A comunidade de Palmas sairá da rotina na manhã deste sábado, 30. Um casamento reunirá moradores da região, além de família, amigos e vizinhos dos noivos na Capela São Carlos, a partir das 10h.
O noivo, Gomercindo da Cruz, tem 99 anos, e a noiva, Ana Marisa da Silva, 52. O casal, cuja diferença de idade é de quase meio século, se conheceu há cerca de cinco anos, por intermédio de uma filha dele.
Depois de dois anos, decidiram morar juntos. Desde então, vivem em uma casa no interior do município. Resolveram oficializar a união há poucos meses. Conforme Ana, o fato do companheiro ser mais velho não impediu que o carinho crescesse. “Sempre quis casar na igreja, como da primeira vez não deu, dessa não podia passar”, comenta.
O primeiro matrimônio de Cruz durou 55 anos. Quando a mulher morreu, lembra, ele passou por um período de muita solidão, mas quando acabou o luto decidiu que não ficaria mais sozinho. “O homem não foi feito para ficar só. Se tu encontra alguém que te faz feliz tem que aproveitar”, pondera.
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De acordo com uma das madrinhas, Guilhermina Bioeu, 65, vizinha do casal, participar da união é uma honra. “São pessoas maravilhosas, é bonito de ver o carinho e o bem que fazem um ao outro”.
Tanto Cruz quanto Ana relatam ter enfrentado muita dificuldades ao longo da vida. A simplicidade, evidenciada pela casa branca de janelas verdes onde vivem, é algo que os dois valorizam. E a pureza da união é bem definida pela declaração de Gomercindo. “No final o que mais importa é o amor”, conclui.
Exemplo de vida
O noivo, quase centenário, pelo vigor e disposição não aparenta a idade. O segredo da saúde e longevidade é resumido a uma atividade. “Trabalhar. Se eu ficar 15 dias parado acho que adoeço ou morro”. Cruz nasceu na colônia, em Sobradinho. Criou 11 filhos e um neto.
Morou com a família em Lajeado, no bairro Carneiros por quatro anos. Voltou para a cidade natal para retomar atividades ligadas à fumicultura. As datas e os anos das mudanças, Gomercindo não se lembra mais. “Isso também não importa agora”, emenda.
Depois de dois anos, foi assaltado e perdeu todas as economias que tinha guardado. Retornou para o Vale do Taquari e fixou residência em Roca Sales. Mudou-se para Lajeadinho, local onde viveu por mais de uma década.
De acordo com Cruz, a mãe morreu jovem, e o pai ele conheceu pouco. Foi criado por uma tia e começou a trabalhar cedo. Na adolescência, morou em propriedades rurais onde ajudava a plantar milho, aipim, criar porcos e vacas, atividades que continua até hoje.
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Só com ajuda de Deus, afirma, aprendeu a superar todas as barreiras que lhe foram impostas. Estudou apenas até a 5a série, mas demonstra sabedoria que só vem com o tempo. Perdeu a conta de quantos netos e bisnetos tem. Nunca tirou férias, poucas vezes ficou doente, não toma remédio, mas na horta cultiva chás.
Diz que as maiores riquezas são a saúde e as amizades. Doa a maior parte do que planta. Revela ter amor pela terra, mas lamenta as tragédias causadas pelo homem. “Fico triste ao ver o mundo tão grande e os povos não saibam conviver só porque são diferentes.”