Safra da eficiência

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Safra da eficiência

Com a tendência de lucratividade apertada, inclusive para a soja, a palavra de ordem é gestão. O produtor precisa buscar estratégias para maximizar os recursos disponíveis, calcular formas de reduzir os custos e usar cada centavo da melhor forma. A meta é um cultivo menos oneroso, colhendo igual ou mais do que em safras anteriores.

A safra de verão será uma das mais onerosas até hoje. Todos os insumos utilizados direto e indiretamente na lavoura registram aumento – fertilizantes, defensivos, sementes, óleo diesel, energia elétrica, mão de obra e até os juros do custeio. A ocorrência do El Niño, que traz chuvas acima da média nas principais regiões produtoras de grãos, agrava o quadro.

Segundo levantamento da Conab, a safra de grãos 2015/16 está estimada entre 208,6 e 212,9 milhões de toneladas, com uma variação que pode chegar até a 2,1% (4.384 mil t) acima da safra 2014/15, quando registrou 208,5 milhões de toneladas.
A soja aumenta ainda mais a participação nesses números, podendo chegar a 102,8 milhões de toneladas e acréscimo estimado entre 4,9 e 6,6 milhões de toneladas em comparação com a safra anterior, cuja produção somou 96,2 milhões de toneladas.

Já o milho primeira safra, com produção estimada entre 26,5 e 28,2 milhões de toneladas, registrou redução entre 11,8 e 6,4% em comparação à safra 2014/15, de 30,1 milhões de toneladas. O trigo também deve sofrer uma redução de 6,8% frente ao último levantamento, devendo chegar a 6,2 milhões de toneladas, 4,3% superior à da safra passada. Isso em virtude do excesso de chuvas nas regiões produtoras.

Segundo levantamento da Consultoria Agroeconômica, o agronegócio brasileiro deve continuar na contramão da economia em 2016. Para o consultor Carlos Cogo, área plantada, produção e faturamento devem continuar crescendo. O Valor Bruto da Produção (VBP) da agricultura brasileira, para outubro/2015, está estimado em R$ 319,8 bilhões em 2016, 4,3% acima do estimado para este ano.

Destaques para a soja, cujo faturamento deve atingir R$ 105,4 bilhões, cana-de-açúcar (R$ 50,5 bilhões), milho (R$ 36,8 bilhões) e café (R$ 22,3 bilhões). O PIB da Agropecuária deverá crescer 2,4% no ano que vem, contra uma projeção de novo recuo no PIB brasileiro, estimado em, pelo menos, -1,5%.

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Alerta na indústria 

O aumento da produtividade por hectare não compensará a área reduzida. A diminuição da oferta de milho impactará diretamente nas indústrias de aves, suínos e frangos, que têm no grão a base para a alimentação dos plantéis.

Segundo estimativa da Emater, a demanda chega a seis milhões de toneladas, enquanto a produção será de 4,4 milhões. Para complementar, a saída será importar o cereal de estados como Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul. Com o frete e o óleo diesel mais caros, o processo produtivo será mais oneroso e refletirá em preços mais elevados dos produtos nos supermercados.

De acordo com Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Produtos Suínos do Estado (Sips), mesmo com o aumento da produtividade nos últimos anos, a oferta é insuficiente. Até o surgimento dos milhos OGMs (transgênicos), havia condições de importar da Argentina, o que se inviabilizou pelas restrições estabelecidas. “Pela falta do cereal, perdemos a competitividade, em especial, das cadeias de aves e suínos.”

Para Kerber, a diferença de custo entre o RS e outros estados obriga os setores de produção (que têm no milho insumo básico) a ser mais eficientes e buscar aumentar as vendas no mercado exterior para manter as margens de lucro. “O bom status sanitário favorece este cenário. Mas em compensação, com alta nas exportações, eleva o preço desses produtos no mercado interno.”

Para Cláudio de Jesus, presidente da Associação de Produtores de Milho (Apromilho-RS), o ideal é que haja políticas públicas para incentivar a produção. Um começo poderia ser a oferta de melhor condições de seguro, pois o produtor precisa de proteção.

Na dose certa 

Diante do cenário menos favorável, produtores traçam estratégias para otimizar os recursos disponíveis e garantir boa rentabilidade. Waldirio Beudler, 63, de Linha Wink, em Teutônia, semeará 20 hectares de milho em duas etapas (safra e safrinha) e outros 23 hectares com soja. Como em ciclos anteriores, segue regras fundamentais para evitar prejuízos.

Focar a gestão, cuidar da qualidade das sementes utilizadas e da forma de instalar a lavoura, plantar bem sem abrir mão da tecnologia, fazer uso racional dos insumos para reduzir custos e ter um melhor retorno em produtividade também fazem parte do planejamento estratégico. “Saber gerenciar todas as etapas e estar atento às oscilações do mercado além da porteira pode ajudar a elevar o lucro em anos de rendimentos apertados.”

A compra antecipada de insumos, ainda em junho, gerou economia de até R$ 22 por saco de adubo. Mesmo com o clima de incertezas quanto aos preços, produção e condições meteorológicas, as expectativas são otimistas. Beudler espera repetir o resultado da safra passada quando colheu uma média de 150 sacos de milho e 75 sacas de soja por hectare. O preço da saca ficou em R$ 26 e 60 respectivamente.

Antecipar a venda dos grãos é um risco que o produtor evita correr. “Prefiro primeiro colher. Caso tenha prejuízos, não precisarei me preocupar em como honrar o contrato.” Após a troca do trator, cujo investimento somou R$ 30 mil, não projeta a aquisição de máquinas ou implementos para os próximos anos.

