Números da Febraban mostram redução na emissão de talões. Em 1995, 3,3 bilhões de folhas foram compensadas no país. Vinte anos depois, o número diminuiu para 672 milhões. A popularização dos cartões e o aumento das transferências eletrônicas por meio da internet estão entre os motivos para a mudança.
“Ainda existem cheques?” Essa foi a pergunta de Marcos Patussi, proprietário de uma loja de roupas de Lajeado, ao ser questionado sobre o uso das folhas para pagamento por parte dos clientes. Patussi lembra da época que guardava pilhas de cheques no cofre da empresa. “Eram mais de cem ou 200, aguardando a data para compensação”, recorda.
Para o empresário, a opção por cartões ou meios eletrônicos representa mais tranquilidade aos lojistas. Segundo Patussi, além de evitar incômodos nos casos de falta de fundos, o fato de não manter dinheiro no caixa da empresa, mesmo em forma de cheques, proporciona mais segurança, além de eliminar a necessidade de deslocamento ao banco para fazer as retiradas.
Para o contabilista Jandir Dickel, a opção por meios eletrônicos representa segurança não apenas aos lojistas, mas também aos clientes. “Já tivemos vários casos em que utilizaram as informações da folha do talão para fazer cadastro de serviços como telefone e internet, entre outros.”
Dickel afirma que os dados dos usuários ficam preservados com o uso dos cartões, pois têm menos informações impressas. Ressalta que falhas de preenchimento no cheque ou mesmo a perda de folhas podem ocasionar problemas.
Taxas e confiança
Conforme o contabilista, nos últimos anos, aumentaram as facilidades para obtenção de crédito nas instituições financeiras. Com isso, também cresceu a emissão de cheques sem fundo, fazendo com que as empresas restringissem o recebimento e apostassem mais nos cartões.
“Com o cheque não é possível consultar se tem ou não saldo no momento da compra”, alerta. Para Dickel, mesmo que o estabelecimento precise pagar taxas para as operadoras de cartão, a redução dos riscos compensa. Com relação aos consumidores, a vantagem depende da forma como o cartão ou o cheque são utilizados.
Lembra que os cartões têm uma anuidade, com possibilidade de redução de acordo com a frequência de uso. “Com relação aos cheques, o banco geralmente libera um talão por mês e cobra taxas em caso de novas solicitações.”
Segundo ele, a emissão de cheques pré-datados aumentou em 2015, após anos de queda, devido às dificuldades da economia. Afirma que o artifício depende da confiança entre as partes envolvidas, pois a data escrita na folha não impede que a compensação ocorra fora do prazo estabelecido.
Hábitos distintos
Aos 23 anos, Aline Bergmann nunca utilizou cheques. Para ela, a opção por outros meios de pagamento ocorre por questões de segurança e por não ver necessidade de usar os talões. Gerente em uma ótica, Aline afirma que a loja deixou de aceitar cheques faz alguns anos. “Os próprios clientes não pedem por esta forma de pagamento.”
Já o agricultor Alcione José Zangali, 39, não abre mão dos talões. Morador de Picada Serra, em Marques de Souza, evita manter grandes quantidades de dinheiro em casa e nunca usou cartões de débito ou crédito.
Para ele, os cheques facilitam o pagamento das contas e evitam um deslocamento de 16 quilômetros para retirar dinheiro em um dos dois bancos onde tem conta. “É muito bom para quem sabe usar, pois não tem custo extra.”
Segundo o agricultor, o segredo para o uso saudável dos talões é não gastar mais do que o necessário. “Se você não entra no limite da conta, não tem nenhum custo adicional.”
Conforme a Febraban, a queda do número de cheques compensados ocorreu num momento de expansão das contas correntes no país. Em 1995, eram 39 milhões contas abertas no Brasil. Vinte anos depois, a quantidade supera os 108 milhões.
A federação também aponta crescimento constante no número de transações realizada por internet banking e mobile banking. No fim de 2014, as operações por esses canais somaram 50% do total. Já no primeiro trimestre de 2015, chegaram a 58%.