“Me sinto lajeadense mesmo sem o título”

Lajeado

“Me sinto lajeadense mesmo sem o título”

Padre Antônio Puhl recebe honraria proposta pela câmara de vereadores, hoje, às 17h

oktober-2024

Nos 18 anos à frente da maior paróquia católica da região, o padre Antônio Puhl se destaca pela simplicidade e espírito acolhedor. “O fato de receber os fiéis na frente da igreja até foi notícia. Na época quando comecei o padre saía da sacristia direto para o altar.”

Aos 65 anos, nesses 39 dedicados ao sacerdócio, tornou-se uma das pessoas mais conhecidas de Lajeado e do Vale do Taquari. Muito disso por seu espírito comunitário. Puhl atua como pároco da Paróquia Santo Inácio de Loyola desde 1998.

Esse trabalho será reconhecido em sessão solene, hoje, a partir das 17h, na câmara de vereadores, quando recebe o Título de Cidadão Lajeadense. “Me sinto lajeadense mesmo sem o título. Receber essa menção me deixa muito orgulhoso e aumenta minha responsabilidade.” Natural de Arroio Bonito, Mato Leitão, ingressou no seminário aos 12 anos. Em 17 de dezembro de 1976, foi ordenado na Igreja Matriz Santa Inês.

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Quem é o padre Antônio Puhl?
Antônio Puhl – É uma pessoa simples. Conservo muito o lado família, mesmo não sendo casado. Na paróquia, criamos uma grande família. Vivemos num clima familiar, muito acolhedor. Em dias de missa, me visto e fico na frente da igreja. Inclusive quando eu fui ordenado isso foi uma novidade. Naquela época, o padre ia da sacristia ao altar. Minha postura, de receber os fiéis nas escadarias foi matéria jornalística. Guido Ernani Kuhn, editor da Gazeta do Sul, em Santa Cruz do Sul, fez uma reportagem na época sobre o meu modo de me relacionar com quem frequentava as missas. Quantos problema eu resolvo lá. A pessoa queria falar com o padre, mas tem vergonha de ir na frente, no altar. Ali, eles conversam, pedem a bênção. Sou do contato pessoal. Eu vou aonde o povo está.

O que significa este título para o senhor?
Puhl – Eu vesti a camiseta de Lajeado. Eu me sinto cidadão mesmo sem esse título. Me sinto em casa, comprometido com a história. É um orgulho receber esta menção. Isso me compromete mais. O título é em representação daquilo que tento ser, em representação da igreja, o que ela significa para a comunidade. Não sou empresário, jurista ou político. Eu sou padre e eu gosto de fazer isso – evangelizar.

O senhor é a favor do casamento para os padres?
Puhl – Está na hora ou mesmo já passou a hora da gente pensar em um padre diferente. Ter pessoas casadas sendo ordenadas padres. Eu sou a favor disso. Eu sei que é um problema para a igreja, e até econômico, permitir o casamento. É um problema para a vida do padre, por que assim ele está totalmente disponível para a comunidade e, sendo casado, a prioridade seria a família, aquilo que tanto defendemos. Eu sou a favor de termos padres casados. Mas minha grande luta é de criar um novo jeito de ser padre. Levamos a ideia ao papa de readmitir os padres que deixaram a vida religiosa para se casar. Hoje estão bem e que eles fossem readmitidos ao exercício de sua vocação, seu ministério. Eu sei, é difícil, nunca vão tirar o celibato. A igreja está muita centralizada na nossa figura. Isso vai desaparecer. O foco vai ser diferente. A igreja vai ter o protagonismo dos leigos, dos diáconos e ministros. Eles vão assumir mais seu papel. O número de padres vai diminuir.

Qual a sua relação com a política?
Puhl – Eu sempre tive minhas opções políticas. Agora eu nunca vou querer aproveitar um púlpito de igreja para manifestar a minha ideologia política. Eu até fora posso dizer, opinar, e às vezes tenho que me controlar muito. Mas nunca vou pedir para votar em alguém. Eu acho política, acima de tudo, um ato de consciência. Então o padre como formador de opinião tem que falar da consciência política e não de um partido. Já fui convidado, senti uma pequena tentação, eu gosto, mas não existe possibilidade de ser candidato. A política, ela facciona, divide, separa. Não compete a mim.

Como buscar maior participação dos jovens?
Puhl – Tentamos um contato mais próximo deles pelas redes sociais. Ajuda, mas não congrega o jovem para a comunidade. Ele não é muito de comunidade, tem outras metas, outros ideais. Há um tempo atrás era uma alegria um jovem fazer parte de um grupo, hoje são poucos. O jovem precisa ser encontrado no lugar onde ele vive. Nós pecamos quando não vamos à escola. Elas são abertas e querem nossa participação. O desafio para buscar a maior participação dos jovens é adequar uma linguagem.

Quais os projetos previstos?
Puhl – Há dois anos, montamos uma planejamento estratégico. Agora é só executar. Eu não queria ir embora antes de poder entregar à comunidade uma casa paroquial nova, um estacionamento e um salão de festas. Não é para mim, é para os meus sucessores.

Quais seus hobbys preferidos?
Puhl – Sempre fui jogador de futebol. Atuava na meia-direita ou centroavante. Colecionei muitos títulos. Fui goleador sempre (risos). Somos entre 13 irmãos e a família é dividida em gremistas e colorados. Eu torço pelo Grêmio. Acompanho meu time, sofro um pouco se ele perde, mas nunca levei isso para a igreja. Gosto de churrasco e de visitar minha família.

Considerações finais
Puhl – Passei um ano muito difícil. Tive a tentação de ir embora. Não tenho mais, graças a Deus passou. Me sinto muito feliz porque nós conseguimos, adequar a situação, normalizar, ter uma nova diretoria e mostrar a identidade da igreja. Em conversa com o bispo, chegamos a conclusão que seria melhor eu ficar mais um ano. Receber esse título é um presente. No começo relutei, mas acabei gostando (risos). Desejo que Deus abençoe a todos.

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