Após 15 passagens pela polícia em dez anos, sendo nove por posse de drogas, Cristian Gabriel Dienstmann entrou no prédio da Farmácias Associadas com uma faca, cuja lâmina media dez centímetros, e rendeu três funcionárias.
Após reação de policiais da BM à paisana, o corpo de “Amarelo”, como ele era conhecido, saiu de lá dentro de um caixão. Conforme o Boletim da Ocorrência (BO) registrado na Polícia Civil (PC), os dois policiais estavam em uma lotérica ao lado da farmácia no momento do assalto, e teriam percebido uma mulher relatando o fato por telefone durante uma ligação para o 190. Um deles se identificou e pediu detalhes.
Após estarem cientes de que um assalto estava ocorrendo dentro da farmácia, ambos entraram no estabelecimento. Segundo o BO, eles afirmaram que não havia ninguém no setor de atendimento e tampouco na área de exposição dos produtos. Os policiais avançaram para os fundos da sala comercial, instalada na rua Júlio de Castilhos, entre as ruas João Batista de Melo e Francisco Oscar Karnal.
Foi nesse momento que uma das funcionárias saiu correndo da área interna e se assustou ao cruzar com os dois policiais. Após se identificarem, eles pediram para que ela reforçasse os telefonemas à BM, para solicitar reforço. Nesse momento, foram informados de que uma mulher grávida de seis meses estava como refém.
Os dois seguiram para a área administrativa da farmácia, passando por um estreito corredor. Eles verificaram o interior de uma pequena sala, que estava vazia. No segundo ambiente, um deles percebeu que um homem se escondia entre o marco da porta e a parede. Era o assaltante.
Ambos recuaram após perceberem o suspeito. De acordo com o BO, eles alertaram que eram policiais militares, e pediram para Amarelo deixar a sala “rastejando, deitado”, pois ele estava “cercado”. A voz de comando teria sido repetida três vezes, sem qualquer resposta por parte do assaltante.
Logo após a terceira tentativa, ainda segundo o BO, o criminoso teria saído correndo do interior da sala, “empunhando uma faca tipo punhal com o braço esticado na altura do peito em direção aos agentes”. Um dos policiais então disparou duas vezes. O colega da mesma forma. O assaltante então tombou diante deles com três tiros no tórax. A faca caiu um pouco à frente do corpo.
Por fim, está transcrito na ocorrência que a equipe do Samu confirmou a morte de Amarelo e, logo após a chegada do reforço da BM, foram feitas buscas no interior do prédio e nada de anormal foi encontrado. Segundo os policiais, que afirmaram desconhecer o assaltante de antemão, os tiros foram “em legítima defesa, pois o indivíduo não obedeceu a ordem policial e vinha em direção a eles com faca em punho.”
“Ele entrou muito nervoso”
Uma das atendentes passou mal e teve de ser emparada por amigos. Ela conta que o assaltante não chegou a tocá-las, só ameaçou com a faca perguntando sobre o dinheiro. “Foi muito rápido. Ele entrou nervoso e logo mandou a gente ir para trás do balcão, em busca do dinheiro. Minha colega grávida conseguiu fugir e chamou a polícia.”
Outra testemunha estava passando na frente da farmácia quando ouviu os disparos. Não pensou se tratar de tiros. Foi quando um senhor que estava próximo lhe avisou para sair dali, pois estavam diante de um assalto. “Não fazia ideia que fosse tiro. Então, entrei na lotérica e fiquei na fila para fazer um depósito. Logo depois, entrou um rapaz que estava na frente na hora dos tiros. Ele parecia nervoso. Depois voltou para frente da farmácia e ficou ali até ser chamado pela polícia.”
Segundo testemunhas, o mesmo sujeito estava na frente do comércio, mas não entrava até que os policiais entraram. Depois disso, ele foi para o lotérica ao lado. De acordo com um segurança privado, ele não esboçou reação ao ouvir os disparos. Só foi até o canto da loja, depois voltou e entrou na fila. “Ficou disfarçando, depois foi para frente e ficava olhando lá pra dentro até ser interrogado pela polícia.”
“A droga levou ele a esse fim”
Aos poucos, pessoas que conheciam Amarelo começaram a chegar ao local. Segundo um amigo próximo, o morto era uma pessoa tranquila e de bem com a família. “A droga levou ele para esse fim.” Os conhecidos do rapaz ficaram revoltados com a forma como a polícia agiu. “Ele não iria machucar ninguém, não é disso. Atiraram para matar. Não para repreender”, comenta um rapaz.
Ao chegar no local do crime, a irmã do criminoso ficou abalada. Ela conta que não falava com ele há dias. “Tava fumando crack e não conseguia parar. Queria, mas não conseguia.” Segundo uma vizinha dele, que morava próxima da casa do assaltante, no bairro Santo Antônio, ele já havia passado por duas clínicas de recuperação, sem sucesso. “Não era um cara violento.”
Segundo a delegada Márcia Scherer, em uma análise inicial, os policiais agiram conforme as orientações para esse tipo de situação. As marcas das balas estavam pelas paredes. A PC investigará as circunstâncias. O corpo só foi retirado do local após quatro horas de espera pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) e pelo furgão da funerária que o levaria até o IML.
Violência assusta
No aglomerado de curiosos formado na frente da farmácia, os julgamentos e as especulações sobre o ocorrido eram os assuntos. Naquelas redondezas, pelo menos dois estabelecimentos foram assaltados na semana passada. Houve também tentativas de arrombamentos em outros pontos comerciais próximos.
Ontem, em frente ao local durante a perícia ouviam-se também relatos de quem também havia passado por situações semelhantes. Uma senhora assistia a tudo com uma filha. Estava perplexa. Ela passava na frente da farmácia quando chegaram as primeiras viaturas da BM.
A cena lhe fez lembrar do que passou há um mês, em casa. Ela foi assaltada duas vezes pela mesma pessoa, que foi presa e liberada. “Era um usuário de drogas, que ficava com sua turma em uma casa abandonada ao lado da minha.”
Ela conta que a primeira a ver o assaltante dentro de casa foi a filha de 7 anos. Depois que a polícia chegou e conseguiu prender o ladrão, os objetos furtados foram recuperados. “Estava dando depoimento quando o cara foi liberado.” Na segunda vez, não teve a mesma sorte. Os dois celulares, notebooks e dinheiro foram roubados.