Negócio em família: aposta no Vale

Você

Negócio em família: aposta no Vale

Jovens empreendedores adquirem experiência fora do país e voltam à região para aplicar conhecimentos. Melhorar os negócios das empresas da família vira objetivo principal

Por

Negócio em família: aposta no Vale

A experiência de viagem ou intercâmbio a outros países tem o poder de mudar uma vida. A sensação de responsabilidade, a comunicação em outra língua e o conhecimento de novas culturas ajudam a construir personalidade e auxiliam no amadurecimento de jovens.

Segundo Lilian Bohrer, diretora do Yázigi e representante do Yázigi Travel em Lajeado, morar, estudar ou trabalhar no exterior amplia a visão de mundo e gera autoconhecimento. Aprender fluentemente língua estrangeira suscita novas maneiras de pensar o mundo, estimula a criatividade e o senso crítico, diz. Promove compreensão maior sobre as diferenças de costumes e culturas, provocando mudanças de paradigmas.

As disparidades entre a realidade do Brasil com outros países é clara. Isso faz muitos terem o sonho de fazer carreira fora do solo brasileiro. Mas há quem aproveite conhecimentos adquiridos em viagens para aplicar em sua realidade, aqui no Vale do Taquari.
É o caso dos jovens Eduardo Feine, 19, e Gustavo De Gasperi, 18. Ambos trabalham no negócio já consolidado dos pais. Segundo Eduardo, esse é o contraste de juventude que as empresas necessitam.

Vontade de aprender é o que não falta. Mas também tem o que ensinar, garante Feine. “Temos uma outra forma de ver o negócio”, diz. Segundo Lilian, falar inglês ou outras línguas com fluência e viver diferentes contextos torna o indivíduo mais apto a competir no mercado de trabalho em qualquer lugar do mundo. “Dá grande diferencial no currículo.”

Vivências únicas

O primeiro intercâmbio de Feine foi aos 14 anos. Sempre gostou de viajar, conta. O primeiro destino foi Canadá, onde passou quase três meses. Sem nenhum brasileiro por perto, se esforçou mais para aprender a língua.

Depois dessa experiência, voltou para o Brasil. Após quase dois anos, viajou para a Inglaterra com colegas do curso de inglês, para cidade próxima de Londres. Foi viagem em que aprendeu muito culturalmente, pois lá havia pessoas de todo o mundo, relata.

“Foi uma troca de culturas.” Ao voltar ao Brasil, finalizou o Ensino Médio. Era hora de pensar na faculdade. Percebeu que sempre foi muito criativo e na prática havia um curso no Ensino Superior que poderia traduzir sua vocação: Publicidade e Propaganda.

Ao passar no vestibular da PUC, se estabeleceu em Porto Alegre e começou a estagiar dentro da própria universidade. “O curso é apaixonante.” Mas, ao término do primeiro semestre, Feine teve o que descreveu como uma epifania. “Comecei a me questionar se era aquilo que queria da minha vida.”

Durante um mês de férias, resolveu trabalhar um pouco em uma das lojas da mãe, Andrea Feine. “Com tudo que aprendi, vi que muita coisa poderia ser melhorada dentro da empresa.” Decidiu então focar a criatividade no negócio da família e se tornar um empreendedor. Resolveu largar a realidade da capital e voltar a Lajeado. Agora, ele transferiu a matrícula para a Univates e trocou o curso para Gestão de Micro e Pequenas Empresas.

Experiência jovem

De Gasperi viajou no início deste ano para Inglaterra, França e Escócia. Além de falar outra língua, o maior ponto positivo foi conhecer diferentes culturas. “Se aprende muito sobre se relacionar com as pessoas.” Costumes normais no Brasil podem ter significado diferente em outros países. Isso o fez a ser mais cuidadoso no trato, conta.

Aos 16, começou a ajudar os pais na fruteira e mercado da família, trabalhando aos domingos. Depois de formado no Ensino Médio, começou a se dedicar em tempo integral, e vai do administrativo ao trabalho braçal. “É bom ajudar onde se precisa”, conta.

