Volta ao mundo: sonho e profissão

Comportamento

Volta ao mundo: sonho e profissão

Natural do Vale do Taquari, Neura Rambo hoje viaja o globo e tem residência fixa em Dubai. A funcionária da Emirates Airlines enfrentou percalços até concretizar o anseio de infância

Volta ao mundo: sonho e profissão

Unir o trabalho com lazer é o objetivo de muitos. Meninos sonham em ser jogador de futebol, meninas, modelo, atriz ou cantora. Para Neura Rambo, nascida no interior de Forquetinha, a profissão estava definida desde a infância: comissária de bordo.

Quando menina, ao ver um avião no céu, imaginava como seria estar a bordo. Quem estaria lá em cima? O que estariam fazendo? A curiosidade a levou a conhecer a profissão de aeromoça.
Depois de fazer o curso e tentar sete vezes passar no processo seletivo da empresa Emirates Airlines, uma das maiores do mundo, foi admitida no início do ano passado. Hoje, a moradora de Dubai já visitou diversos países, combinando a profissão com a vontade de conhecer o mundo.

Em 2009, quase alcançou o objetivo. Com os documentos em mãos para um intercâmbio, a passagem de ida para Alemanha estava comprada. Na última hora, o medo de enfrentar uma nova realidade a fez recuar. “Acabei desistindo, não era para ser.”

Na mesma época, foi chamada para trabalhar como professora de Educação Infantil. Mal sabia que seria um “degrau” importante do caminho. O sonho estava ainda bem guardado dentro de si, mas por ter conquistado emprego estável se sentia dividida. “Talvez fosse hora de aceitar meu destino.”

Mas um acontecimento despertou de vez a verdadeira vocação. Neura era sempre a primeira professora a pegar o jornal pela manhã. Em certa ocasião, leu sobre uma comissária de bordo lajeadense. A moça contava sua história e o caminho trilhado para chegar até os Emirados Árabes. “Eu pensei: é hoje”, recorda.

Sacrifícios necessários

A primeira pessoa procurada por Neura depois de sua grande decisão foi a mãe. “Eu disse que finalmente seguiria meu sonho.” Ao contrário do que esperava, a mãe deu-lhe apoio, mas pediu que pensasse bem. Em seguida, Neura pediu demissão.

A formação na Escola de Aviação Salgado Filho, no fim de 2011, foi o próximo passo. De família humilde, Neura precisava trabalhar em três empregos para manter o estudo. “Eu trabalhava 18 horas por dia, de segunda a segunda.”

Quando chegou ao local pela primeira vez, viu propagandas de empresas do Oriente Médio que buscavam comissários de bordo brasileiros. Ao avistar a da empresa Emirates, Neura sentiu uma “energia” inexplicável.
Em janeiro de 2012, os relatos de um professor que viajara aos Emirados Àrabes atiçaram a curiosidade e imaginação de Neura. Estava decidida a concretizar o sonho, mas o inglês continuava sendo o maior empecilho.

Prestes a completar 27 anos, Neura decidiu sair do Brasil. “Resolvi investir em um intercâmbio, dessa vez para Dublin, na Irlanda.” Lá, foi contratada para trabalhar como babá em virtude da experiência como professora de Educação Infantil.

Sua estadia em Dublin durou quase quatro anos. Desde o começo, ela sabia que o desafio seria grande. “Não foi fácil, mas eu sempre pensava no dia de amanhã.” Em um ano, Neura conseguia entender o inglês e em dois falava quase perfeitamente. Era hora de participar da seleção da Emirates Airlines.

Tentativas, erros  e acertos

Para ser contratada pela companhia, Neura participou de sete processos seletivos. “Não me via trabalhando em outro lugar.” No primeiro teste, reprovou na penúltima etapa. Tudo porque fez uma brincadeira e a recrutadora não gostou. “Reconheci o erro e não o repetiria da próxima vez.” O problema foi que, nas três vezes seguintes, era a mesma profissional e Neura continuou sendo reprovada.

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A quinta tentativa ocorreu na Inglaterra, também sem sucesso. Na sexta tentativa, no fim de 2014, em Dublin, a recrutadora ainda era a mesma. “Lembro como se fosse hoje. Cerca de 300 pessoas estavam concorrendo às vagas.”

A peneira começava analisando o perfil e o currículo do profissional. Naquele dia, Neura passou por todo o processo, com o teste de inglês deixado para o final. Por já ter feito essa parte processo, conhecia bem a prova de número 6, justo a recebida naquele dia. “Quando ela colocou a prova na minha frente, eu me vi na empresa.”

Porém, o nervosismo tomou conta. “Não conseguia nem ler as palavras da página.” O tempo da prova acabou e Neura não respondeu nenhuma questão. Antes de se retirar, a recrutadora ainda lhe disse algumas palavras de apoio. “Ela contou que nunca na carreira dela havia visto uma pessoa tentar tanto quanto eu.”

Na volta para casa, ainda no ônibus, pesquisou no celular o local da seleção seguinte. “Independente do país da Europa, eu iria.” A próxima seleção seria na semana seguinte, no norte da Irlanda, em Belfast, e Neura decidiu que estaria lá. No dia do teste, levantou às 4h para viajar. “Alguma coisa me dizia que aquele seria o meu dia.”
Apesar de ter pego um teste de inglês desconhecido, se saiu bem. “Tudo devido ao meu esforço nos estudos nesses quatro anos morando em Dublin.”

Em cinco semanas, recebeu a notícia da aprovação. Só restava esperar pelas vagas nas turmas de treinamento. Esse durou dois meses. “Foi muito difícil. Era preciso estudar com afinco para os testes da empresa.”

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