Os ácaros são seres tão pequenos que, muitas vezes, não é possível vê-los com os próprios olhos. Eles estão em todos os lugares e são, inclusive, causadores de doenças – tanto em espécies animais quanto em vegetais.
Mas o que poucos imaginavam é que os próprios ácaros poderiam ser utilizados no controle biológico de plantações de alimentos. É nesse contexto que atua a equipe do Laboratório de Acarologia, coordenada pelo professor Noeli Juarez Ferla, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Univates (PPGBiotec), Lajeado.
Há cerca de dez anos, os pesquisadores desenvolvem trabalho conjunto com produtores de morango dos vales do Taquari e Caí e da Serra Gaúcha. Os produtores buscam na Univates aquilo que evita utilizarem pesticidas: ácaros predadores que se alimentam de outros ácaros.
Conforme o professor Ferla, há dois grupos de ácaros: aqueles que se alimentam de plantas (herbívoros) e aqueles que se alimentam de suas presas (predadores). “Estes reconhecem suas presas pelo odor e os comem.”
No ambiente controlado do laboratório, são testadas como essas relações acontecem, para que possam ser aplicadas no ambiente natural, conta. A equipe coleta os ácaros e os leva ao laboratório para observá-los em nível microscópico. Em seguida, os pesquisadores aumentam as populações dos predadores e os devolvem para fazer o controle nas plantações.
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Menos custos e mais sabor
Segundo Ferla, o morango produzido pelo controle biológico tem um sabor mais doce ou natural. “É no momento em que a planta se defende de alguns organismos que ela produz o sabor (substâncias secundárias) e, com a utilização de ácaros, podemos controlar a quantidade de organismos que queremos manter.” Isso não acontece com o uso de pesticidas, pois eles acabam com todos os seres e, assim, as plantas perdem a possibilidade de produzir seu odor e, por consequência, o seu sabor.
O processo de controle biológico com ácaros é lento. O resultado é melhor percebido depois de dois ou três anos.
São fornecidos ácaros predadores para produtores que têm desde 200 plantas até 35 mil plantas. Outro benefício é a diminuição dos custos de produção, já que não é necessária a compra de pesticidas e outras substâncias químicas.
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Perdas reduziram em 95%
O produtor Delmar Kapler, de Arroio do Meio, utiliza os ácaros há três anos para fazer o controle de pragas nos 12,5 mil morangueiros cultivados. “Meu cultivo é orgânico e perdia até 95% da produção. É aplicar pesticida ou arcar com o prejuízo. Hoje colho uma fruta saudável e graúda.”
Outras vantagens são o sabor das frutas e o aumentou do rendimento por pé. “Passa de 300 gramas.”
A produção de morangos iniciou há seis anos para complementar a renda baseada no cultivo de hortaliças e produção de peixes. Por ciclo são colhidos 3 mil quilos de morangos. Por serem orgânicos, o preço é mais elevado e chega a R$ 17 o quilo.
Em Bom Princípio, sete produtores da Associação Ecomorango utilizam os ácaros para fazer o controle de pragas. Conforme o presidente José Veit, os primeiros testes iniciaram há dez anos. Na época o ácaro predador era comprado de São Paulo. Com a pouca eficiência recorreram ao laboratório da Univates. “Quando aplicado corretamente ele elimina 100% as pragas.”
O grupo cultiva 60 mil morangueiros, cuja produção média por pé chega a 500 gramas por ano. A bandeja de 300 gramas é vendida a R$ 5 em feiras ecológicas e mercados da Serra Gaúcha.