Conhecer mais a cultura brasileira e fazer apresentações artísticas foram objetivos de um grupo de dez italianos. Nos últimos 16 dias, eles visitaram o Vale do Taquari e se encantaram com a hospitalidade e os pontos turísticos.
“A população daqui é muito mais acolhedora que a italiana,” percebe o líder do grupo, Mauricio Meneguz, 72. Durante o período na região, eles pernoitaram nas casas de cinco casais: Divina e Canísio Beuren, Claudino e Nelci Gottardi, José e Teresa Ferabolli, João Carlos e Lovani Ranzi, Maria Olenira e Lodevino Parisotto.
Outro ponto enaltecido por Meneguz foi a beleza natural do Vale do Taquari. “Lá na Itália há pouca natureza, bem diferente daqui.” O italiano destaca as cachoeiras que conheceu em Ilópolis, Doutor Ricardo e Anta Gorda.
Os visitantes fazem parte do grupo artístico Riodarioi, da província italiana de Treviso. Além de conhecer a cultura brasileira, também se apresentaram em sete cidades. Um dos eventos ocorreu na paróquia do bairro Moinhos, em Lajeado, com a presença de cerca de 300 pessoas.
Nessa quinta-feira à tarde, o passeio chegou ao fim com um café da tarde na Padaria Suíça. Os italianos aproveitaram para se despedir e tirar a última foto da viagem. “Fomos tradados como irmãos aqui,” destaca Matteo Caoduro, 20.
O intercâmbio foi organizado com o apoio do Associação Veneta do Vale do Taquari (Avevat) – entidade com 124 associados. Conforme uma das representantes, Jandira Ferri, 62, o objetivo das atividades é promover a troca de cultura e manutenção das tradições dos antepassados. Ela prevê uma viagem dos filiados da Avevat para a Itália no próximo ano.
Trajetória da imigração
Os primeiros colonos italianos chegaram no RS em 1876. Se estabeleceram na região onde hoje fica Caxias do Sul e foram se espalhando pelas encostas da serra. Em 2016, a chegada das primeiras famílias ao estado completa 140 anos.
De acordo com o historiador João Timótheo Machado, diferente de alemães, que chegaram em 1822 e, na maioria dos casos, vieram devido à perseguição religiosa, os italianos fugiam da fome e da redução do território em consequência da guerra.
O RS teve três levas de imigração. Os primeiros foram os luso- açorianos, que ocuparam regiões planas, partindo de Porto Alegre para o sul e centro do estado. Em seguida, os alemães se assentaram em territórios próximos à margens de rios. Por fim, chegaram os italianos.
A língua falada era o veneto, originária do latim, assim como o português. Isso facilitou a adaptação. Segundo Machado, eles começaram cultivando áreas pequenas. “Trouxeram conceitos de cooperativas, de agricultura familiar. A vitivinicultura (produção de uva e de vinho), também o queijo e as massas”, ressalta.
Em média dez anos depois das primeiras famílias chegarem em Caxias do Sul, começou a povoação da região alta do Vale do Taquari. As famílias se fixaram em localidades onde hoje se encontram os municípios de Arvorezinha, Encantado, Roca Sales, entre outros.
Foram responsáveis por trazer e disseminar atividades como a carpintaria e a tonelaria. Também foram pioneiros no campo artístico, proporcionando contribuições para o desenvolvimento musical da cultura local. “A gaita é um dos exemplos de algo que foi trazido por esse povo”, comenta Machado.
Por ter como um dos principais valores que compõem a identidade coletiva da etnia o apego à família, os italianos também se destacaram. “Ter os domingos dedicados a ir para a casa da nona é algo que veio com os italianos.” Outra valor que foi trazido da Itália é a religiosidade, sendo a maioria católica.
A chegada foi de muito trabalho, derrubaram matas, abriram a picão os terrenos. Com as pedras retiradas de áreas onde plantariam parreirais e lavouras, construíam casas.
Casais italianos aprovaram estadia e realçaram a hospitalidade gaúcha
