A colheita da fruta exige cuidado e delicadeza. Sensível, precisa ser tirada do pé uma a uma. O mirtilo necessita de frio e umidade para se desenvolver. Por isso, a Região Sul concentra a maior área cultivada no país, pois os pomares encontram as melhores condições para produzir de forma mais adequada.
Para esta safra, há previsão de uma redução de até 30% na produtividade devido ao inverno ameno. Mas se a produção caiu o preço compensa. No ano passado, a caixa de 1,2 quilo era vendida a R$ 10. Neste ciclo, chega a R$ 15. A fruta é valorizada por apresentar propriedades medicinais.
Rica em vitaminas, tem substâncias que fazem bem ao coração e à memória, auxiliam na mobilidade e combatem o envelhecimento. Tem baixo valor calórico e cada cem gramas equivalem a 32 calorias, o que torna a fruta uma aliada nas dietas de emagrecimento.
Pomares comerciais foram implantadas em 1990 em Vacaria, hoje maior produtor estadual. Conforme a técnica em Agropecuária, Morgane Toigo do Nascimento, 11 produtores mantêm uma área de 20 hectares. Projeta-se colher até 120 toneladas no ciclo atual.
Segundo a técnica, a planta requer um acúmulo de frio que varia de 300 a 1,1 mil horas de temperatura inferior a 7,2ºC. Prefere solos ácidos, com elevado teor de matéria orgânica, boa retenção de umidade e boa drenagem. “A irrigação é imprescindível.”
As mudas podem ser cultivadas a partir do outono e se estender até o início do verão, desde que as plantas sejam irrigadas com frequência. A safra começa no fim de outubro e termina em fevereiro.
Para valorizar a matéria-prima, a Emater realiza um trabalho com os produtores para incentivar a agroindustrialização das frutas. “Poderiam ser mais exploradas na fabricação de sucos, polpas, geleias e outros produtos.” Além do mirtilo, Vacaria mantém cultivos de amora-preta (80 hectares, 120 famílias e produção de 640 toneladas anuais).
O morango ocupa 50 hectares, com produtividade média de duas mil toneladas. Framboesa ocupa dez hectares e o rendimento anual alcança 60 toneladas. No estado, a cultura ocupa 61 hectares, reúne 52 produtores e alcança 265 toneladas.
Exigente em mão de obra
Conforme o engenheiro agrônomo, Derli Paulo Bonine, da Emater Regional de Lajeado, a planta, além de frágil, é bastante exigente em mão de obra. “Para colher 20 quilos, é preciso um dia inteiro. A oferta de trabalhadores está cada vez menor.”
Por se tratar de uma fruta exótica, desconhecida dos consumidores, o comércio para o consumo ao natural é muito difícil. No Vale do Taquari, a planta ocupa seis hectares, em Arvorezinha, Putinga e Capitão. A área permanece inalterada desde a implantação da cultura em 2006. A frutificação começa no segundo ano e o auge é atingido após os 15. “Pode-se colher até 13 toneladas por hectare.”
“É difícil cultivar, mas rende bons lucros”
O enólogo Rafael Frozza, de Putinga, plantou 450 mudas em 2007. Mesmo desconhecendo a fruta, após um curso na Embrapa Pelotas, investiu R$ 10 mil na estruturação do pomar e no sistema de irrigação. As variedades são bluegen, florida M, climax, woodard, powder blue, além da misty, em fase de testes.
Por ciclo, a produção chega a uma tonelada. Devido às intempéries, principalmente pela queda de granizo, neste ano a estimativa é de colher apenas 600 quilos. As frutas são armazenadas em freezers e vendidas durante o ano para mercados de todo estado. Por quilo, recebe em média R$ 10.
A falta de mão de obra e infraestrutura física precária, principalmente na hora de armazenar o fruto, impedem a ampliação da área. Entre as dificuldades, destaca a insuficiência de horas de frio exigidas pela planta. Esse fator alterou nos primeiros anos a época de floração e colheita. “Mantive o pomar por teimosia.”
Na propriedade, mantém 350 pés de amora-preta, cujo rendimento deve superar os 800 quilos nesta safra. Em 2016, terá um pomar de framboesa. “Precisamos aprimorar a forma de cultivar. Existe mercado e o preço compensa.”