Mercado editorial força ação conjunta

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Mercado editorial força ação conjunta

O grupo Escritores Independentes quer ir além da venda de livros para promover rodas de debate sobre a escrita e popularizar a literatura na região

Mercado editorial força ação conjunta
Vale do Taquari

O sonho de ter livro publicado por uma editora está distante para muitos escritores. Alguns desistem na metade da empreitada. Outros nem tentam. Mas com a facilidade das plataformas digitais e a maior aceitação de gráficas o cenário muda. Apesar de não ser novidade, o viés que permite autonomia e relação mais próxima com os leitores ganha força no Vale do Taquari.

A publicação autônoma foi o que uniu o grupo Escritores Independentes, integrado por Laura Peixoto, Meire Brod, Aline Lenz, Jandiro Adriano Koch, Augusto Darde, Álvaro Santi e Maiquel Rohrig. “Em conjunto, a iniciativa fica mais coesa”, opina Laura. Para Koch, os autores se fortalecem quando estão em grupo.

Segundo Meire, não é do conhecimento comum o funcionamento editorial. “Eu mesma, quando fiz meu livro, tinha uma ideia muito romântica de como seria.” Muitos pensam que basta enviar o manuscrito original para várias editoras, ser aceito e publicado. “Não é assim, você precisa batalhar muito.”

O evento mensal Arte na Praça é aliado do grupo, conta. A resposta do público sempre é positiva. “Depois da Feira do Livro de Porto Alegre, lá foi onde mais vendi meu livro.” O trabalho próximo aos leitores é de extrema importância. O Facebook também é ferramenta que ajuda a tornar o escritor mais acessível. “Com o contato, é possível receber feedback valioso dos leitores”, comenta Koch.

Ao entrar no grupo a convite de Laura Peixoto, ele passou a descobrir e ler mais autores regionais independentes. “Há pouco tempo, havia preconceito com autores independentes pois não conseguiam editoras comerciais para se divulgarem.” Mas muitos escritores renomados pagaram suas primeiras edições, lembra.

Aline percebeu que, o público gosta de conhecer o autor quando compra a obra. “Eles se interessam, perguntam e têm o autor como figura de importância.” O grupo ainda consegue fazer preço mais barato, pois retira o lucro que uma empresa teria em cima do livro. Mesmo assim, muitos ainda disponibilizam suas obras em livrarias, pela importância de locais destinados ao segmento.

Segundo Darde, o grupo quer ir além promovendo rodas de conversa para debater o ato de escrever no Vale do Taquari. “Dessa forma, crescemos entre a gente”, diz Koch. Para Meire, a literatura não consiste somente em colocar o livro à venda. É preciso produzir a vontade de se ler. “Isso se conquista aos poucos.”

Escritores nas escolas

Durante a Feira do Livro de Lajeado do ano passado, surgiu a ideia de criar um projeto de financiamento coletivo. Consiste no lançamento de um livro para o público infantil com turnês pelas escolas. Dessa forma, cada autor poderia explorar suas habilidades fora da literatura. “A intenção é realizar oficinas de arte, teatro e música.”

A ideia surgiu ao perceberem que seus livros despertavam o interesse dos pequenos. “Mas os responsáveis não criavam maior incentivo, por não serem livros infantis.” Para Meire, o livro deve incitar a exploração da literatura. Depois, se decide se é do entendimento da criança ou não. “No projeto, queremos abordar isso, sem subestimar a inteligência infantil.”

Jovens leitores

No topo dos livros mais vendidos, é comum ver obras destinadas ao público infanto-juvenil. Segundo Meire, isso acontece pois esse filão editorial realizou uma “gameficação” dos livros. Apesar de terem enredo, as obras são como jogos de videogame. “Para o jovem acostumado ao jogos, é fácil se interessar por um livro que proporcione quase a mesma experiência.”

Além de escrever, Aline trabalha na biblioteca de uma escola. Os romances infanto-juvenis mais emprestados no local tratam de amor platônico. “Acho que é uma contrapartida da realidade vivida pelos jovens hoje. É uma freada nos relacionamentos.” Na literatura, eles conseguem viver um romantismo diferente da vida real, opina.

Segundo Meire, é importante tentar disponibilizar livros de autores regionais no meio escolar. Para Aline, isso cria identificação. “Eles conseguem se imaginar no local descrito na história.” É uma forma de o leitor imergir na história mais facilmente, opina.

Objetivo possível

Segundo Koch, os escritores do Vale do Taquari aos poucos criam a consciência de que hoje é mais fácil escrever e ser publicado. Basta procurar outros caminhos, diz. “Antes era uma atividade elitizada, mas esse cenário muda.” É comum ver publicação de memórias e experiências. No futuro, em um apanhado histórico, esses registros serão importantes para se ter referências sobre a região, diz Koch.

No caso de Darde, seu livro foi publicado por meio de financiamento coletivo. Além da facilidade da internet, agora há mais abertura de editoras e gráficas, opina. Antes, esses profissionais pensavam não valer a pena realizar baixa tiragem de livros. Mas com o crescimento no número de escritores independentes cria-se a demanda.

Para Meire, nunca foi tão fácil publicar livros como agora. “Mesmo que seja necessário filtrar o conteúdo, é melhor ter mais oferta de livros a não ter nenhuma.” Segundo ela, a expressão “escritores periféricos” define o grupo do Vale do Taquari. Em seu caso, a publicação não foi totalmente independente, pois uma editora arcou com parte do custo. “Não estamos nos centros de debates, mas temos grande força de expressão”, considera.

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