Ordenha com robô alivia mão de obra

Modelo associativo

Ordenha com robô alivia mão de obra

Dália Alimentos aplicará R$ 20 milhões na construção de quatro condomínios leiteiros. A primeira estrutura foi inaugurada ontem, em Nova Bréscia, com capacidade de alojar 262 animais. São 16 famílias associadas. Sistema operado por robôs elimina trabalho braçal, qualifica o processo produtivo e ameniza falta de mão de obra.

Ordenha com robô alivia mão de obra

Um dos projetos mais ousados da cadeia leiteira no RS foi colocado em prática ontem, em Nova Bréscia, sob coordenação da Dália Alimentos de Encantado. Dezesseis famílias, lideradas pelo associado Ademir Lorenzon, deixarão de lado o trabalho braçal de tirar leite das vacas e fazer o trato. O condomínio Dei Produttori di Latte Bréscia é o primeiro a ter ordenha robotizada executado de forma associativa na América Latina.

O aspecto pioneiro é ressaltado pelo presidente do Conselho de Administração, Gilberto Antônio Piccinini. A escolha pela ordenha robotizada foi motivada pela busca de uma solução para o déficit de mão de obra na região e uma alternativa para incrementar a produtividade. Esses condomínios já funcionam na produção de suínos, em que a recria de leitões para a terminação é feita de forma conjunta.

Na área do leite, a cooperativa buscou subsídios e modelos implantados na Europa e nos EUA. “Muitas famílias não têm como competir com a realidade de produção que está sendo implantada. Estruturado em sociedade, com alta tecnologia e baixo custo de produção, um produtor que é pequeno em escala pode ficar grande com os demais do grupo e se manter na atividade.”

[bloco 1]

Segundo o presidente-executivo da cooperativa, Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, o projeto surgiu depois de várias viagens, estudos e debates. A cooperativa implantará outros três condomínios automatizados (Arroio do Meio, Candelária e Roca Sales), com investimento total de R$ 20 milhões, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Todos em construção.

De volta à atividade

Após desistir por falta de mão de obra há 27 anos, Ademir Lorenzon, 62, é um dos 16 produtores a integrar a associação. Como diferencial, destaca o uso da tecnologia para facilitar o trabalho, fazer o controle da qualidade e aumentar a produtividade.

Por não terem férias ou folga, poucos jovens investem no setor. Essa nova forma de produzir pode atrair novos criadores. “É possível melhorar a qualidade de vida sem precisar migrar para a cidade.” A estrutura onde Lorenzon alojará 20 animais foi construída na localidade de Linha Tigrinho Baixo, numa área de 13 hectares, distante cinco quilômetros da sede. Estão no condomínio 115 vacas em lactação e 66 animais entre vacas secas e novilhas.

A produção atual é de 2,5 mil litros, com estimativa de atingir 6,5 mil litros em sua capacidade máxima. “Cada produtor é responsável por comprar as vacas, fornecer o alimento e são remunerados por cotas, com base no número de animais alojados.” São de responsabilidade da cooperativa a infraestrutura, tecnologia e a administração técnica.

“O desafio está na gestão”
Assessor de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Márcio Langer avalia que a robotização facilita a vida do produtor, sendo uma alternativa em localidades onde há escassez de mão de obra.

Destaca como desafios a gestão conjunta, a divisão de funções e os lucros. “Na Europa temos uma cultura e esses modelos deram certo. Aqui é uma novidade.”

Quanto à robotização do sistema de ordenha e à aglomeração de todo rebanho em um único espaço, Langer demonstra receio. “O computador analisa números e não sentimentos. Ter o produtor presente no processo é importante.”

[bloco 2]

Incremento no valor adicionado

O prefeito Gilnei Agostini estima aumentar em R$ 150 mil anuais o retorno de ICMS com o novo complexo leiteiro. Para ele, o sistema automatizado supre a escassez de trabalhadores no interior. “Esperamos que encoraje outros produtores a se organizar e estruturar seus próprios condomínios.”

Cerca de R$ 650 mil foram investidos pelo poder público na compra da área e infraestrutura. Por ano, 200 produtores vendem seis milhões de litros de leite, com projeção de elevar para dez milhões até 2018.

Segundo Agostini, o setor primário representa 80% da arrecadação, cujo orçamento é de R$ 18 milhões. Desse montante, 15% é dividido entre as secretarias de Obras e Agricultura. Outra área incentivada pelo Executivo é a criação de frangos e suínos. Nos últimos dois anos, foram construídos 15 aviários no sistema dark house, cada um com capacidade de alojar 48 mil aves. Foram aplicados R$ 15 milhões.

Para 2016, outras 20 estruturas devem ser erguidas. “Vamos elaborar um projeto para conceder um incentivo de até R$ 70 mil por empreendimento, cujo montante deve ser repassado ao produtor em oito anos, a fundo perdido.”

O município é o quarto maior produtor de frangos do estado. Em 2014, foram abatidos 36 milhões de animais, criados por 140 produtores. Na área de suinocultura, está em fase de conclusão a primeira granja de bem-estar animal com capacidade para 2,5 mil matrizes, a partir de maio. Por ano, serão produzidos 70 mil leitões.
Em 2015, outros sete chiqueiros foram construídos. Com os projetos desenvolvidos na área rural, Agostini estima aumentar o valor adicionado em mais de R$ 30 milhões nos próximos anos.

Para entender

O Projeto Associativo de Produção Leiteira com Ordenha Robotizada busca reunir produtores em torno de um empreendimento de produção associativa e visa o aumento da produtividade e da renda dos associados. Os produtores serão sócios do condomínio e responsáveis pela alimentação e aquisição das vacas. Eles participarão por meio da compra de cotas, de acordo com o número de animais que alojarão.

O investimento da Dália Alimentos nos quatro projetos é de R$ 20 milhões. Cada projeto integrará, em média, 15 famílias e 262 animais, totalizando 60 famílias e 1.048 animais alojados. Com o investimento, a meta é produzir 30 litros de leite por vaca. Hoje essa média é de 20 litros.

Acompanhe
nossas
redes sociais