Crise amplia procura por segundo emprego

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Crise amplia procura por segundo emprego

Pesquisa realizada pela CNI mostra que quase metade da população faz trabalhos extras para complementar a renda. Estudo também demonstra temor com o desemprego. Para se manter no mercado, pessoas voltam à atenção para melhoria na qualificação profissional.

Vale do Taquari
oktober-2024

Vale do Taquari – Dailor Ivan Mann é um dos milhões de brasileiros que cumprem dupla jornada de trabalho. De dia, monta joias e peças com metais e pedras preciosas. À noite, prepara lanches em um chamado food truck.

Thiago MauriqueA decisão de assumir a segunda função foi tomada no início deste ano, quando surgiu a oportunidade de abrir o negócio com a mulher e a cunhada. “Foi a chance de ter uma segunda renda, tentar melhorar de vida e dar mais condições para minha família.”

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a opção de Mann se tornou mais comum diante da crise econômica. Segundo o estudo, 48% da população brasileira passou a buscar trabalhos extras para complementar a renda nos últimos 12 meses.

O número quase dobrou em relação ao último levantamento realizado pela CNI. Em 2013, estudo semelhante verificou que 25% dos brasileiros procuravam aumentar a renda com jornada dupla de trabalho.

A rotina de Mann é semelhante a de muitos trabalhadores com dois empregos. O serviço na ourivesaria começa às 8h e vai até as 17h30min, no bairro Jardim do Cedro. Em seguida, vai até a av. Senador Alberto Pasqualini, no São Cristóvão, para trabalhar no trailer.

“Trabalho com os lanches até a meia-noite de domingo a quinta-feira. Na sexta-feira e no sábado, seguimos até de madrugada”, relata. A rotina dupla reduziu o tempo para ficar com a família e manter atividades de lazer.

“No início, não conseguia fazer nada além de trabalhar, mas hoje já consigo me liberar em alguns horários e até tirar um dia da semana para jogar futebol”, afirma. Para o futuro, pretende oferecer vagas de emprego no trailer para reduzir a carga de serviço e dar oportunidade para outras pessoas.

“Pretendo fazer isso quando terminar o financiamento do food truck assim que tiver uma folga financeira”, assegura. A partir de então, Mann almeja dedicar mais tempo a atividades que melhorem a qualidade de vida.

Crise eleva pessimismo

A pesquisa da CNI mostra ainda que os brasileiros estão pessimistas com as perspectivas da economia nacional. O estudo entrevistou 2.002 pessoas de 141 municípios entre os dias 18 e 21 de junho.

No total, 86% dos entrevistados afirmam que o país está diante de uma crise financeira, e 66% que a situação econômica do país está ruim ou péssima. Na pesquisa anterior, de 2013, apenas 21% avaliavam de forma negativa a economia nacional.

As expectativas para o futuro também preocupam os brasileiros. Mais da metade dos entrevistados acredita que o cenário financeiro vai piorar nos próximos 12 meses, e 76% temem ficar desempregados ou ter que fechar o negócio próprio.

O medo do desemprego é justificado pelo número de parentes demitidos. Ao todo, 44% dos pesquisados afirmam ter algum familiar que ficou sem serviço entre junho de 2014 e junho deste ano. Em 40% das famílias, pessoas que estavam fora do mercado de trabalho retornaram às atividades para ajudar a quitar as despesas de casa.

Por outro lado, o ajuste econômico motiva aumento no número de pessoas que buscam qualificação profissional. Quase 1/4 dos entrevistados alegam ter voltado a estudar com medo de perder a colocação profissional. O índice chega a 37% na população que tem entre 16 e 24 anos de idade.

Renda extra no intervalo

Vagner Simões de Avila, 32, aproveita os períodos disponíveis para ampliar a renda familiar. Atua como segurança e vigilante faz cerca de nove anos. Hoje, trabalha das 8h às 12h e das 13h30min às 18h em uma joalheria. No intervalo para o almoço, cumpre serviço extra em outro estabelecimento.

“Ao meio-dia, só tenho tempo para engolir a comida e voltar ao trabalho”, relata. Ávila também faz serviços de segurança particular em eventos nos fins de semana, muitas vezes, atravessando a madrugada. Sempre que aparece alguma oportunidade, ainda faz bicos de garçom.

Para ele, a carga de trabalho elevada é uma opção que pode garantir mais conforto no futuro. Ressalta que não conseguiria manter a jornada dupla se não gostasse das atividades que realiza.

Mesmo com pouco tempo disponível, o vigilante garante dedicar atenção à mulher e ao filho de 8 anos do primeiro casamento. De acordo com os períodos que têm disponível, Avila passa algumas horas por dia com os familiares. A cada duas semanas, ele organiza um dia inteiro para ficar com o menino.

“Tudo é uma questão de planejamento, pois não dá para abrir mão de tudo o que gostamos.” Além de dividir horários entre a família e o trabalho, o vigilante diz que consegue encontrar tempo para momentos de lazer, com preferência a bailes de música gauchesca.

Jornada dupla assegura casa própria

Morador de Cruzeiro do Sul, Vilmar Schneider, 27, trabalha como padeiro de dia e garçom no horário da noite. A jornada dupla começou em 2008, quando voltou do serviço militar. “Na época do quartel encontrei minha mulher e decidimos morar juntos. Logo depois tivemos um filho.”

Para conseguir dar uma melhor condição de vida para a família, passou a trabalhar nos dois serviços, ambos em Lajeado. A rotina de Schneider inicia às 6h30min, quando começa a operar o cilindro da padaria.

Às 16h20min ele vai para a casa, toma banho e retorna para Lajeado, onde às 18h começa a trabalhar como garçom, em turno que pode durar até a meia -noite.

Mesmo com o esforço do cotidiano, Schneider garante que a carga de trabalho extra compensa. Segundo ele, a renda obtida nos dois empregos garante o pagamento dos financiamentos do carro e da casa própria.

Nos intervalos e nos fins de semana, dedica o tempo livre ao filho, hoje com 7 anos, e à mulher. “Eles estão sempre em primeiro lugar”, ressalta.

No futuro, Schneider pretende ficar ainda mais tempo junto da família. Para isso, pensa em trabalhar em um lugar só após terminar de pagar as prestações da casa e do carro. “Quando tiver mais folgado nas contas, quero abrir um negócio próprio.”

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