Alta do dólar reflete em queda nas importações

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Alta do dólar reflete em queda nas importações

No Vale do Taquari, índice de produtos importados caiu 34% nos primeiros oito meses de 2015, comparado com mesmo período do ano passado. Entre as razões, o aumento da cotação da moeda norte-americana, que ontem chegou a R$ 4,05, o maior valor desde a criação do Plano Real. O câmbio freia as viagens internacionais, mas traz vantagens para exportadores

Vale do Taquari

Vale do Taquari – A forma galopante com que o dólar vem subindo nas últimas semanas gera forte preocupação no mercado. Na opinião de economistas, a alta da moeda norte-americana traz mais dificuldades do que benefícios para a sociedade. Com o real mais fraco, indústrias exportadoras tendem a lucrar mais com a venda para o exterior, mas ao mesmo tempo essa situação pressiona a inflação e reduz o poder de compra interna no país.

Ontem, a cotação do dólar ultrapassou R$ 4, algo inédito desde a criação do Plano Real, em 1994. Em março, ele havia rompido a barreira dos R$ 3. Com notas de créditos baixas e dificuldades de ajuste fiscal por parte do governo federal, a tendência, conforme o economista Adriano Strassburger, é que a moeda dos EUA siga em ascensão.

No Vale do Taquari, análise sobre as importações em Lajeado, Estrela, Encantado, Arroio do Meio e Teutônia apresenta índices preocupantes. Na média, houve queda de 34,69% na importação de produtos e insumos pelas empresas nos primeiros oito meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Entre janeiro e agosto de 2014, as cinco cidades registraram, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, US$ 44,1 milhões em importações. No mesmo período de 2015, o número baixou para U$ 28,8 milhões.

A maior queda foi registrada em Teutônia, chegando a 76,68% em relação aos oito primeiros meses do ano passado. De US$ 12,2 milhões o montante baixou para US$ 2,8 milhões. O único município que registrou incremento nas importações foi Estrela, com aumento de 32,95% em relação a 2014. Os valores subiram de US$ 2,7 milhões para U$ 3,6 milhões.

O país caminha na mesma direção. Segundo dados do governo federal, as importações de produtos oriundos do Mercosul registraram queda de 21%. Já as negociações com países da União Europeia caíram cerca de 10% entre 2014 e 2015. O Rio Grande do Sul também apresenta redução de 26,95%.

Para economistas, o fato de muitos setores dependerem de itens comprados na moeda norte-americana encarece o custo de produção do setor industrial. Com isso, o produtor eleva os preços para não ter perdas, pressionando ainda mais a inflação. Por consequência, esse custo é repassado ao consumidor.

Momento para exportar

Para Strassburger, a tendência é de aumento nos índices de exportação. Mas até o momento o reflexo é baixo entre as cinco cidades da região. Comparados os números de 2014 e 2015, houve acréscimo de só 1,31%. De US$ 136,6 milhões nos oito primeiros meses do ano passado, passou para US$ 138,5 milhões em 2015.

Arroio do Meio foi o município com maior acréscimo nos índices de exportação. De US$ 11,9 milhões passou para US$ 17,9 milhões, um aumento de 50,74%. Teutônia e Lajeado registraram queda em relação a 2014, com índices negativos de 25,17% e 6,28%, respectivamente.

Arlindo Plácido Baldo, diretor-presidente da Baldo S/A, exporta erva-mate para Uruguai, Estados Unidos, Itália, Austrália, Holanda, Espanha e Argentina. Ele vê com cautela o momento vivido pelos brasileiros. “Quando o dólar aumenta, significa que seu patrimônio perde valor em relação às moedas estáveis, isso mais atrapalha do que acrescenta.”

Para ele, o aumento abrupto do dólar representa uma “má administração” por parte do governo federal. “Um país bem administrado nunca deve intervir no câmbio.” Segundo Baldo, houve aumento no número de exportações. “Em volume físico, se mantiveram estáveis. Em reais, houve um incremento de 20%.”

Queda nas viagens ao exterior

Viajar para fora do país está mais caro neste ano. Conforme a gerente de uma agência de Lajeado, Vera Lúcia Riediger, a venda de pacotes internacionais diminuiu cerca de 25% em função da variação cambial. “Em contrapartida houve um aquecimento nas vendas de pacotes dentro do Brasil.”.

Ela sugere a busca por promoções das companhias aéreas. “Principalmente para Europa e Estados Unidos.” Segundo Vera, a empresa orienta clientes a procurar por viagens a países onde a moeda está mais desvalorizada. “Também sugiro deixar as compras para quando o câmbio estiver mais baixo e aproveitar a viagem de forma diferente.”

EXPORTAÇÕES NO VALE

Cidade Jan a ago 2014 Jan a ago 2015 Variação
Lajeado US$ 50,8 milhões US$ 47,7 milhões -6,28%
Estrela US$ 6,2 milhões US$ 6,4 milhões 2,52%
Arroio do Meio US$ 11,9 milhões US$ 17,9 milhões 50,74%
Encantado US$ 61,8 milhões US$ 62,1 milhões 0,56%
Teutônia US$ 5,9 milhões US$ 4,4 milhões -25,17%
TOTAL: US$ 136,6 milhões US$ 138,5 milhões 1,31%

IMPORTAÇÕES NO VALE

Cidade Jan a ag 2014 Jan a ago 2015 Variação
Lajeado US$ 19 milhões US$ 14,4 milhões -23,91%
Estrela US$ 2,7 milhões US$ 3,6 milhões 32,95%
Arroio do Meio US$ 6,4 milhões US$ 5,2 milhões -19,53%
Encantado US$ 3,8 milhões US$ 2,8 milhões -26,24%
Teutônia US$ 12,2 milhões US$ 2,8 milhões -76,68%
TOTAL: US$ 44,1 milhões US$ 28,8 milhões -34,69%

Entrevista com o economista Adriano Strassburger

A Hora – A queda nas importações pode estar relacionada à alta do dólar?

Adriano Strasburger – Sim e não. De certa forma, o dólar pode tanto flexibilizar o comércio exterior pela ampliação ou não das exportações e diminuição ou não das importações. Vários fatores concorrem a isso. Por exemplo, o aumento do dólar faz as importações se tornarem mais caras e, portanto, quem pode vender produtos nacionais com melhores preços vai optar por colocar no mercado menos produtos importados. Por outro lado, o consumidor, observando a alta do preço de produtos importados, tenta substituí-los por produtos nacionais mais em conta.

– Quem é mais prejudicado com a alta do dólar?

Strasburger – Obviamente os maiores prejudicados são os importadores que dependem do mercado externo para buscar a sua matéria-prima.De modo geral, toda a sociedade é atingida por efeitos nefastos por essa variação cambial, pois indiretamente todo o mercado nacional acaba sendo atingido em função da cotação de produtos no mercado de capitais, pregão de mercadorias etc, e que acabam transferindo seus efeitos para o consumidor final.

– Quem é beneficiado com a alta do dólar?

Strasburger – Os maiores beneficiados podem ser exportadores de produtos básicos, manufaturas e produtos especializados de pouca concorrência no mercado internacional. No caso de Lajeado, o valor global das exportações no período encolheu cerca de 15%. Todavia, a exportação de couros e peles acamurçados, envernizados ou metalizados cresceu 17% nesse mesmo período. Quem também sempre tem grandes benefícios com a valorização do dólar são aqueles que atuam no mercado de capitais, pois muitas vezes conseguem adquirir o dólar em baixa cotação para revendê-lo quando estiver valorizado.

Arte: Fábio Costa

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