Apenas o necessário: estilo de vida prega consumo consciente

Comportamento

Apenas o necessário: estilo de vida prega consumo consciente

Com início na Europa, o lowsumerism se caracteriza por preocupação com qualidade de vida e futuro do planeta. No Vale do Taquari, a ideologia ganha força

Apenas o necessário: estilo de vida prega consumo consciente
Vale do Taquari

Consumir conscientemente, buscar alternativas de menor impacto aos recursos naturais e viver apenas com o necessário.

Esse é o lema da tendência de estilo de vida, lowsumerism (junção das palavras low -baixo- e consumerism -consumismo-). A preocupação é com o resultado danoso do consumismo desenfreado causado ao planeta e às pessoas.

Segundo a empresa de pesquisa Box1824, especializada em tendências de comportamento e consumo, adotar postura lowsumer é entender que pequenas atitudes podem gerar grande impacto. O lowsumerism surgiu como maneira de ir contra a corrente criada no fim do século 19, com o crescimento do consumo ocasionado pelaRevolução Industrial.

Com início na Europa, o movimento se espelha em conceitos como a yoga, o slow food (preza pelo preparo do próprio alimento) e slow fashion (oposto de grandes lojas de departamento de roupas). E agora ganha força. Segundo Douglas Petry, jornalista de moda, as pessoas começam a buscar e valorizar essa vivência como maneira de equilibrar suas vidas.

Conforme estudo da Box1824, é necessário quebrar velhos hábitos. Para isso, pergunte-se se o item que comprará é realmente necessário. Depois, questione-se se pode pagar por ele. Saber a origem do produto e para onde ele vai depois de descartado também é importante. Por fim, procure saber se a compra prejudica o planeta.

A lajeadense Carolina Leipnitz se tornou uma lowsumer antes mesmo de saber sobre o conceito. A mãe, terapeuta holística, e o pai tiveram grande influência por meio de sua criação. Ele tem padaria, o que despertou o gosto e o interesse pela gastronomia em Carolina. Mas a figura da avó materna foi o que traduziu o estilo de vida. “Ela era uma guardiã da natureza.”

Por ter cinco filhas, o orçamento da família era pequeno. Com isso, passou a plantar os próprios alimentos e a produzir sabonetes, xampus e outros itens necessários à sobrevivência. “Depois de sua morte, percebi a grandeza de seus conhecimentos”, conta Carolina.

Segundo Petry, a fabricação desses itens de forma artesanal ainda é considerada sinônimo de pobreza por muitos. “Por isso, desprezam esse tipo de produção.” Mas a ideia vem sendo mudada aos poucos. Hoje, é comum ver priorização aos produtos feitos de forma caseira, pois apresentam mais qualidade, diz.

Mudança e evolução

Carolina sempre teve contato com a natureza, mas a consciência de preservação ao ambiente só foi desenvolvida com o tempo. Foi uma mudança gradual, que passou a figurar em todos os âmbitos de sua vida. Primeiro, surgiu o interesse por alimentação saudável. Foi então em busca de grupos de plantadores dos próprios alimentos, para aprender mais.

O grande marco de sua mudança foi a saturação da vida burocrática. Resolveu pedir demissão do último emprego fixo. “Eu adorava trabalhar onde estava, mas não tinha mais tempo para mim.” A epifania veio da fala de um professor do curso de Design de Permacultura. “Ele perguntou o que mais valia para nós e chegamos à conclusão que era tempo e conhecimento.”

Com essa vivência, de outros cursos e experiências em comunidades alternativas, Carolina se sentia transformada. Decidiu ir morar com o namorado em um sítio, e ali passaram a plantar os próprios alimentos. Aprenderam sobre a terra e se envolveram com grupos de agroecologia do Vale do Taquari.

Carolina realizou cursos de aprendizagem rural sobre compotas, frutas cristalizadas, massa caseira e outros. “A sensação de autonomia é o mais realizador.” Depois de saírem do sítio, viveram por um período na Patagônia. Foi quando deixaram parte de seus ideais para trás e se urbanizaram novamente. Era uma necessidade à época.

Segundo Carolina, é preciso se livrar de rótulos. “Se você leva um determinado estilo de vida, é comum as pessoas te julgarem por não seguir à risca.” A fonte de renda de Carolina hoje vem do trabalho com fotografia e das aulas de yoga que ministra.

Apesar de atender a todas as áreas, a tendência é trabalhar somente com fotografias de parto. A corrente do parto humanizado cresce na região, com o grupo Nascer Sorrindo. Para isso, realizou curso de doula, para entender melhor todo o processo e refleti-lo em suas fotografias.

Corrente de ideais

Segundo Carolina, o estilo de vida atrai cada vez mais pessoas na região. “Muitas querem mudar, mas falta coragem.” Cada pequeno grupo formado, com seu ativismo próprio, é um movimento válido, opina. As correntes são iniciadas, mesmo sem intenção.

Carolina, por exemplo, passou a produzir granola e desodorante em casa. Isso chamou a atenção dos amigos. “É importante passar adiante o que se aprende.” A consciência ambiental pode ser aplicada nos mais diversos âmbitos, opina Carolina.

“São detalhes, como levar uma sacola de pano ao mercado, separar o lixo, levar um copo retrátil sempre dentro da bolsa.” Muitos se sentem desencorajados por esse ser um comportamento diferente ao da maioria. “E fácil tirar a culpa de si mesmo. Mas as pequenas mudanças são importantíssimas”, opina ela.

O cenário atual do planeta e do comportamento humano é desanimador. Mas, para Carolina, é preciso ver por outros ângulos. O crescimento de comunidades alternativas é significativo, por exemplo. “Trata de enxergar com esperança.” Se o mundo está caótico, o movimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas e salvar o planeta só cresce, diz.

Para quem não pode plantar os próprios alimentos, a dica é apoiar o mercado local. Nas cidades do Vale do Taquari, é fácil encontrar pequenas feiras com alimentos orgânicos, conta Carolina. “O alimento natural tem sabor inconfundível, além de prover segurança a quem come.

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