Protesto avança e BM não vai às ruas

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Protesto avança e BM não vai às ruas

Parcelamento de salários do funcionalismo gaúcho desencadeia protesto histórico das instituições de segurança. Ontem, soldados da Brigada Militar foram impedidos por familiares de ir às ruas. Ao mesmo tempo, professores e agentes da Polícia Civil se reuniram em frente à sede da BM onde houve manifestação coletiva

Vale do Taquari

Vale do Taquari – A greve do servidores do Estado atinge o policiamento ostensivo. Pela primeira vez na história, policiais militares (PMs) ficam aquartelados em diversos municípios gaúchos, entre eles, Lajeado.

Crédito: Anderson LopesDe acordo com o comandante do CRPO, coronel Humberto Teixeira Santos, os PMs se apresentaram ao trabalho, mas foram impedidos de sair do quartel por familiares e servidores das demais categorias. “Os manifestantes se posicionaram em frente às viaturas. Dialogamos para evitar atritos.”

Segundo Teixeira, o comando da corporação entrou em acordo com os grevistas para garantir o atendimento de casos de emergência. O coronel afirma que viaturas de Arroio do Meio, Estrela e Cruzeiro do Sul auxiliam no policiamento da cidade.

O comandante diz entender o movimento dos servidores do Estado, mas discorda quanto à adesão de PMs e bombeiros. “É legítimo, mas somos militares, portanto, impedidos legalmente de fazer greve ou aderir a sindicatos.”

Para Teixeira, os trabalhadores da corporação devem cumprir a legislação, uma vez que a sociedade precisa do serviço e confia na BM. “Vale lembrar que estamos todos na mesma situação. Também recebemos apenas R$ 600.”

O protesto em frente ao 22º Batalhão de Polícia Militar começou por volta das 5h20min. A rua Júlio May foi bloqueada na quadra do quartel, entre a av. Benjamin Constant e rua Júlio de Castilhos. Integram o movimento servidores da Polícia Civil, Susepe, bombeiros, professores, estudantes e familiares dos PMs.

Um policial militar que representa o movimento afirma que a manifestação não é apenas pelo parcelamento dos salários. “Queremos chamar atenção pela falta de respeito que atinge os serviços essenciais. Os trabalhadores da saúde, educação e segurança são os principais atingidos.”

Ontem de manhã, as entidades que representam os trabalhadores da BM enviaram nota conjunta de repúdio às decisões do governo. O texto orienta policiais que não tiverem condições de trabalhar, por não ter dinheiro para alimentação ou pagar contas essenciais, a procurar ajuda médica.

“A população do Rio Grande do Sul, que vê a criminalidade se alastrar diariamente, que se proteja como puder face ausência de policiamento nas ruas”, sentencia a nota.

Escolas fechadas

Professores e alunos das escolas Manuel Bandeira, São João Bosco, Fernandes Vieira, Érico Veríssimo, Castelo Branco e Carlos Fett Filho fizeram ato de protesto ao parcelamento.

O grupo se deslocou para a esquina da av. Alberto Pasqualini com a rua Dom Pedro II com bandeiras, apitos e cartazes pedindo esmola. Após, foram até a sede do 22º BPM para integrar a manifestação unificada.

De acordo com o coordenador do 8º Núcleo do Cpers, Oseias Souza de Freitas, ao menos 40% das escolas do Vale do Taquari aderiram à paralisação e ficarão fechadas até amanhã. Segundo ele, além do pagamento parcelado dos salários, os trabalhadores também repudiam as propostas de aumento no ICMS e de congelamento de gastos propostos pela PL 206.

Professores e servidores das demais categorias se reuniram às 14h de ontem no auditório do colégio Castelo Branco para debater as consequências das propostas. Conforme Freitas, a PL 206 é danosa ao funcionalismo, pois prevê a suspensão de concursos e nomeações, além de congelar salários.

Deputado chama servidores de “vadios”

Um dos assuntos debatidos no encontro foi a declaração do líder do PMDB na Assembleia Legislativa, deputado Álvaro Boessio. Em entrevista a uma rádio de Farroupilha, o parlamentar disse ser contra os concursos públicos e chamou parte dos servidores de “vadios.”

Ele ainda criticou os professores por ganharem licença-prêmio de três meses a cada cinco anos de magistério, e disse que existem mais educadores do que o necessário no estado. Ainda considerou desnecessária qualquer redução nos vencimentos dos parlamentares.

Conforme o coordenador do Cpers, a declaração de Boessio ampliou a revolta das categorias e foi um dos motivos para que o movimento tomasse tamanha abrangência. Policiais militares acreditam que a fala do parlamentar motivou o aquartelamento nos municípios do interior.

“Trabalhadores que não sinalizavam adesão às manifestações se indignaram ainda mais”, avalia um PM com 29 anos de corporação. Segundo ele, o único movimento grevista na história da BM ocorreu em 1996, mas não chegou a atingir os quartéis do interior.

O Cpers emitiu nota de repúdio endereçada ao líder do PMDB. Para o sindicato, é inadmissível que, além de receberem míseros R$ 600, os servidores gaúchos têm que passar pelo que a entidade classifica como humilhação.

“O direito constitucional a receber o salário no fim do mês já não está sendo respeitado pelo governo. Não vamos admitir mais essa afronta”, diz o texto. Pelo Facebook, Boessio se desculpou das declarações, dizendo que usou um termo “infeliz.”

Estamos cobrando por nossa subsistência”

O posicionamento do deputado causou mais desconforto uma vez que os parcelamentos e cortes no Estado atingem exclusivamente o Executivo. Servidores do Judiciário e do Legislativo continuam recebendo salários e demais benefícios em dia.

O professor Gilson dos Anjos classifica a decisão de manter o pagamento integral da Assembleia como inconstitucional. “Para o governador, não pagar eles é inconstitucional, mas deixar de pagar o nosso dinheiro, não.”

Ele reprova a falta de um posicionamento do governo após as demonstrações de insatisfação do funcionalismo. “Só estamos cobrando por nossa subsistência, pois não conseguimos investir em nada com o que ganhamos.”

A representante da Polícia Civil, Magda Lopes, também criticou a falta de participação do Legislativo e do Judiciário na busca de uma solução da crise vivida pelo Estado. Segundo ela, as mobilizações são a única forma encontrada pelos servidores públicos de cobrar melhores condições de manter os serviços.

Crise nas finanças

R$ 5,4 bilhões é o rombo alegado nas contas públicas.

O valor é o equivalente a três meses do pagamento do funcionalismo.

Segundo o governo, cada gaúcho nasce com uma dívida de R$ 6,8 mil

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