As primeiras duas turmas do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja) concluem a graduação dos ensinos Fundamental e Médio às 15h de hoje.
A entrega dos certificados ocorre na sala de aula, em uma das galerias do Presídio Estadual de Lajeado, onde os 20 formandos cumprem pena, a maioria pelo regime fechado. A retomada dos estudos e a chance de ampliar as perspectivas de vida levaram 14 deles a prestarem o Enem neste ano.
Longe da sala de aula desde os 18 anos, Jeferson Limas, 33, estudou até a 7a série e está no presídio desde maio. Sem a formação necessária, afirma ter perdido oportunidades de trabalho. Cogitou desistir durante o curso, mas terminou a graduação como um dos destaques da turma.
A conclusão e a participação no Enem deram a Limas a esperança de um futuro melhor. Projeta buscar cursos profissionalizantes e técnicos a partir de janeiro, quando cumpre a pena estipulada. Segundo ele, os conteúdos também auxiliaram na integração entre os colegas e costumavam ser tema de conversas durante a rotina prisional.
Ele demonstra orgulho ao ver os resultados da formação nas perspectivas e mentalidade. “No início, era uma chance de ficar mais tempo foram da cela. Tu entra aqui com a mentalidade do crime, das drogas e o estudo muda tudo. Agora quero usar isso para o bem, para minha vida.”
Resultados positivos
Além dos conteúdos técnicos, a equipe da escola auxilia no desenvolvimento psicológico dos alunos. Atividades lúdicas e debates são conciliados com a pedagogia. A avaliação do trabalho é indicada como positiva pela coordenadora adjunta da Coordenadoria Regional de Educação (3ª CRE), Greicy Weschenfelder.
Segundo ela, com os resultados atingidos em 2015, a tendência é de criação de novas iniciativas a partir do próximo ano como forma de estímulo aos estudantes. Entre elas, estão o desenvolvimento de concursos de redação e oficinas para confecção de brinquedos pedagógicos. Os itens devem ser distribuídos em escolas estaduais.
A coordenadora ressalta o resgate de valores gerados com o curso, desenvolvido desde maio. “Eles estão voltando a sonhar e estão entendendo que o conhecimento será o caminho para atingir esses sonhos.”
Os benefícios são destacados pelo diretor da escola Adalberto Koch. Ele ressalta a mudança de mentalidade gerada com a proposta. Projeta a inclusão de atividades para conscientizar quanto ao gerenciamento de recursos do presídio no próximo ano.
Educação adaptada
As professoras Lucileia Vieira, 36, e Grasiela Both, 34, atuam na educação há cinco anos e ontem auxiliavam nos preparativos para a entrega. A possibilidade de trabalhar com a turma do presídio foi descrita por elas como uma oportunidade de desenvolvimento profissional e humano.
Para Lucileia, a experiência exige um controle psicológico maior, se comparado com o trabalho com outras turmas. Segundo ela, o trabalho desenvolvido gerou maior consciência entre os alunos e a retomada de valores.
De acordo com Grasiela, o amadurecimento e aumento da capacidade de reflexão sobre a vida estão entre os principais resultados.
