Vale do Taquari – Manusear aparelhos eletrônicos antes de dormir, em especial smartphones, notebooks e tablets, pode ser mais prejudicial ao sono do que ingerir cafeína. Conforme pesquisa divulgada na revista Science Translational Medicine, a emissão de luz dos equipamentos diminui a produção de melatonina – substância responsável por notificar o cérebro que chegou a hora de adormecer.
O estudos foram realizados ao longo de 49 dias com cinco voluntários norte-americanos. Os participantes foram submetidos pelos pesquisadores a diferentes aplicações de cafeína e ao uso de um dispositivo móvel.
Enquanto o atraso do sono daqueles que ingeriram um dose de café expresso ficou em cerca de 40 minutos, quem foi exposto à luz dos aparelhos demorou quase 85 minutos para dormir. Combinadas as condições, o tempo passou para 105 minutos.
Os resultados servem de alerta à sociedade, visto a crescente demanda das pessoas pela tecnologia. No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional de Telecomunicações (Aneel) contabiliza mais de 270 milhões de linhas de telefonia celular. O número representa 1,3 aparelho por brasileiro.
A recomendação, feita em especial aos jovens, é deixar celular, tablet ou notebook longe da cama e desligá-los pelo menos uma hora antes de deitar. Mas o período antecedente ao sono é apontado por muitas pessoas como um dos poucos livres durante o dia para conseguir dispensar atenção a e-mails, notificações nas redes sociais e acompanhar noticiários.
Este é o caso do auxiliar administrativo Vanderson Stoll, 23, de Santa Clara do Sul. Habituado a ir dormir entre 23h e 23h30min, dedica cerca de 15 minutos diários diante da tela do Iphone. “Vejo tudo o que aconteceu ao longo do dia, checo e-mails e respondo mensagens dos meus amigos, coisas que não tenho condições de fazer no trabalho.”
Stoll controla o horário. “Sei que se ficar muito tempo, dormirei tarde. Daí complica no dia seguinte.” Apesar do hábito, diz não sentir grandes interferências na hora de pegar no sono. A única exceção é quando lê noticiários negativos sobre economia ou política. Ao terminar, desliga a internet. O aparelho, que permanece durante a noite sobre o bidê ao lado da cama, serve ainda como despertador.
Cafeína como aditivo
O principal propósito dos pesquisadores foi mostrar a interferência da cafeína no relógio biológico. Não apenas averiguar porque o consumo noturno de café posterga a hora de dormir, mas também para oferecer aos viajantes uma forma de limitar os efeitos do fuso horário.
De acordo com os cientistas, alguns participantes se mostraram mais sensíveis ao café. Ele funcionou como aditivo e foram notados efeitos como variação do humor, aceleração do batimento cardíaco e aumento da ansiedade.
Apesar das informações obtidas nos estudos, mais pesquisas são necessárias para determinar de que forma os viajantes podem utilizar a cafeína para regular o relógio biológico.
Falta de sono afeta organismo
De acordo com o Instituto Brasileiro do Sono, um adulto dorme em média de sete a oito horas diárias. Estima-se que apenas 5% da população tenha capacidade para descansar por horário menor e manter o equilíbrio do organismo sem sentir reflexos no cotidiano.
Como efeitos colaterais está a falta de atenção ao longo do dia, dificuldades de memória e menor capacidade de resolver problemas. Além disso, afeta o metabolismo. Cresce a possibilidade de ganho de peso.
O instituto lista quatro benefícios do sono adequado:
• Levar o organismo à condição em que começou o dia. Como se a reserva de substâncias químicas que regulam o corpo fosse reabastecida.
• Controle da temperatura corporal.
• Toda informação recebida durante o dia é consolidada no decorrer do sono.
• Ocorre redução da pressão arterial, diminuição dos batimentos cardíacos, relaxamento muscular, redução da produção de urina, ou seja, os vários sistemas descansam.
Números
Cafeína retarda o sono em 40 minutos. No caso do celular, período chega a 85 minutos.
Brasileiro permanece cerca de 3h40min diárias na internet via celular.
Existem no país 270 milhões de linhas, quase 1,3 aparelho por pessoa.
