Com um tênis All Star e uma camiseta de futebol antiga, Daniel dos Santos de Melo esteve ontem no ginásio de esportes do Colégio Martin Luther, em Estrela. Com 13 anos, foi a primeira vez qu e o menino da tribo caingangue saiu da aldeia na BR-386 para jogar uma partida de futsal.
Ele disputou um amistoso contra equipe formada por crianças da Associação dos Jovens Estrelenses (Ajes) e do bairro Auxiliadora. Além de Daniel, outros dez índios estreavam em um “jogo oficial”. Com poucas palavras, Daniel resumiu o sentimento. “É um orgulho estar aqui.”
A atividade foi organizada por Flávio Ramos Lopes, 58. De maneira voluntária, ele promove treinamentos com jovens carentes faz cerca de três décadas. Um dia, ao passar pela BR-386, Lopes viu as crianças jogando futebol com uma bola furada no campo de chão batido da aldeia. “Pensei em levar minha escolinha para lá”, recorda. Com o aval do cacique, iniciou os treinos em setembro. Aulas ocorrem no sábado à tarde e reúnem 14 crianças e adolescentes da aldeia.
Conforme Lopes, uma das maiores dificuldades é a falta de estrutura. A bola é levada por ele. Sem tênis, os jovens jogam descalços. O campo esburacado precisa de uma terraplanagem. Mesmo com os transtornos, Lopes sonha. “Vai que um dia surge um talento ali.”
Integração
O índio João Paulo Santos, 28, elogia os treinamentos e destaca que o esporte afasta os jovens da criminalidade e das drogas. “É um futuro melhor para as nossas crianças.” Santos sonha em construir um campo de futebol 11, formar uma equipe na tribo para disputar as competições amadoras e interagir com as demais comunidades do Vale do Taquari. “É uma oportunidade para todos conhecerem melhor nossa cultura”, finaliza.