Histórias de uma vida dedicada ao próximo

Arroio do Meio

Histórias de uma vida dedicada ao próximo

Vida simples, hábitos saudáveis e fé. Centenária esbanja alegria e serve de exemplo

Histórias de uma vida dedicada ao próximo
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Cecília Petry completa neste sábado 104 anos. A primeira motorista mulher da cidade teve, ao longo da vida, coragem para enfrentar as adversidades. Tanto que aos 102 anos sobreviveu a uma cirurgia delicada. A gangrena acometeu por completo a perna direita, forçando a amputação. Em uma semana, ela estava de volta.

Hoje, ao repousar na cama de ferro, na Associação Arroio-meense de Amparo ao Idoso (Amai), essa típica descendente de imigrantes germânicos viu as duas Guerras Mundiais. Hoje, esses assuntos a fazem silenciar. Sob o lençol colorido, nas poucas palavras, tenta contar as histórias dos tempos em que era ativista comunitária de forma objetiva, direta e em alto tom.

Com o DKW 1959, levava o filho para aula. Doentes e grávidas ao hospital e um dia levou até um terneiro e um leitão. O carro alemão de dois tempos foi forte o suficiente para ajudar vizinhos e familiares durante 57 anos. Só parou de dirigir quando tinha quase cem anos.

Como de praxe há um século, casou cedo. Mas quando o marido morreu, de um ataque cardíaco, mergulhou de vez no comunitarismo. Com agulha e lã, passou a fazer roupas para bebês de pais carentes, endereçadas ao Hospital Santa Casa, de Porto Alegre.

Manteve, desde os tempos da lavoura, uma vida saudável. Os pratos típicos da colônia foram o suporte. Até hoje gosta de schimier caseira. Sempre evitou bebidas alcoólicas. Apenas espumante, em datas comemorativas. “Se não quem me deu de presente fica bravo”, brinca.

Fazia parte da única família do bairro que tinha assinatura de um jornal. Por isso, eram considerados estudados. O trabalho era na roça. Depois vendia na comunidade os produtos, o que possibilitou os estudos do filho. Hoje dentista.

É preciso mais fé

A demora em responder cada pergunta é relevadora. Cecília tem um olhar perdido, mergulhado no passado, por vezes marejado com as lembranças. As poucas frases que diz resumem uma história rica.

Recorda que uma vez, após uma viagem a Caxias do Sul, trouxe objetos para à igreja local. Pensou em presentear os netos com um crucifixo. Quando o fez, dizia para rezar antes que fosse “tarde demais”.

Hoje, ela considera a juventude entristecida e sem fé. “Não acreditam em Deus. Mas acho que isso muda um dia.” Cecília não acredita que tudo termina com a morte. Para ela, quando a hora chegar, será um bom momento de reencontros. “Eu tive uma vida boa.”

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