Espaço destinado ao milho nas lavouras gaúchas caiu 50,3% de 1970 a 2015, mas produtividade cresceu 374,8% no mesmo período. A Emater estima recuo de 9,7% em relação a 2014. Na maioria das áreas, o cereal é substituído pela soja, devido ao preço, maior resistência às intempéries e por ser aceito como moeda de troca na compra de equipamentos e insumos.
O cultivo é considerado arriscado para quem não tem sistema de irrigação, pois o grão é exigente em umidade, além do custo por hectare ser em torno de 50% maior do que o da soja. No entanto, quem decidiu apostar na cultura agora é recompensado com preço em alta e boa produtividade devido à alta do dólar e das exportações e também à atuação do El Niño.
A produção gaúcha pode chegar a 5,5 milhões de toneladas, muito próxima as 5,6 milhões de toneladas da safra passada. Conforme o último boletim da Emater, o desenvolvimento das espigas e a formação dos grãos indicam possibilidade de altas produtividades nos mais de 780 mil hectares cultivados no estado.
De acordo com a entidade, a saca de 60 quilos no ano passado era negociada, em média, a R$ 26. Neste mês, alcançou R$ 31, com perspectiva de chegar a R$ 40 nos próximos meses. As primeiras lavouras começaram a ser colhidas há duas semanas nos vales do Taquari e Rio Pardo e na Região Noroeste. Em termos de produtividade, a média varia entre 7 mil e 8,4 mil quilos por hectare.
Cláudio Dóro, engenheiro agrônomo da Emater em Passo Fundo, destaca a ocorrência do El Niño como benéfica. Trouxe chuva abundante aliado às altas temperaturas e bons períodos de sol. “Cabe ao produtor monitorar as pragas e torcer para as condições meteorológicas se manterem assim. A produtividade pode chegar a sete mil quilos.”
Um dos motivos para o crescimento da área ocupada com soja é o custo por hectare. “O cultivo de milho exige cerca de R$ 2,2 mil por hectare, enquanto o da soja, R$ 1,4 mil.” No entanto, Dóro alerta para as consequências. A falta de rotação de culturas deixa o solo com pouca matéria orgânica e isso terá impacto direto na produtividade da próxima safra de soja.
Para Cláudio de Jesus, presidente da Associação de Produtores de Milho (Apromilho-RS), o ideal é que haja políticas públicas para incentivar a produção. Um começo poderia ser a oferta de melhor condições de seguro, pois o produtor precisa de proteção. Cita que diversos estados reduziram o plantio de milho de primeira safra, entre eles, os maiores produtores, como Minas Gerais (-6,0%), RS (-14,6%) e Paraná (-21,3%).
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Mesmo com a área menor, acredita em uma safra com volume maior ao do ano passado. A entidade projeta rendimento médio de 117 sacas por hectare. “Quem não plantou milho perdeu uma boa chance de ganhar dinheiro neste ciclo.” Destaca que devido à demanda mundial aliada à alta do dólar, o preço se mantém elevado e gera excelente lucro ao produtor.
Alerta na indústria
A diminuição da oferta de milho impactará diretamente nas indústrias de aves, suínos e frangos, que têm no grão a base para a alimentação. Segundo estimativa da Emater, a demanda chega a seis milhões de toneladas. Para complementar, a saída será importar o cereal do Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul. Com o frete e o óleo diesel mais caros, o processo produtivo será mais oneroso e refletirá em preços mais elevados dos produtos nos supermercados.
De acordo com Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Produtos Suínos do Estado (Sips), mesmo com o aumento da produtividade nos últimos anos, a oferta é insuficiente. Até o surgimento dos milhos OGMs (transgênicos), havia condições de importar da Argentina, o que se inviabilizou pelas restrições estabelecidas. “Pela falta do cereal, perdemos a competitividade, em especial, das cadeias de aves e suínos.”
Para Kerber, a diferença de custo entre o RS e outros estados obriga os setores de produção (que têm no milho insumo básico) a ser mais eficientes e buscar aumentar as vendas no mercado exterior para manter as margens de lucro. “O bom status sanitário favorece este cenário. Mas em compensação, com alta nas exportações, eleva o preço desses produtos no mercado interno.”
Preço da carne aumenta
Após a carne bovina registrar aumento superior a 60% em dois anos nos supermercados gaúchos, chega a vez de frangos e suínos passarem por reajuste. De acordo com projeção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), ambas devem encarecer em cerca de 15% nos próximos dias. A variação decorre de altas no custo de produção.
As cotações do milho e do farelo de soja, por exemplo, dispararam em diversas regiões do Sul e Sudeste do país nas últimas semanas, motivadas pela escassez dos cereais e pela crescente nas exportações. No caso do milho, principal integrante na confecção de rações, o preço da saca subiu 14% apenas neste ano na praça de referência de Campinas, em São Paulo, passando a R$ 42.
Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em comparação ao mesmo período do ano passado, a saca de milho encareceu mais de 50%,. A condição deixa líderes do setor apreensivos. Para o presidente-executivo da ABPA, Francisco Turra, a primeira safra é insuficiente para atender a demanda interna, ainda mais com as exportações aquecidas, o que deve resultar em novos aumentos.
“A escassez de produto disponível e o custo do transporte para trazê-lo do Centro-Oeste criam dificuldades até para manter os mesmo níveis de produção na avicultura e na suinocultura, que estão gradativamente sendo reduzidos.” Ele defende a intervenção do governo para travar novos reajustes. A entidade sugere leilões do estoque público e incentivo aos produtores para o plantio da chamada “safrinha”, visto as lavouras de milho perderem espaço para a valorizada soja.
Uma das peculiaridades do RS é que a demanda interna supera a oferta. Como o estado produz abaixo do próprio consumo, com déficit de até dois milhões de toneladas, o milho precisa vir de outras regiões do país, o que gera custos extras com frete. Nas próximas semanas, o cereal deve começar a ser importado de países vizinhos, como Paraguai e Argentina, em virtude da projeção de dificuldades na chamada safrinha.
Exportações em alta
Com a valorização do dólar no segundo semestre do ano passado, os setores de grãos e carnes ampliaram as negociações com o mercado externo. Mas o que resulta em euforia para a indústria acaba em transtorno ao consumidor brasileiro. A maior demanda eleva os preços no país.
Exemplo disso ocorreu com a carne bovina, que retomou vendas a países como Argentina e Estados Unidos no ano passado. Como a produção brasileira manteve patamares semelhantes, o produto encareceu de modo geral. Em 12 meses, conforme índice de preços do Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), o incrementou chega a 28% no RS.
Condição semelhante ocorreu com a carne suína. De acordo com levantamento da ABPA, as exportações acumularam crescimento de 9,7% no último ano, em comparativo a 2014. A Rússia lidera as compras do Brasil, com 44,6% das negociações. A carne de frango teve crescimento de 5,76% nas vendas para o exterior.