Queda na venda de carros chega a 26% no RS

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Queda na venda de carros chega a 26% no RS

Estagnação na economia interfere na manufatura de veículos e afeta toda a cadeia metalmecânica. Conforme Fenabrave, concessionárias têm estoque para 45 dias.

País – Diante da restrição ao crédito e do aumento no endividamento familiar, consumidores deixam de movimentar o setor que representa 25% do PIB. De janeiro a agosto, as vendas de veículos diminuíram 26% no RS.

Anderson LopesPara a produção sobressalente, a General Motors (GM) alugou os estacionamentos dos autódromos do Velopark, em Nova Santa Rita, e de Tarumã, em Viamão. Há estoque para 45 dias no pátio das concessionárias, estima a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Em Lajeado, os emplacamentos diminuíram 37,7%, o que representa 1,5 mil veículos. De acordo com dados do Centro de Registro de Veículo, foram emplacados 3.821 nos primeiros oito meses de 2014. Neste ano, foram 2.379. No entanto, o número ainda é alto, se comparado com os anos anteriores. Em 2011, foram registrados 3.190 mil novos veículos em Lajeado.

O economista e empresário do setor, Rogério Winck, percebe uma queda em todos os segmentos de carros novos. “Setor de usados, aquele veículo seminovo equipado vai crescer 5%”, estima.

O gerente de uma loja de seminovos de Lajeado, Sidney Bisol, confirma a projeção de um bom momento para venda de seminovos.

Para o gerente de uma revenda especializada em camionetes, Antônio Marco Schaefer, os juros altos e a indefinição sobre a situação econômica do país afastam os consumidores. “Ninguém quer comprometer renda.” Segundo ela, a maioria dos clientes oferece a troca de dois veículos por um, sem pagar a diferença.

Consumidores estão cautelosos. O bancário Igor Leipnitz, de Estrela, decidiu optar pelo ônibus em vez do carro. Os custos somados são muito altos, diz. Muitas pessoas sequer podem se arriscar a assumir os custos de um veículo e parcelas de financiamento, diz.

A família da aposentada Célia Cassol tem o mesmo veículo faz 26 anos. “Não há necessidade de comprar carro novo a toda hora”, diz. Para ir a Lajeado, Célia prefere o transporte coletivo.

Apesar do aumento de estoques de veículos, os preços não diminuem. O lucro percentual das montadoras no Brasil é um dos mais altos do mundo.

Resultado na economia

Qualquer planta produtiva de automóveis que diminua a produção afeta o país, afirma a economista Cíntia Agostini. Primeiro pelos milhares de desempregados, com taxa que chega a 8,3%. “Somam-se os funcionários demitidos a suas famílias e as cadeias onde todos compram produtos e serviços, ou seja, um impacto significativo.” Diminui a receita nos municípios.

Uma característica própria do setor automotivo é a ramificação do investimento. A instalação de uma fábrica é acompanhada por indústrias da metalmecânica, responsáveis por fornecer peças e componentes. Em Caxias do Sul, polo do setor, dez mil foram demitidos desde 2013.

Os preços dos produtos permanecem altos. Mesmo com a estagnação. Isso porque historicamente o consumidor aceita pagar. Nos últimos anos, de acordo com Cíntia, o preço não foi motivado pelos impostos e outros custos, mas, sim, pela renda maior do brasileiro. “Essas empresas multinacionais possuem uma leitura clara da margem que podem atuar no mercado.”

Muito espaço para crescer

Aumento dos custos de produção nos Estados Unidos, entre eles a mão de obra, motivaram fabricantes estadunidenses a migrarem para o México, a partir da década de 70. As montadoras receberam vantagens para se instalar, por meio da Área de Livre Comércio entre os países. Vendiam o estoque aos EUA sem custos e tarifas de importação.

No entanto, segundo a economista, apesar de a economia brasileira estar abalada em meio à instabilidade política, com altos custos de produção e infraestrutura deficitária, indústrias só deixam o Brasil se a situação piorar em larga escala. A condição não está tão melhor em muitos outros países, diz.

Segundo Cíntia, há muito espaço para crescimento. “A indústria investiu no Brasil, pois sabe que são milhões de pessoas que estão dispostas a comprar, caso tenham renda.” Em média, há cinco pessoas para cada veículo. Em algumas regiões, esse número é de 11 pessoas para cada veículo. “Há mercado a ser explorado.”

Fiergs projeta melhoras para 2016

O ano será instável para a indústria gaúcha. No entanto, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, se diz confiante. Ele se refere diretamente à abertura do governo em promover concessões ou firmar Parcerias Público-Privada (PPP) para a realização de obras de infraestrutura, incluindo rodovias, o que pode aumentar vendas e serviços em diversos setores.

SAIBA MAIS

No país

A venda de veículos no país diminuiu 23,9% em agosto, na comparação com o mesmo mês de 2014. Foram vendidos 207,3 mil automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões emplacados no mês passado, enquanto agosto de 2014 teve 272,5 mil.

Nos primeiros oito meses do ano, as concessionárias venderam 21,3% menos do que no mesmo período de 2014. Houve 1,75 milhão de emplacamentos contra 2,23 milhões no ano passado.

Até agosto, houve uma redução de 347 concessionárias no país. Apenas no setor de distribuição 17 mil funcionários foram demitidos.

1,6 habitante por veículo

As facilidades para financiamentos dos últimos três anos, aliadas ao poder de compra da classe média, resultaram em mais carros e motocicletas nas ruas da região. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que há 211.733 veículos nos 37 municípios do Vale. Entre novembro de 2011 até o mesmo mês de 2012, foram 13.726 emplacamentos, o que representa 7% de aumento. Frente à população total, que é de 335.130 pessoas, conforme o Censo do IBGE de 2010, são 1,6 habitante por veículo.

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