Bloqueio expõe importância do aplicativo

País

Bloqueio expõe importância do aplicativo

A disputa entre o novo e o velho ganhou destaque com as agressões de taxistas aos motoristas do aplicativo para smartphone, o Uber. Mas esse é só um exemplo de um conflito verificado em diversos setores da sociedade. Nessa quarta-feira, a Justiça mandou bloquear o WhatsApp, ferramenta que luta contra grandes operadoras de telefonia para se manter no mercado. A revolução social e mercantil dos aplicativos impressiona pela velocidade e número de usuários.

Bloqueio expõe importância do aplicativo

De um lado, os críticos. De outro, os apoiadores e usuários. A utilização de aplicativos no mercado de trabalho e no convívio social cresce a cada dia, ao mesmo tempo em que aumentam as ações de grandes operadoras de telefonia contrárias à falta de regulação das ferramentas tecnológicas. Ontem, o bloqueio determinado por uma juíza de São Bernardo do Campo provocou reações diversas.

“Vejo um grande problema no fato de uma decisão em primeira instância, de uma comarca não tão significante, expedir uma liminar que traga prejuízo a tantos milhões de pessoas”, opina o advogado especializado em competitividade global, Fábio Ostermann.

Ele critica o que chama de “oligarquia” dos grandes grupos de telefonia e alerta para a necessidade da sociedade se posicionar a favor da liberdade de escolha. “Ainda somos reféns de pequenos grupos. As pessoas precisam se mobilizar para impedir que nos impeçam de ter acesso irrestrito à tecnologia.”

De outro lado, as empresas de telefonia representadas pelo Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoa (SindiTelebrasil) seguem acusando determinados aplicativos para smartphones de “concorrência desleal”.

Em nota oficial, o sindicato sugere uma discussão mais profunda sobre esses recentes conflitos mercantis que, segundo a entidade, “afetam de forma significativa diversos setores econômicos”. Tese defendida por representantes do Ministério das Comunicações, e questionadas pela direção da Aneel.

Para o SindiTelebrasil, os efeitos desse advento dos aplicativos de troca de mensagens sobre a indústria de telecomunicação tradicional ainda precisam ser dimensionados e avaliados de “forma mais responsável e séria”. Cita ainda a necessidade de estudo pelo Estado, de acordo com o que prevê a Lei Geral de Telecomunicações. A justificativa seria “garantir uma competição livre”.

Ostermann discorda. “A Constituição é falha. Diz que o Estado precisa ser responsável, de certa forma, pela regulação da concorrência. Mas com normas vagas. E com isso, pequenos grupos fortes e bem articulados se beneficiam da lei para se perpetuarem, vitimando a livre concorrência. Esses grupos oligopolistas de telefonia querem ganhar no grito. Mas não vão.”

Apesar da disputa, o bloqueio de quarta-feira, segundo a própria SindiTelebrasil, não partiu de qualquer ação movida pelas concessionárias e empresas do ramo de telecomunicações. Conforme divulgou com exclusividade o site do Conjur, a decisão de tirar do ar o WhatsApp por 48 horas é decorrente de um descumprimento judicial que solicitava quebra de sigilos de um usuário.

“É complexo avaliar a expansão desse App”

Formado em Publicidade e com especialização em Mídias Sociais, César Boscaini Krunitzki comenta a incursão do WhatsApp no mercado de trabalho. “Há pouco tempo atrás, utilizar redes sociais dentro do ambiente de trabalho era expressamente proibido. Mas com o tempo, e geralmente um passo atrás, as empresas acabam se apropriando de ferramentas utilizadas pela sociedade.”

Para ele, a comunicação entre marcas e consumidor se tornou mais “pessoal” com o advento do aplicativo nessas relações. Segundo o publicitário, grande parte dos consumidores ainda mantém um certo trauma com os serviços de contato com as empresas via telefone ou e-mail.

“Com o WhatsApp, parece que não há possibilidade de não receber retorno”, opina. Krunitzki cita que muitas pessoas já abandonaram os tradicionais e-mails de marketing para apostar em troca de mensagens via WhatsApp.