Ao trabalhar no negócio dos pais, percebeu que poderia fazer a diferença. “Passei a ver que algumas coisas eu poderia melhorar.” A experiência, apesar de ser pouca, é jovem e diferente, opina. Ao começar a faculdade de Ciências Contábeis, percebeu que conseguiria conciliar o curso com o trabalho. “Estou indo bem nessa nova rotina.” Hoje, ele considera cursar também Gestão de Micro e Pequenas Empresas.

Neste ano, passou a reconhecer a ocupação como sua profissão, conta. “Antes, via como uma obrigação.” É preciso dar valor ao que se tem, opina. O trabalho braçal imposto pelos pais ajudou a construir sua humildade, reconhece. “Assim, sei bem o que cada pessoa na empresa passa.”

Felipe Kist, 19, também pretende cursar Gestão de Micro e Pequenas Empresas. Antes, pensava em fazer geologia. Mas o “espírito empreendedor” sempre esteve presente, afirma. “Mesmo se fosse estudar essa área, já tinha interesse em abrir minha própria empresa.”

Sua história é parecida com a do amigo De Gasperi. Desde novo, costumava ajudar na empresa dos pais, Panela de Ferro, em Estrela. Mas só recentemente passou a trabalhar em turno integral. Suas funções são ajudar no controle financeiro e atendimento. O sucesso dos pais não é garantia de se tornar bem-sucedido, opina Kist. “Pode dar um bom início de carreira, mas depois é preciso seguir sozinho”, finaliza.

Conhecimento benéfico ao Vale

Quando realizou as viagens de intercâmbio, Feine ainda era jovem e o foco era o lazer. Mas hoje, quando planeja as próximas viagens, quer ir “com outros olhos”. O intuito é realizar benchmarking em empresas conceituadas, para entender melhor o funcionamento e trazer novas ideias, conta. O próximo destino é a Flórida.

Segundo Feine, o Índice de Desenvolvimento Humano da região é alto. “Vivemos em um local com pessoas com muito conhecimento e poder aquisitivo.” Tem tudo para crescer cada vez mais, acredita. “Eu achava que gostava da região por ser onde nasci, mas a admiração vai além.”

Hoje, ele trabalha cuidando do setor de marketing, tanto nas redes sociais quanto no pessoal. Atua também no financeiro e em 2016 pretende passar dois meses criando experiência em cada setor da empresa. O objetivo é conhecer o negócio como um todo.
Para De Gasperi, o Vale é uma região com oportunidades. “Fora do país, seria necessário muito tempo para se firmar.” Segundo Kist, aqui tem muita carência em algumas áreas. “Mesmo assim, é uma região onde vale a pena apostar.”

Entre pais e filhos

A psicóloga Carine Bernhard Duarte fala sobre como fica o psicológico do jovem e da família ao haver separação por conta de viagens e intercâmbios.

A Hora – A distância entre pais e filhos durante um intercâmbio é benéfica para a relação?

Carine Duarte – Esta distância é saudável quando bem administrada. Não adianta o filho estar em outro país, mas conectado com os pais o tempo todo. Para que a experiência seja positiva, é de extrema importância que pais e filhos tenham combinações claras sobre como será a comunicação, relação e orientações entre eles.

A Hora – Realizar um intercâmbio ajuda o jovem a criar a maturidade?

Carine – A viagem auxilia na maturidade desde que os viajantes consigam dar conta de suas necessidades sem a intromissão daqueles que ficaram no local de origem. O intercâmbio é uma ótima oportunidade para o filho cuidar do financeiro, ponderar o que é mais relevante, aprender a se locomover e ter noção do espaço, valorizar cuidados com a casa e higiene pessoal, conhecer e construir argumentos sobre a história de seu local de origem. Enfim, a viagem é uma ótima oportunidade para crescer.

Acompanhe
nossas
redes sociais