Terremoto no Chile é percebido no estado

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Terremoto no Chile é percebido no estado

Lajeadense filma água da piscina balançando, supostamente em função do tremor

Vale do Taquari
oktober-2024

Vale do Taquari – O epicentro do terremoto de 8,4 graus de magnitude na escala Richter levou mais de um milhão de chilenos para fora das casas, deixando pelo menos dez mortos. Ele aconteceu há mais de dois mil quilômetros do RS. Mesmo assim, em pelo menos nove cidades gaúchas há indícios de tremores. Geólogos justificam as ocorrências.

Crédito: Anderson LopesEm Lajeado, uma filmagem realizada no bairro Alto do Parque mostra, durante quase três minutos, a água de uma piscina balançar de forma uniforme, sem interferências externas visíveis. Na margem da estrutura de fibra, é possível ver o nível da água oscilar quase 10 centímetros a cada movimento, enquanto o centro da piscina permanece nivelado.

As imagens foram gravadas por volta das 20h de quarta-feira por Gilberto Costa, servidor aposentado do Tribunal de Justiça. A casa dele fica próxima à esquina entre a rua Washington Luís e a av. Alberto Müller. O horário das filmagens coincide com o registro do terremoto, cujo epicentro aconteceu na região chilena de Coquimbo, a cerca de 290 quilômetros da capital Santiago.

“Saí com minha mulher para levar o cachorro para passear no pátio. Foi ela quem me avisou que a água estava mexendo. Ficamos muito assustados”, relembra Costa. Ele filmou durante dois minutos e 52 segundos, com um Ipad, a movimentação estranha na piscina. “Antes, eu ainda liguei o refletor para enxergar melhor. Nunca tinha visto isso aqui em casa.”

Costa reluta em afirmar que a ondulação foi ocasionada pelo terremoto. “Foi a coisa mais estranha que já vi. Minha mulher não quer nem ver a imagem, nem chegar perto da piscina, de tão assustada que ficou. Mas não sei se há relação com o tremor no Chile.”

Ambos não sabiam da ocorrência do terremoto quando a filmagem foi realizada, e tampouco quando Costa postou o vídeo em sua página do Facebook. “Pensei em diversas coisas. Imaginei que algum caminhão ou veículo pesado havia passado pela rua. Mas não era isso. Nem vento havia naquele momento”, lembra.

No RS, também houve relatos de tremores em pelo menos outras oito cidades. Órgãos de segurança receberam informações em Venâncio Aires, Pelotas, Floriano Peixoto, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Santa Maria, Torres e Tramandaí.

Casal sente tremor na Argentina

O tremor foi sentido com bastante intensidade em diversas cidades da Argentina. Principalmente nas proximidades com a fronteira do Chile. Morador de Lajeado, e de férias pelo país vizinho, o casal Cléo e Mirna Weiand sentiu a força do terremoto na cidade argentina de Mendoza, distante pouco mais de 360 quilômetros de Santiago.

Eles estavam no saguão do hotel no momento do tremor. “Não sabíamos do terremoto até que o chão tremeu aqui em Mendoza. Mandaram todos sair do hotel. Tremeu bastante, e fiquei tonta. O terremoto assustou a todos”, comenta Mirna, lembrando que as ruas ficaram tomadas de turistas em busca de informações. E outros quatro pequenos abalos foram registrados durante a noite.

Antes de chegarem à cidade argentina, eles estavam em Santiago, de onde partiram horas antes do terremoto. “No Chile, fomos informados sobre pequenos abalos todos os dias. Eu não senti, mas meu marido sentiu na noite anterior, quando estávamos no quarto do hotel.”

Mortes no Chile

Pelo menos dez pessoas morreram vítimas do terremoto de 8,4 graus na escala Richter. O forte tremor de terra foi sentido no Norte, Centro e Sul do Chile, conforme informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Mais de 1 milhão de pessoas ficaram desalojadas durante a noite de quarta-feira e a tarde de ontem.

Autoridades chilenas logo divulgaram alertas de tsunami para toda a costa do país, e também parte do litoral peruano. No entanto, ontem de manhã, o alerta foi retirado. Mesmo assim, ondas de três metros foram registradas no litoral chileno. Em 2010, o país sofreu com outro forte terremoto, de 8,8 de magnitude, que na época deixou centenas de mortos.

Segundo pesquisadores, os terremotos são resultado da movimentação das placas de Nazca (do Pacífico) e Sul-Americana (onde está o Brasil).

Elas se movem cerca de quatro a seis centímetros por ano. A placa do Pacífico pressiona, por baixo, a Sul-Americana, e essa fricção cria acúmulos de energia que, em determinados momentos, se rompem.

É possível sentir reflexos na região”

Após ver a filmagem do movimento na piscina, a geóloga Lucilene Mallmann acredita que o movimento da água pode ser resultado do terremoto de 8,4 graus.

A Hora – É possível que o terremoto tenha refletido aqui na região?

Lucilene Mallmann – Há diversos tipos de ondas sísmicas que são geradas em um terremoto. Algumas são dispersadas rapidamente pela crosta, outras podem viajar por todo o globo. São essas ondas e a forma como se propagam que nos permitem estudar as profundidades e composição da crosta, manto e núcleo do planeta. Então, sim, é possível sentir reflexos dos terremotos andinos no Brasil, dependendo da intensidade do sismo e profundidade do epicentro. Isso até é comum.

– Mesmo há dois mil quilômetros de distância?

Se olharmos para o globo todo, vamos ver que esses quase dois mil quilômetros que nos separam do epicentro nem são uma distância tão grande. Os fenômenos geológicos acontecem em escalas diferentes das que lidamos diariamente, e seus efeitos não respeitam fronteiras. Uma lembrança recente disso é o caso das nuvens lançadas pelo vulcão Puyehue, também distante cerca de dois mil quilômetros, no Chile, e que foram percebidas por todo o estado.

– Há riscos de terremotos aqui na nossa região?

O risco maior de sismos no Vale está associado a esses reflexos de eventos andinos. Sismos de pequena intensidade na região podem ser provocados por acomodação das camadas superiores da crosta, como os que são percebidos na região de Caxias do Sul. A condição geotectônica do Brasil, especificamente o Rio Grande do Sul, concede uma relativa estabilidade para a região.

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