Quilombo retrata história afrobrasileira

Dia da Consciência Negra

Quilombo retrata história afrobrasileira

Dia da Consciência Negra celebra conquistas do povo que sobreviveu à escravidão

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Vale do Taquari –  A história da comunidade quilombola Vovô Theobaldo, em Arroio do Meio, retrata a trajetória dos negros no Brasil. Única filha viva do ex-escravo Alcides Geraldo da Silva, criador do quilombo, Araci da Silva, 78, guarda na memória os caminhos percorridos pelo pai ao fugir da senzala. Silva chegou ao Vale do Taquari após passar alguns anos em um quilombo chamado Moçambique. Araci conta que o pai morou em Roca Sales junto com o irmão Paulino antes de adquirir as terras que hoje constituem a comunidade, no distrito de Palmas.

“Um advogado de Encantado emprestou o dinheiro para comprar o terreno e iniciar as construções”, relata. O local fica no alto do morro São Roque. Na época, Silva já havia casado com a mãe de Araci, Maria da Glória. Desde o início, a família trabalhou unida para pagar o empréstimo e sobreviver. “Meu pai acordava a 1h da manhã, para ir até Encantado e vender produtos da roça, toras e carvão”, relata. Lembra que tanto ela quanto os irmãos aprenderam a trabalhar ainda na infância para ajudar o patriarca.

“Nossa vida foi muito dura, mas assim ele conseguiu nos criar”, assinala. Araci começou a trabalhar aos 7 anos de idade. Afirma que a principal diversão de todos era “com a enxada”. Na roça, era encarregada de entoar cânticos tradicionais.  Araci frequentou a escola por cinco anos. Lembra de acordar às 4h e caminhar quilômetros com os irmãos para ir à aula. “Hoje eu estranho porque o trabalho é mais fácil e tem escolas mais perto”, ressalta.

Relata ainda avanços a partir do reconhecimento oficial do quilombo, em 2005. Desde então, a comunidade passou a ter água encanada e luz elétrica, além de ter acesso ao Bolsa Família.  Quanto ao Dia da Consciência Negra, Araci se diz orgulhosa pelo reconhecimento das origens africanas no Brasil, mas sente falta da união que existia na comunidade quando os irmãos ainda eram vivos.

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Fugas e curas

Mesmo adquirindo a área, o pai de Araci não se livrou da perseguição aos escravos fugidos. Ela lembra de duas ocasiões em que os quilombolas precisaram se esconder para não serem feridos ou levados de volta para senzala.  “Uma vez vieram a pé e outra com cavalos, mas não conseguiram. Foi um sacrifício, pois correram pelo mato para não morrer”, conta. Após uma das fugas, diz, o pai chegou em casa e rezou ajoelhado, agradecendo a Deus por continuar vivo.

A fé sempre fez parte da comunidade. O catolicismo se mistura às religiões de matrizes africanas como ocorre em praticamente todo o Brasil. Além de trabalhar, Alcides da Silva também se dedicava ao curanderismo, ajudando moradores da localidade e de outras cidades da região.

Outra tradição aprendida desde cedo pelos quilombolas foi a capoeira. Filha de Araci, Loni da Silva, 49, afirma que a mistura de dança com luta criada pelos escravos brasileiros foi ensinada de pai para filhos. Hoje a tradição persiste e é difundida por meio de projetos culturais.

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