Segundo o especialista, o App aproxima o cliente da marca de forma mais “saudável”. “A impressão é que esse aplicativo mascara um pouco o lado comercial de uma comunicação. O que já não ocorre tão bem com o Facebook.”

[bloco 1]

Sobre a febre do WhatsApp, Krunitzki prefere não avaliar as possíveis causas desse fenômeno de mais de 600 milhões de usuários em todo o mundo. “Não me sentiria à vontade para tentar decifrar essas razões. Trata-se de uma ferramenta simples, mas que por algum motivo todos passaram a usar. E como ela vai se reinventando, é arriscado opinar sobre o futuro dela.”

“O App me trouxe liberdade”
Caixa bancária, Paula Arenhart Lampert, 34, tem surdez bilateral profunda desde o nascimento, por contágio com rubéola durante a gestação. Aprendeu leitura labial para se comunicar. Segundo ela, o contato com o WhatsApp lhe trouxe maior qualidade de vida. “Sem dúvida nenhuma, melhorou muito, principalmente com relação à segurança, tranquilidade e à minha liberdade e da minha família.”

Paula conta que agora consegue se comunicar a qualquer momento, marcar consultas médicas, salão de beleza, encomendar comida, entre outras ações, sem precisar pedir auxílio. “Moro com minha filha de 3 anos e, com o WhatsApp, consigo fazer tudo isso sem precisar pedir auxílio de outra pessoa.”

Ela ficou bastante preocupada com o bloqueio anunciado na quarta-feira. Diz não ter compreendido em um primeiro momento. “Como agiria em caso de alguma necessidade urgente?”, questiona. “Senti que havia perdido a liberdade, por causa de minha limitação.” Com o desbloqueio, a tranquilidade voltou.

Segurança no Moinhos d’água

Um grupo de moradores do bairro Moinhos d’Água, em Lajeado, criou um grupo de WhatsApp para coibir a violência na localidade e realizar denúncias por meio do aplicativo. Para tal, buscou apoio de policiais civis e militares, que também participam do mesmo grupo. A intenção dos integrantes, segundo Paulo Roberto Schneider, um dos usuários, é expandir para outros bairros.

A decisão judicial

Nessa quarta-feira, as principais operadoras de telefonia móvel foram intimadas pela Justiça a bloquear o aplicativo de mensagens WhatsApp em todo o território nacional por até 48 horas. O bloqueio iniciou à 0h de ontem.

A decisão partiu da Justiça em São Bernardo do Campo, cidade de São Paulo, em função de uma investigação de roubo a banco e caixas eletrônicos. A determinação foi uma punição ao Facebook, dono do aplicativo WhatsApp, que não teria liberado mensagens usadas pelos supostos criminosos para a investigação policial.

Já no início da tarde de ontem, nova decisão, dessa vez do desembargador Xavier de Souza, da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, concedeu liminar para que as operadoras de telefonia móvel voltassem a oferecer acesso ao WhatsApp.

Conforme a decisão, “não se mostrou razoável que milhões de usuários sejam afetados em decorrência da inércia da empresa em fornecer informações à Justiça.

Auxílio nos negócios

O empresário Cannã Weber, idealizador da marca de camisas Adamant, em Lajeado, realiza quase 90% dos contatos de venda e compra dos produtos necessários por meio do WhatsApp. “Eu passo o dia utilizando esse aplicativo.

Como eles costumam ser muito corridos, o fácil acesso e o armazenamento das informações se tornam muito útil no meu trabalho”, conta.

Pelo smartphone, ele se comunica com fornecedores, clientes e terceirizados de forma prática. Até as cobranças costumam ser realizadas por troca de mensagens no aplicativo. “Criei até um grupo onde consigo comercializar um bom número de camisas.”

O empresário lamentou a decisão que bloqueou a ferramenta durante toda a manhã de ontem. Quando o aplicativo voltou ao ar, eram diversas mensagens aguardando por leitura. Entre elas, alguns clientes. “Claro que existe telefone, e-mail e outras formas de comunicação bastante úteis. Mas acho o WhatsApp mais ágil.”2015 12 18 RODRIGO MARTINI case canna weber

Acompanhe
nossas
redes sociais