Entre agulhas e tintas: arte na pele

Comportamento

Entre agulhas e tintas: arte na pele

No verão, os corpos ficam à mostra e é importante intensificar os cuidados com a tatuagem. Protetor solar e creme hidratante são aliados

Entre agulhas e tintas: arte na pele

Mayara Pezzi estava nervosa e com medo ao sentar-se na cadeira do tatuador Rodrigo Mundins. Moradora de Roca Sales, sempre teve vontade de fazer a primeira tatuagem. Mas faltava o motivo especial.

Depois de poucos minutos, estava pronta: a pequena frase homenageia o namorado Roni Wünsch. Sentado ao lado da amada, ele aguardava o resultado. Sua frase dedicada a ela já estava marcada na pele. “A minha diz ‘eu amo ela’, e a dela diz ‘eu amo ele’”, conta.

Para se diferenciar da maioria, o casal escolheu a língua alemã para expressar o sentimento. Mayara ficou feliz com o resultado. “Está lindo e doeu bem menos que o esperado.”

Agora, o próximo passo para Mayara e Wünsch é atentar aos cuidados com as tatuagens, intensificados durante o verão. A recomendação de Mundins é higienizar de hora em hora, com sabonete neutro ou só água. “Pode parecer exagero, mas ninguém peca por excesso de cuidado, só por falta dele.”

Roni Wünsch e Mayara Pezzi, felizes com o resultado

Roni Wünsch e Mayara Pezzi, felizes com o resultado

Fazendo isso durante as primeiras 48 horas, elimina-se a possibilidade de infecção. A regeneração do tecido também acelera. A fibra solta da pele, se acumulada, cria casca. Isso faz o traço do desenho dilatar e as cores perderem a vivacidade.

Para ajudar, vale passar um creme restaurador dérmico com vitamina D. Ao aplicar a pomada, pode-se proteger com o plástico filme se necessário. “O plástico deve ser usado somente quando a tatuagem estiver em contato com roupa ou outros agentes externos.” Se estiver em um ambiente fechado, não há necessidade, esclarece.

O item é aliado, mas deve ser usado corretamente. É preciso trocá-lo sempre que lavar a tatuagem. Depois de passadas 48 horas, não precisa mais ser usado.

A coceira durante o processo de cicatrização é inevitável, diz Mundins. Mesmo com material de qualidade, é preciso lembrar que a tatuagem é um corpo estranho inserido no organismo. Mesmo com a vontade grande, a recomendação é não coçar, pois prejudica a cicatrização.

A alimentação também influencia. A dica é comer itens saudáveis, como frutas e verduras, antes e depois de fazer a tatuagem. “Isso acelera a regeneração do tecido.” Pimenta, salmão e carnes gordas devem ser evitados. Também é importante manter-se hidratado.

Verão versus tatuagem

Na estação mais quente do ano, é comum ver os corpos à mostra. Por isso, muitos decidem tatuar nesta época. Mas quem se organiza e tatua durante o inverno exibe a tatuagem no verão já cicatrizada. O calor dilata os poros e os vasos sanguíneos, enquanto o frio os contrai. E isso é ideal para uma boa cicatrização.

O sol é o inimigo número 1 das tatuagens, diz Mundins. O dano causado na cor depende de cada tipo de pele e em muitos casos pode ser irreversível. Os cuidados adequados são utilizar o bloqueador solar em camadas grossas. “O bronze fica para o resto do corpo, enquanto a tatuagem é protegida.”

O colorido pode ser retocado e ganhar vida novamente. Mas o traço fino não volta à característica original. “Se pintar demais, a pele pode não aguentar tamanha agressão.” Por isso, é mais fácil prevenir e cuidar, diz Mundins.

Depois de feita a tatuagem, a recomendação é ficar 15 dias sem se expor a banhos de sol, mar ou piscina. O sal e o cloro fazem mal à tatuagem durante o processo de cicatrização, mas depois perdem o efeito danoso.

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Mapa da dor para iniciantes

A tatuadora americana Kat Von D e equipe traçou o mapa da dor das tatuagens. Pelas observações de Mundins, o resultado foi preciso. Segundo o estudo, o lugar mais dolorido é na garganta. Depois, vêm cabeça, joelhos, cotovelos, costela e pé. Lugares com garantia de pouca dor são a lateral do braço e ombro.

Quem vai tatuar pela primeira vez deve ficar atento a algumas questões. “A escolha deve ser pela arte do profissional, e não pelo preço dele.” Para Mundins, não se pode querer economizar com tatuagem, pois o desenho não pode ser removido da pele.

É preciso confiar no trabalho do profissional, conhecer seu portfólio, ver tatuagens realizadas por ele após a cicatrização e conversar com pessoas que adquiriram seu serviço. A higiene do local também é parte importante, tudo deve ser descartável, diz Mundins. “Com tantas doenças que podem ser transmitidas em um estúdio de tatuagem, não há mais espaço para amadorismo.” Assim, quem zela por isso cobra mais caro, diz.

Moda e significado

Em 15 anos de trabalho, Mundins viu muitos desenhos entrarem e saírem de moda. “Alguns viraram clássicos.” O tribal, por exemplo, se reinventou e hoje é conhecido como maori. O símbolo do infinito também foi muito buscado nos últimos anos. Mas cada desenho ganha significado diferente. “A tatuagem de uma mãe do símbolo do infinito com o nome dos filhos perde a característica modal.”

Recentemente, os clientes têm procurado o tatuador para fazer desenhos de traços finos, tanto em escrita como em desenhos grandes. Esses requerem mais estudo e prática para atingir o resultado desejado.

O desenho de aquarela também ganha espaço. Consiste em um colorido de forma abstrata. Para quem teme a dilatação da tinta da aquarela, tudo depende da aplicação, diz Mundins.

O poder do desenho

As coberturas de tatuagens são bastante buscadas no estúdio de Mundins. “Recebi clientes até de fora do estado.” É uma técnica trabalhosa e muitos tatuadores não gostam de fazer. Por conta disso, Mundins percebeu um novo nicho de mercado.

Pensando além do negócio, há o cliente com necessidade de cobrir um desenho que o faz se sentir mal e ter vergonha do corpo. “Depois do resultado, muitos se emocionaram e me abraçaram chorando.”

Até hoje, Mundins não recebeu nenhum “caso” sem solução. “Por requerer mais atenção e técnica, é um trabalho caro”, esclarece. O cliente também precisa ter em mente que a cobertura sempre será maior que a tatuagem original.

Apreciação da arte

A lajeadense Luana Maciel, 23, tem 18 tatuagens. A primeira foi feita aos 15 anos e desde então não parou mais. A maioria dos desenhos não tem significado, mas dois são especiais: o nome da filha e a data de nascimento.

Na hora de fazer uma tattoo nova, Luana prefere a época de inverno. “Tenho a impressão de cicatrizar melhor, a cor dura mais.” Nos primeiros dias, os cuidados são de passar pomada e colocar o plástico filme. Depois de cicatrizada, não faltam protetor solar e cremes hidratantes.

Para ela, no Vale do Taquari, ainda existe muito preconceito com pessoas tatuadas. “Pensamos não existir, até passarmos por essas situações.” Ela conta ter perdido algumas oportunidades de emprego por conta dos desenhos na pele. “Espero que uma hora as pessoas consigam ver além da tatuagem.”

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