Amamentar previne câncer e aumenta inteligência do bebê

Vale do Taquari

Amamentar previne câncer e aumenta inteligência do bebê

Levantamento coordenado pela OMS defende hábito, capaz de evitar a morte de 800 mil crianças e 20 mil mulheres por ano

Amamentar previne câncer e aumenta inteligência do bebê

A revista The Lancet publicou nessa sexta-feira, 29, o maior levantamento de dados sobre amamentação já realizado.

Comandada por cientista da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e controlada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a pesquisa comparou 28 estudos internacionais e comprovou a importância do hábito para a saúde de mães e filhos.

O trabalho aponta a amamentação como fator importante no combate ao câncer e à mortalidade infantil. Crianças amentadas por mais tempo também se tornam adultos mais inteligentes, com médias salariais maiores e menos propensos a doenças.

Brenda Schweig teve o primeiro bebê, Maria Eduarda, com 17 anos. Ainda alimentava a primogênita no peito, quando ficou grávida de João Valentin, hoje com 1 ano e meio. Na época, tentou parar de amamentar a filha.

“Fiquei com pena porque ela já estava com ciúmes”, lembra. Hoje Maria Eduarda tem 4 anos e 7 meses e, apesar de não mamar com tanta frequência, continua a receber leite no peito da mãe.

Conforme Brenda, as duas crianças esbanjam saúde. “Ficaram gripados apenas uma vez, de forma leve”, ressalta. Para ela, o ato de amamentar é a coisa mais normal que existe e deveria ser encarado com mais naturalidade pela sociedade devido aos seus benefícios. “Ninguém precisa ensinar uma criança a mamar e algumas pessoas parecem esquecer disso.”

No caso das mães, o estudo aponta benefícios até então desconhecidos. A estimulação do seio pelo bebê provoca um efeito hormonal no corpo das mulheres capaz de reduzir a incidência dos cânceres de mama e ovário.  As pesquisas também projetam redução na mortalidade infantil caso a amamentação se torne universal.

A prática evitaria a morte de 800 mil crianças por ano. Pessoas que foram amamentadas nos primeiros 12 meses de vida têm menos risco de desenvolver obesidade e diabetes quando adultos.

Prática precisa avançar

Apesar de comprovadamente benéfico, o aleitamento materno ainda é negligenciado na maior parte do mundo. De acordo com a pesquisa, nos países com renda per capita elevada, apenas 1/5 das crianças recebe leite materno até os 12 meses. Nas nações de renda média ou baixa, 1/3 dos bebês de até 6 meses é amamentado.

Conforme o estudo, o comportamento da população dos países pobres quanto à amamentação é mais saudável em relação aos desenvolvidos. As taxas de aleitamento materno no primeiro ano de vida chegam a 1% no Reino Unido, 2% na Irlanda e 3% na Dinamarca.

Questões culturais e as exigências do mercado de trabalho nessas nações são apontadas como motivo para os baixos índices de amamentação. Mesmo assim, a pesquisa mostra que a mortalidade infantil nos países com altas taxas de renda cai 33% onde a amamentação é habitual.

No Brasil, os níveis de amamentação estão distribuídos de forma homogênea entre diferentes classes sociais. A frequência da prática é a mesma nas diferentes faixas de renda e escolaridade pesquisadas. Algumas empresas estimulam o hábito. Na Unimed de Lajeado, as mães são beneficiadas com horário de amamentação prolongado durante os primeiros 9 meses de vida da criança.

Nesse período, a colaboradora tem direito a dois descansos especiais, de meia hora cada, ou um de uma hora. Além de poder amamentar, o horário também serve para acompanhar o desenvolvimento do bebê.

Restrição desnecessária

A amamentação em público ainda representa tabu no país. Em levantamento com duas mil mulheres de 18 a 45 anos, 47,5% delas disse ter sido criticada ou ter sofrido preconceito por conta do hábito. Mãe de dois filhos, um com menos de 1 mês de vida, Tassiana Röhrig diz que o ato de dar de mamar não deve ser negado em nenhum lugar.

“A sociedade, em geral, tem algum problema ao ver as mulheres amamentando, e isso é um absurdo”, sentencia.
Para Tassiana, a amamentação é um dos principais motivos para as boas condições de saúde dos filhos, que deram as primeiras mamadas tão logo nasceram, ainda na sala de parto.

Mãe de Yago, bebê com duas semanas de vida, Janice Almeida Lindner defende a amamentação em qualquer lugar. “Não vou deixar meu filho com fome porque alguém pode se incomodar e olhar aquilo com malícia”, alega.  Ela amamenta o filho pelo menos dez vezes por dia.

Para Janice, a amamentação garante o desenvolvimento saudável, elogiado pelo pediatra. Mãe pela primeira vez, não esconde a satisfação em alimentar o filho no peito. “Não pensava que dar de mamar seria tão maravilhoso.”

Três décadas de estudos

O levantamento mundial é conduzido pelo médico epidemiologista Cesar Victora. Cientista da Ufpel, Victora ganhou notoriedade internacional em 2015, quando publicou estudo comparando dados coletados desde 1982, com 3.493 crianças nascidas naquele ano.

O estudo mostrou que as crianças amamentadas por pelo menos 12 meses obtiveram, aos 30 anos, uma média de quatro pontos a mais nos testes de QI em relação às demais. No caso da renda, recebem em média R$ 349 a mais.

A relação entre o leite materno e os níveis de inteligência ocorrem devido à presença de ácidos graxos saturados de cadeia longa no alimento. As substâncias são consideradas fundamentais para o desenvolvimento saudável do cérebro.

Indústria bilionária

Os avanços da indústria alimentícia estão entre os principais entraves para a elevação das taxas de amamentação. Conforme a pesquisa, a venda de produtos utilizados para substituir o leite materno cresce exponencialmente. Em 1987, o setor era responsável por movimentar US$ 2 bilhões ao ano.

Em 2014, o número passou para US$ 40 bilhões. A redução no desenvolvimento intelectual causada pela ausência da amamentação representa prejuízo de US$ 302 bilhões por ano na economia global. No Brasil, o estudo estima as perdas anuais em R$ 8,7 bilhões.

Pesquisa da Ufpel acompanhou 3.493 pessoas nascidas em 1982:

Aquelas que foram amamentadas por pelo menos um ano tiveram aumento de 4 pontos nos testes de QI e aumento de R$ 349 na renda média.

No Brasil, 47,5% das mulheres dizem terem sido criticadas ou sofrido preconceito por amamentar em público.

Os níveis baixos de amamentação no Brasil resultam em perda anual de US$ 8,7 bi.

Conforme a OMS, se as taxas de amamentação subissem para 90%, o sistema de saúde brasileiro economizaria U$$ 6 milhões  em um ano.

As 800 mil vidas que seriam poupadas a cada ano pelo leite materno correspondem a 13% da mortalidade nos primeiros 24 meses de vida.

As taxas de aleitamento materno no primeiro ano de vida somam apenas 1% no Reino Unido e 2% na Irlanda.

Acompanhe
nossas
redes sociais