Debate enaltece proposta da feira

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Debate enaltece proposta da feira

Construmóbil realizou ontem o debate “Cidades Criativas”. Seis painelistas discutiram o desenvolvimento dos centros urbanos a partir dos eixos Patrimônio Histórico, Ambiente e Desenvolvimento, Economia Criativa, Espaços Públicos e Mobilidade Urbana. Mudança de cultura e necessidade de quebrar paradigmas sociais e comportamentais permeiam discussão

oktober-2024

Construmóbil – Presidente do evento, Clécio Vargas enalteceu a realização do debate como forma de aproximar as discussões da Construmóbil com as necessidades da comunidade. Segundo ele, nas edições anteriores, os assuntos ficavam mais restritos aos setores que participavam da feira.

Crédito: Anderson Lopes“O Cidades Criativas tem a proposta de deixar uma marca da Construmóbil”, ressalta. As discussões do debate serão concentradas em um documento que servirá de referência para as ações futuras no setor.

Os painelistas iniciaram abordando os conceitos de inovação, conexões e cultura, presentes em estudo sobre Economia Criativa. Para os debatedores, eles são essenciais em um novo processo de desenvolvimento urbano com qualidade de vida.

Doutora pela Universidade Politécnica da Catalunha (Espanha) e professora de Urbanismo na PUC/RS, Cibele Figueira citou como exemplo o trabalho desenvolvido no Centro de Cultura, Educação e Negócio Criativo Vila Flores, em Porto Alegre.

Segundo ela, o projeto desenvolvido na capital abriu um espaço para discutir novas ideias e extrapolar conceitos pré-estabelecidos. “Ali começamos a discutir as questões do espaço público e de como integrar a comunidade, o que é muito difícil.”

Para que ações semelhantes funcionem, ressalta a importância da construção coletiva. Conforme Cibele, de nada adianta apresentar projetos prontos e esperar que a comunidade participe, pois não haverá identificação com a proposta.

Gestora do Projeto Vila Flores, a publicitária Aline Bueno lembra que há muitas pessoas fazendo coisas interessantes, mas que nem sempre esses protagonistas conseguem se conectar em prol de um projeto maior, que englobe a cidade como um todo.

Para que isso ocorra, ressalta a importância do poder público, para assegurar a qualificação necessária para o desenvolvimento das propostas e consiga reconhecer os diferentes agentes. “É unir as pessoas que querem ajudar com aqueles que precisam de auxílio.”

Aline considera subestimados os números oficiais da economia criativa. Segundo ela, é preciso parar de pensar apenas na questão financeira e olhar para o capital simbólico, humano e intelectual envolvido nesse tipo de proposta.

Poder econômico

Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos, Adalberto Heck abordou o movimento de resistência a derrubada de prédios históricos em Porto Alegre na década de 1970. Lembrou do grupo organizado na Ufrgs para impedir a demolição do Mercado Público, da Praça XV, e da Usina do Gasômetro, hoje cartões-postais da capital.

Na época, em nome do poder econômico, buscava-se eliminar estruturas consideradas arcaicas para dar lugar a símbolos do progresso, como estacionamentos e prédios modernos. “Por que ainda hoje temos que dizer para as pessoas não derrubarem árvores e prédios históricos?”

Professor da Univates, o mestre em Planejamento Urbano Augusto Alves acredita que a resposta está na apropriação da cidade por parte da sua população. Para isso, considera fundamental trabalhar conceitos culturais e de visão de mundo.

Citou como exemplo os projetos de implantação de ciclovias, que avançam lentamente no país. “Principalmente pela cultura que temos, na qual o automóvel é sinônimo de sucesso”, ressalta. Essa concepção determina o que se faz ou não na cidade, pontua.

O professor considera o foco financeiro como um dos empecilhos para o desenvolvimento saudável das cidades. Segundo Alves, a ideia de progresso baseada apenas em gerar dinheiro “custe o que custar” causa prejuízos ambientais e permite a destruição do patrimônio histórico, entre outros danos.

Convivência coletiva

A arquiteta e secretária do Planejamento de Lajeado, Marta Peixoto, alertou para a necessidade de equacionar as diferentes visões de mundo dentro de uma mesma cidade, para que as pessoas possam conviver em harmonia.

Citou o exemplo da avenida Talini, onde jovens se divertem ao ar livre em um ambiente coletivo, mas que incomoda moradores das proximidades devido ao uso de bebidas e ao som alto. “Precisamos aprender a conviver com as diferenças e as adversidades.”

A bióloga e coordenadora da comissão Cidades Criativas, Diana Kunzel, falou sobre o estado de “normose” vivido por boa parte da população. Segundo ela, as pessoas deixaram de discutir as questões relacionadas ao espaço urbano e acham normal a falta de participação coletiva.

“A cidadania está deixando a desejar”, avalia. Para Diana, a retomada dos espaços urbanos deve partir da própria comunidade. Caso contrário, as situações continuarão acontecendo a despeito das necessidades da comunidade.

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