Protestos ampliam pressão sobre o governo

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Protestos ampliam pressão sobre o governo

Manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff também desafiam opositores

Protestos ampliam pressão sobre o governo
Brasil
oktober-2024

Mais de três milhões de brasileiros foram às ruas nesse domingo, 13, em protesto cujo objetivo principal foi pedir pelo impeachment da presidente Dilma Roussef.

Maior de todas as quatro manifestações contrárias ao governo desde as eleições de 2014, o ato também foi marcado pelo repúdio a políticos da oposição.

O Movimento Brasil Livre (MBL) organizou uma excursão de Lajeado para integrar as ações em Porto Alegre. Na capital gaúcha, 30 representantes do grupo se integraram aos mais de cem mil manifestantes reunidos no Parque Moinhos de Vento.
“Encontramos muitas pessoas da região que foram por conta”, diz um dos coordenadores do MBL, Guilherme Cé. Segundo ele, o protesto desse domingo serviu para mostrar a intenção de combater a corrupção independente de opções partidárias.

“Foi um recado de que não é por A ou B, e sim por ideias. Alguns políticos tentaram surfar na onda para se tornarem heróis anti-PT, mas foram questionados”, ressalta. Cita como exemplo as vaias que fizeram Aécio Neves e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, se retirarem dos protestos de São Paulo.

“Em Porto Alegre o Nelson Marchezan Jr (PSDB), que sempre participou sem represálias, também foi vaiado”, aponta. Para ele, o recado das ruas é claro e não poupará nenhum político envolvido em casos de corrupção. Diante das proporções dos atos em todo o Brasil, o representante do MBL considera que o momento entrará para a história, ao lado dos atos pelas Diretas Já.

“O tamanho surpreendeu muita gente, demonstra a força do povo e a insatisfação que tomou conta do país.” Caso a reivindicação pelo fim do mandato de Dilma se concretize, Cé avalia que nenhum dos possíveis condenados pela Lava-Jato terão legitimidade para assumir o cargo. Entre os citados na investigação, estão o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. Todos integram o PMDB e fazem parte da linha de sucessão ao governo.

Mesmo assim, diante da falta de governabilidade da atual gestão defende o impeachment como forma de solucionar a crise. Para ele, uma destituição legal de Dilma traria menos instabilidade ao cenário político.

“Temos o bom exemplo do caso Collor. Diziam que seria o caos e tivemos um governo de coalizão que, mesmo longe de ser perfeito, deu origem ao Plano Real”, afirma. Considera o plano econômico como a maior conquista do Brasil, devido às mudanças profundas e permanentes criadas pela medida.

Apoio ao governo

Porto Alegre foi a única capital brasileira a realizar ato em apoio ao governo. Mais de cinco mil pessoas integraram a manifestação em defesa de Dilma e do ex-presidente Lula no Parque da Redenção. Do diretório do PT de Lajeado, 25 pessoas participaram de excursão à capital.

Para o presidente do PT local, Ricardo Ewald, apesar da distância entre as duas manifestações, o fato de não haver nenhum registro de incidentes entre militantes pró e contra o governo é uma demonstração de civilidade.

“São dois lados que não serão convencidos um pelo outro. O fato de não ter ocorrido nenhuma rusga mostra que a coexistência é possível”, relata. Ewald considera positivo o fato de políticos da oposição também terem sido rechaçados nas manifestações contra o governo, algo que não ocorreu em protestos anteriores.

Para ele, as pessoas começam a despertar para o fato de a corrupção da Petrobrás ter iniciado muito antes do início dos governos petistas. “Os diretores envolvidos estão faz pelo menos 20 anos no comando da estatal.” Ewald diz não acreditar em impeachment. Alega que o processo liderado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não tem legitimidade porque o parlamentar é, até agora, o único réu da Operação Lava-jato. “Vão colocar quem? O Temer que também é investigado?”

Apesar disso, o petista teme a condenação de todos os políticos por parte da população. Lembra que haverá eleições municipais em 2016, quando deverão ser escolhidos novos representantes para o comando dos municípios. “Toda a mídia faz força, dizendo que nenhum presta. Isso é ruim, porque esvazia o debate e abre margens para aventureiros.”

Cita como exemplo o crescimento de figuras como Donald Trump nos Estados Unidos e do ex-premier italiano Sílvio Berlusconi, cujo avanço ocorreu em meio a discursos despolitizados e de agrado ao senso comum.  “As pessoas têm que entender que os partidos e os políticos são necessários no cenário democrático”, alerta. Por fim, questiona o dinheiro investido nas manifestações pró-impeachment. Segundo ele, a estrutura montada em todas as capitais foi financiada por pessoas com interesses diversos.

Coalizão

Senadores de diversas esferas partidárias estão por trás de projeto que pode mudar todo o regime político. Está prevista para esta semana a instalação da comissão que discutirá a implantação do parlamentarismo no país. Amanhã o tema será discutido no Supremo Tribunal Federal.

A articulação em torno da proposta é liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Na semana passada, o pemedebista comandou reuniões com o ex-presidente Lula e também com senadores do PSDB.

Para Ricardo Ewald, a proposta é temerária. “O que está por trás disso tudo é complexo. A estratégia é semelhante ao que fizeram antes do golpe contra Jango, em 64”, relata. Para Guilherme Cé, apesar do parlamentarismo representar uma boa opção, qualquer mudança deve seguir os trâmites legais. “Não podemos mudar as regras no meio do jogo.”

Diretório de Lajeado participou de ato em apoio à Dilma e ao ex-presidente Lula

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