A luta por uma vida normal

Lajeado

A luta por uma vida normal

Cristiano Labres, 29, nasceu com problemas de coordenação motora. Herança de um parto trágico. Familiares ouviram dos médicos que ele nunca poderia caminhar. Superou o prognóstico negativo e fez mais. Além de dar os primeiros passos aos 9 anos, se graduou faixa preta de karatê, ganhou status de bom atleta na Apae e comemora dois anos no primeiro emprego.

A luta por uma vida normal
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No dia do nascimento de Cristiano, a mãe, Olga Amaral, teve um acidente vascular encefálico e morreu. Sem mãe e com um pai ausente, desconhecido até hoje, foi adotado pela tia Maria e se tornou parte da família Labres.

O parto trágico rendeu uma herança cruel a Cristiano. Faltou oxigênio ao cérebro do recém-nascido. As sequelas foram drásticas. Perdeu toda a coordenação no lado direito do corpo e teve a habilidade da fala prejudicada.

Tinha movimentos involuntários e torções nas extremidades do corpo. “Ele nasceu com diversos problemas. Era todo torto”, lembra o pai adotivo, Luiz.

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A nova família o levou a vários médicos da região. Com 3 meses, Cristiano fez a primeira de uma série de cirurgias. Após, veio a dura sentença: “Ele nunca vai caminhar”, disse o cirurgião. “Só que Deus é maior”, acreditava Maria.

Sem perder a esperança, a tia que virou mãe o levou quando tinha 2 anos para fazer fisioterapia na Apae. A profissional que lhe atendeu foi Magali Grave. “Quando conheci o Cris, ele não conseguia se sentar sem apoio”, relembra.

Magali inibiu padrões anormais de postura e incentivou aprendizagem de novas habilidades funcionais. Técnica conhecida como conceito bobath. “Mesmo que devagar, Cris foi evoluindo. Conseguiu sentar, começou a engatinhar de joelhos e ficar em pé com apoio.”

Depois disso, o desafio era fazê-lo dar os primeiros passos. Cristiano caía de costas. Várias tentativas frustradas e muitos hematomas na cabeça. “Precisávamos alterar o centro de gravidade para que ele caísse para a frente,” conta Magali.

Depois de sete anos de fisioterapia, objetivo alcançado. Era questão de tempo até Cristiano contrariar o prognóstico médico.

Primeiros passos aos 9 anos

Como de costume, no mês de agosto de 1995, a família Labres participou da tradicional confraternização da Apomedil (empresa onde o pai trabalhava), na sede esportiva de Picada Flor, em Marques de Souza.

Durante uma brincadeira com os colegas do pai, Cristiano surpreendeu a todos ao se levantar e dar os primeiros passos. “Ele se apoiou no muro e começou a andar. As pessoas ficaram preocupadas, pois parecia que ele iria cair,” lembra a mãe. Cristiano não caiu. Deu voltas no campo e emocionou os familiares. “Desde lá, não parou mais quieto”, comemora Maria.

Com a nova habilidade, começou a participar das competições da Apae. Destacou-se no arremesso de peso e quase se classificou para o campeonato brasileiro da modalidade. “Fui junto assistir à prova. Ele acabou se atrapalhando e perdeu por poucos centímetros”, conta Luiz.

Cristiano também jogava voleibol, praticava natação e ficou com fama de bom goleiro no futsal. “Todo lugar que ele ia, ele ganhava algum prêmio,” enfatiza o pai orgulhoso. No quarto, ostenta as 53 medalhas conquistadas nos oito anos como atleta.

Além disso, guarda as lembranças de ter passado por vários municípios do RS. “Tudo que é interior do estado ele conheceu. É um cara viajado,” sustenta Luiz.

Faixa preta

Em 1996, a família Labres morava ao lado da sede do Projeto Vida do bairro São José. A convite do sansei Ildo Salvi, Cristiano começou a participar das atividades e treinar karatê. Nas primeiras aulas, era carregado para subir as escadas até o treinamento.

Com o passar dos anos, a superação de Cristiano começou a chamar a atenção na academia. “Dentro das possibilidades, ele sempre fazia o máximo e um pouco mais”, realça Salvi. As limitações fizeram o sansei criar seis katas específicos (sequências de movimentos de uma luta imaginária) ao jovem carateca.

Aos 12 anos, Cristiano chegou a usar os aprendizados. Um colega tentou pegar o relógio e acabou recebendo uma torção no braço e um chute na canela. Depois disso, ele nunca mais foi incomodado.Em setembro de 2014, após 18 anos praticando a arte marcial, ele ganhou a tão almejada faixa preta.

Foi avaliado, em Porto Alegre, por uma banca formada por examinadores da Federação Sul-Riograndense de Karatê Independente (FSKI). Para Salvi, Cristiano é um exemplo a ser seguido. “No karatê todos ensinam. E a presença do Cris é um ensinamento ímpar para nós.”

O gosto pela velocidade

Ao acompanhar o pai no trabalho, Cristiano se apaixonou por carros. Com 25 anos, participou da primeira trilha, em Fazenda Vilanova, com o grupo de jipeiros Lentos e Calmos. “Ele sempre gostou de carros e corridas. Um dia resolvemos levar ele junto,” conta o amigo e fundador do grupo, Ezequiel Marmitt.

Com o Lentos e Calmos, Cristiano percorreu as trilhas de todo o Vale do Taquari nos últimos quatro anos. Para segurança, ele utiliza um cinto quatro pontas. “Quando volta, ele está tão sujo que dá pra ver só os dentes brancos,” conta a mãe. Marmitt destaca a coragem do jovem aventureiro. “Ele não tem medo de nada. Quanto pior, melhor.”

Faz dois anos que Cristiano trabalha na manutenção de computadores no Colégio Madre Bárbara

Faz dois anos que Cristiano trabalha na manutenção de computadores no Colégio Madre Bárbara

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