Página incentiva rachas de motocicleta

Vale do Taquari

Página incentiva rachas de motocicleta

Com mais de 8,9 mil curtidas, endereço exibe fotos e vídeos de crimes no trânsito

Página incentiva rachas de motocicleta
Vale do Taquari
oktober-2024

Crime de trânsito punível com prisão, a disputa entre veículos se tornou comum na BR-386.

Testemunhado aos fins de semana por motoristas e moradores das proximidades, os rachas entre motociclistas recebe o incentivo de uma página no Facebook.

Intitulado “BR-386 dus racha”, o endereço foi criado em 2014 e exibe fotos e vídeos de manobras arriscadas, motos preparadas para corridas e veículos em alta velocidade. Até o fim da tarde de ontem, 8.982 pessoas haviam curtido a página.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem conhecimento do site e realiza ações de fiscalização para tentar evitar a prática. Na sexta-feira, 4, um jovem de 22 anos foi detido após ser flagrado disputando corrida próximo à fábrica da Fruki.

No mesmo dia, um grupo de quatro motociclistas foi parado pela PRF no Km 358 da rodovia, em Bom Retiro do Sul. Um dos condutores tentou fugir e foi detido. O jovem, de 17 anos, não tinha idade para habilitação e conduzia uma moto com licenciamento vencido. Na carona, estava uma adolescente de 16 anos.

Chefe-substituto da PRF, Roberto Stein, afirma que a corporação realiza ações de combate ao crime nas sexta-feiras e sábados à noite. “Infelizmente não conseguimos ser muito eficientes, até pela ausência de efetivo.”

Conforme Stein, boa parte dos motociclistas flagrados é encaminhada para a Delegacia de Polícia, mas acaba liberada após o registro. Ele se disse impressionado com o número de seguidores da página na internet e assegurou que a PRF montará uma linha de ação específica para averiguar os casos.

Cenas corriqueiras

De acordo com um frentista de posto de gasolina às margens da BR-386, em Lajeado, os rachas envolvendo motos fazem parte da rotina da região. Segundo ele, os motociclistas costumam se reunir em frente ao prédio onde ficava uma revenda de automóveis antes de iniciar as corridas.

“Qualquer um que ficar parado a partir das 23h de sexta-feira ou do sábado pode ver a movimentação”, alega. Conforme o frentista, o local permite avistar os carros da PRF de grandes distâncias. Quando isso ocorre, afirma, o grupo costuma esconder os veículos em terrenos ao redor da rodovia ou fugir em direção a Lajeado.

Outro frentista, morador de Bom Retiro do Sul, relata ter testemunhado veículos andando em alta velocidade na contramão e motos fazendo ultrapassagens à noite com o farol desligado. “A gente não vê eles se aproximando. É um perigo.”

Na opinião de um motociclista, os rachas são realizados na rodovia por falta de lugares adequados para a prática. Segundo ele, em Fazenda Vilanova existe uma pista para isso e ninguém realiza ‘pegas’ na BR-386. “Existem várias oficinas especializadas em preparar motos para corridas na região. Deveria ter um autódromo, pois a velocidade pode ser um esporte”, defende.

De acordo com o motociclista, jovens de 18 a 26 anos se deslocaram para a rodovia devido à recente proibição do estacionamentos em ruas usadas como ponto de encontro. Para ele, o aumento dos rachas é reflexo dessa mudança.

Outros casos

Em maio do ano passado, vídeos de motociclistas praticando rachas e fazendo manobras arriscadas em Teutônia e Fazenda Vilanova motivaram reação das autoridades. Publicadas no Facebook, as imagens resultaram denúncia da Brigada Militar, encaminhada ao Ministério Público.

Dois vídeos foram gravados na ERS-128 e um terceiro em estrada vicinal da região. Quatro suspeitos e seus veículos foram identificados na denúncia. A promotoria determinou a abertura de inquérito na Polícia Civil para apurar o caso.

Crime de Trânsito

Em novembro de 2014, o chamado “pega” teve a pena ampliada no Código de Trânsito. A pena para o crime é de prisão por seis meses a três anos além de multa de R$ 1.915,40. O valor pode ser dobrado em caso de reincidência.

Caso as competições nas ruas resultem lesões, a pena para quem promoveu o racha varia de três a seis anos de prisão. Se ocasionar mortes, sobe para cinco a 10 anos. Nesse último caso, o condenado inicia a pena em regime fechado.

As mortes resultantes de corridas ilegais também são consideradas homicídios dolosos, conforme a legislação criminal. A pena vai de seis a 20 anos de detenção.

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