Autora do hino morre e deixa carta à cidade

Teutônia

Autora do hino morre e deixa carta à cidade

Waltraude Wartschow também era reconhecida pelo conhecimento da escrita gótica

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Autora do hino morre e deixa carta à cidade

A cidade perdeu a criadora do hino municipal. A professora de alemão, inglês, português, história e religião, Waltraude Wartschow, morreu aos 81 anos, no sábado, em Porto Alegre. Complicações oriundas do câncer no pulmão determinaram o óbito.

O enterro ocorreu em Teutônia. Sobre o caixão, foi colocada a bandeira do município e a comunidade se emocionou ao entoar os versos do hino criado por ela. Ativa e apaixonada pela cidade, dedicou-se a traduzir reportagens, documentos e cartas escritas em alemão e no estilo gótico.

Participou da criação da Casa do Artesão, apoiou a Associação Recreativa Cultural (Arca), regeu corais e se inscreveu em concursos de hinos. Venceu os de Teutônia e Almirante Tamandaré. Enquanto ficou na casa do filho Dieter, perdeu a voz.

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Para continuar se comunicando com os familiares, utilizava o celular para escrever mensagens. Pouco antes de morrer, Waltraude sussurrou a despedida para a filha mais nova, Cláudia Kerber, 54. No documento, agradece aos ex-alunos, maestros, amigos, vizinhos, coralistas, filhos, netos, bisnetos e irmãos. Também abençoou os líderes políticos e ressaltou o amor pelo município.

A carta de despedida foi registro da lucidez em que passou os últimos dias. O texto está com a pastora da comunidade evangélica luterana. O rascunho está com a família e complementará o acervo. De acordo com Cláudia, na residência da mãe, há outros manuscritos importantes. Em um diário, escrevia a rotina e as novidades. Waltraude deixa os filhos Martin, 61, Dieter, 58, Mônica, 57, e Claúdia, 54, oito netos e dois bisnetos.

Tecnologia estreita laços

Para facilitar a comunicação entre família sem interromper as atividades, optaram pelo WhatsApp. As netas presentearam Waltraude com o aparelho em outubro quando passou a se comunicar com a novidade.

O sistema serviu para troca de informações entre família durante os dias no hospital. Enviava mensagens sorrindo e fazendo sinal de positivo para os netos. Os filhos retribuíam com vídeos do jardim, dos animais, da vizinhança. “Assim conseguíamos manter vínculo com ela e permitir que visse como está longe dali.”

Cultura alemã no rádio

Waltraude trabalhou por 20 anos com programa de rádio na língua alemã. Por dez anos difundiu a cultura na Germânia FM e mais uma década na Popular FM. Por meio do veículo de comunicação, lia mensagens, anunciava eventos e mantinha vínculo com os descendentes de imigrantes na cidade.

Conforme Cláudia, a dedicação pelo Deutsches Program trazia satisfação e fortalecia laços com as pessoas. Além disso, dedicou 14 anos ao aprendizado de piano. O ouvido absoluto que permite identificar as notas a incentivaram a tocar gaita e flauta.

Conduta herdada

Conforme Cláudia, o avô registrava todas as histórias por onde passava. Com câmara artesanal, fotografava. Quando vieram para o Brasil, a comunicação com a terra natal era por meio de poesias e hinos. O patriarca contava os detalhes de forma agradável. O gesto era reproduzido por Waltraude e resultou no hino municipal.

Ajudar as pessoas é sua característica marcante. Das coletâneas de livros recebidas por contribuir com textos, doava em gesto simples. Cada exemplar recebia dedicatória sem assinatura com a frase: “Se você gosta de ler, este livro é pra você.”

As obras eram colocadas em locais com bastante circulação de pessoas com o objetivo de influenciar sem ser percebida. Amigos reconheciam a autora da ação por meio da letra. Para o professor e escritor Elio Dahmer, de Westfália, a colega era prestativa e contribuiu para a tradução de muitas obras do acervo no Centro de Apoio a Pesquisas e Encontros de Família (Capef).

“Era muito amiga. Sempre ajudava sorrindo”, diz. Na publicação de Élio, sobre a imigração alemã, contribuiu com a tradução de escritos em gótico, na fachada da igreja em Linha Clara. A participação enriqueceu a obra e agregou valor ao material cultural da região.

Colorada, Waltraude comemorava com o genro Derli. Registro alegra família

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