, o credenciamento poderá ser liberado. “Pode demorar entre 60 e 180 dias. Nós garantimos o que fazemos e eles decidem se nos credenciam.”
Além da Unianálises, o laboratório da Alac, de Garibaldi, especialista na área do leite, está com os trabalhos suspensos. Para conseguirem atestar a qualidade da matéria-prima e atender as exigências da lei, as empresas e cooperativas são obrigadas a enviar as amostras para outros estados. “Mantemos o serviço, mas não podemos emitir laudo oficial.”
Nos últimos meses, de 600 laboratórios credenciados para fazer as análises na área do leite no país, mais de 400 tiveram as atividades interrompidas. “Estão mais rigorosos após as fraudes descobertas. Eles nos credenciam e quando quiserem nos descredenciam, esta é a lógica. Nós aceitamos, fazemos o que tem que ser feito e eles dizem se concordam ou não.”
As análises feitas para o Mapa representam apenas 30% do montante realizado pelos laboratórios do Centro Universitário. Por ano, são realizadas 500 mil análises no local.
Divergências entre os órgãos
O trabalho é prejudicado, conforme Salvi, pelas divergências que existem entre os próprios órgãos aos quais os laboratórios prestam serviço. “O que para um está correto, para outro é incorreto. Nada interfere no resultado final, mas, na maioria das vezes, uma coisa não está de acordo com as conformidades exigidas pelo outro e aí quem precisa se adaptar somos nós.”
Para Salvi, cada órgão fiscalizador tem razão e os laboratórios agem em nome deles. “Somos prestadores de serviços e precisamos nos adaptar às exigências que são impostas por cada entidade. Nós adotamos as melhores práticas existentes no mercado. Cabe ao órgão público dizer se nos autorizam em agir no nome deles ou não. Seguimos todos os procedimentos recomendados exigidos para cada tipo de análise.”
Qualidade comprometida
O promotor Mauro Rockembach, responsável pela parte criminal da Operação Leite Compen$ado, diz que o órgão tem dificuldade em atestar a qualidade do leite no estado. Cita que o laboratório da Univates era o único oficial credenciado pelo Mapa no estado.
Entende que as amostras poderiam ser encaminhadas para a Lanagro (ligada ao Ministério), mas a capacidade de atender essa demanda é inferior à estrutura física.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura não se manifestou.