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Acompanhamento técnico 

No campo, a orientação dos 58 engenheiros agrônomos vinculados à Cooperativa Cotrijal, com sede em Não-Me-Toque, é pelo aprimoramento no uso de insumos e tecnologias disponíveis aos mais de cinco mil agricultores associados, 90% deles produtores de grãos (soja, milho e trigo).

O engenheiro Luiz Carlos Rohr percorre o campo todos os dias e recomenda um trabalho preventivo contra ataque de pragas e doenças em função do aumento das chuvas provocadas pelo El Niño. Aconselha o produtor a não reduzir o uso de tecnologias, a planejar a necessidade de fazer novos investimentos em máquinas e implementos e cuidar bem do solo. “Nosso trabalho é ajudar o produtor a gerir melhor seu trabalho na lavoura.”

Entre os erros mais comuns em épocas de alta nos custos, enumera a escolha de sementes de qualidade inferior, aplicação de menor quantidade de insumos e interrupção da rotação de culturas. “Isso representa menor produtividade e não economia.” Segundo ele, há muitas práticas de manejo da lavoura que não custam mais, como fazer o plantio, aplicar o adubo, os herbicidas, fungicidas e inseticidas no momento certo.

Para a gerente da Cooperagri, de Teutônia, Cristiana Terra, especializada em gestão empresarial, o produtor deve buscar orientação técnica para qualificar a gerência do negócio. “Não se pode enxergar apenas o que sai do bolso. Estar ciente do que mantém a produtividade e os lucros é fundamental.”  Faz cinco anos, a cooperativa desenvolve em parceria com o Sebrae programa de gestão e custos com 12 produtores. Com o acompanhamento, aprendem a quantificar os resultados.

Atenção redobrada ao solo  

Na propriedade dos irmãos Wilfüng (foto), em Linha Lenz, Estrela, um dos primeiros aspectos observados é a fertilidade do solo. Anualmente são feitas análises químicas para guiar as aplicações de adubo e fertilizantes nas lavouras de soja e milho. A formação de palha ajuda a manter a umidade em épocas de escassez de chuva.

A escolha correta da semente é levada em conta, principalmente no milho, responsável por 50% do rendimento final. Juntos Gabriel, 67, e Danilo, 61, cultivarão mais de 30 hectares de soja. O milho ocupará 20 hectares. Parte do cereal será destinada à confecção de silagem para alimentar o rebanho leiteiro. O restante será vendido. A escassez de milho no mercado ajuda a elevar o lucro por saca. “Conseguimos vender o grão estocado da safra passada por R$ 35 e a tendência é de subir”, destaca Danilo.

Apesar do excesso de chuva na lavoura de trigo, os resultados foram satisfatórios. Para Gabriel, cultivar o grão no inverno ajuda a proteger o solo da erosão e da proliferação de ervas daninhas. Os custos assustam. O óleo diesel registra aumento de quase 10% e insumos como fertilizantes e adubos chegam a 30%.

Danilo ainda precisa pagar parte do financiamento para compra de um trator. “Se tivermos uma boa safra, primeiro pago as dívidas. Caso sobre, pensamos em como investir para ampliar o rendimento da propriedade.” Ele nunca contraiu empréstimos bancários. Atribui isso ao planejamento e controle rígido das finanças. “Muitos nunca fizeram contas. Incentivados pelos agentes financeiros e vendedores, compram na emoção e depois quebram.”

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“Ser eficiente sem deixar encolher a produtividade”

Após registrar aumento de 30% nos custos comparado com o ciclo anterior, Robson Augusto Steffens, 22, de Arroio do Meio, aposta no bom gerenciamento da propriedade e na diversificação para manter os resultados positivos. “A maior dificuldade será o clima. Chove muito e isso pode atrapalhar a semeadura e desenvolvimento das plantas.”

Nos últimos cinco anos, foram investidos R$ 500 mil em infraestrutura e máquinas. A última compra foi um trator no início do mês. Para deixar em dia os financiamentos e consórcios, faz um rigoroso controle da receita e despesa. “Existe capital de giro, reserva de dinheiro no banco para eventuais dificuldades e as sobras são aplicadas para melhorar a produtividade do setor leiteiro, da produção de grãos e prestação de serviços para terceiros.”

Com a economia baseada em três atividades, Steffens manteve a renda mensal estável. Outro diferencial é a busca por tecnologias inovadoras hoje disponíveis – sementes, adubos, fertilizantes, máquinas e orientação técnica. Cultiva 35 hectares de milho (safra e safrinha) por safra, tudo destinado para a confecção de silagem para o rebanho de 46 vacas leiteiras, cuja produção chega a 930 litros por dia. “Plantar milho para grão é inviável pelo alto custo e baixo preço.”

A soja ocupará 30 hectares, cujo rendimento projetado é de 75 sacas por hectare. Para driblar as adversidades meteorológicas, optou por sementes mais resistentes e de alta performance. Steffens enumera quatro itens fundamentais para enfrentar os obstáculos da próxima colheita.

O primeiro é diagnosticar, identificar o principal fator limitante ao aumento do rendimento de cada cultura. O segundo é inovar, buscar as novas tecnologias amparado por uma boa orientação técnica. O terceiro é aplicá-las corretamente na lavoura e por último fazer contas para otimizar cada vez mais os custos. “Avaliar sob ponto de vista técnico e financeiro o que realmente aumenta ou reduz a rentabilidade da lavoura, ou seja, o que proporciona mais dinheiro no bolso no final da safra.”

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