Peça mistura história bíblica e cultura gaúcha

Teutônia

Peça mistura história bíblica e cultura gaúcha

Encenação do nascimento do Piazinho Jesus inova ao debater assuntos contemporâneos sob a ótica religiosa

Peça mistura história bíblica e cultura gaúcha

O galpão cênico, típico dos rincões gaúchos, foi o principal cenário. A história, contada há mais de dois mil anos, se passa na “Querência de Belém”. De forma inédita, o espetáculo Natal Gaúcho – O Nascimento do Piazinho Jesus traz reflexões sobre a sociedade.

Segundo o sociólogo e diretor do espetáculo, Antônio Lopes, o espetáculo traz a essência da proposta do grupo teatro social porque provoca a discussão. “É um repensar do nosso posicionamento humano na sociedade a partir de temas de pontuais.”

Um dos temas abordados é a exploração humana, tanto da mão de obra na terra quanto da propriedade, do solo, da forma que se apropria das riquezas naturais sem devolver nada em troca.
Conforme Lopes, se discute as carências humanas, no que tange o latifúndio, comprando as pequenas propriedades e empurrando, cada vez mais, as comunidades para a zona urbana.
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De acordo com o diretor, cenas em que José e Maria procuram ajuda na hora do parto expõem uma sociedade doente e conseguem apoiar o próximo. “Quando Maria chega na zona urbana, em meio à multidão, não consegue ajuda, porque todos estão preocupados com seus próprios interesses.”

Desmatamento  em foco

O narrador, um peão simples, de sotaque forte, fala sobre os desmatamentos e o mau uso do solo com as plantações de eucaliptos e pinos. José e Maria, peão e prenda, tomam chimarrão ao redor da fogueira.

As lembranças são perpassadas durante as incursões do narrador que só é interrompido com o aviso do anjo Gabriel: prenda Maria seria mãe. Para fugir das guerrilhas farrapas, o casal usa uma carroça e segue para um atalho cheio de pedras.

A negação da hospedagem, o prejulgamento das comunidades fazem com que a prenda dê à luz em um galpão de uma localidade distante. É ali que receberão as visitas mais simples e importantes da história.

O espetáculo conta ainda com a participação do Grupo de Danças da Melhor Idade e Centro Cultural 25 de Julho, sob coordenação de Sônia Gomes. O dançarino com necessidades especiais Jones Sebastião Nunes de Moraes também faz parte do espetáculo.

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Segundo o secretário de Cultura Ariberto Magedanz, a iniciativa da secretaria é de integrar as comunidades e de alguma forma retribuir o incentivo dado aos grupos tradicionalistas ao longo do ano.

“É a primeira vez e ainda não temos a dimensão disso, mas nunca se viu na região algo semelhante. Foi o primeiro de muitos.”

O espetáculo teve trilha sonora feita ao vivo pela banda Luz de Candieiro e participações de invernada artística de CTGs da cidade.

Os três patrões “magos”

Cada patrão de um CTG representa um rei mago. Na encenação, ditam versos e poemas para o menino, junto a José e Maria. No espetáculo que conta de maneira regional a história do Piazinho Jesus, pela primeira vez, os três CTGs estão unidos em um evento. As festas ao longo do ano são feitas de forma setorizada, em cada bairro. Dessa vez, o espetáculo teatral reuniu os três patrões na encenação. Eles foram os três reis magos.

Para o patrão do CTG Rincão das Coxilhas, Leodi Pavi, levar a cultura gaúcha aos palcos é sempre gratificante. Afirma que é preciso integrar as comunidades para fortalecer às tradições. Pavi abordou ainda a importância deste espetáculo para a interação entre os CTGs.

Para o patrão do CTG Porteira dos Pampas, Manuel Castro, o envolvimento dos jovens e a maneira como a história bíblica foi abordada são inéditos. “Mensagem que fica é que devemos estender a mão e ajudar. Essa encenação com os três CTGs entrará para a história”.

José Hélio da Silva, o patrão “Tio Hélio”, como é conhecido do Centro Cultural Tradicionalista Querência Amada, se diz realizado. “Sempre quis trazer o teatro para dentro do CCT. É um sonho que estamos realizando com o teatro social”.

Amante da cultura tradicional sulista, Armando Guterres, 59, afirma que a região se abre para uma nova possibilidade de apresentação natalina. “Esta é a primeira vez que se faz um Natal gaúcho”. Vice-patrão do CTG Porteira, conta que os 18 jovens do CTG que integram o espetáculo, gostaram da ideia. “A invernada juvenil interage com os mais velhos. É um momento único”.

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