Recuperação levará décadas, diz Müller

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Recuperação levará décadas, diz Müller

Presidente da Fiergs aborda desafios do Estado em palestra promovida pela Cacis

Estrela

Estrela – A crise econômica que afeta o Brasil se amplifica com as dificuldades na administração gaúcha. Com 37 anos seguidos em déficit, o RS tem a dupla tarefa de enfrentar as dificuldades no cenário nacional e o desafio de sanar as finanças públicas do Estado.

Thiago MauriqueA conjuntura atual foi tema de palestra apresentada pelo presidente da Fiergs, Heitor José Müller, em reunião-almoço da Cacis nessa sexta-feira, 28. Para Müller, a recuperação do estado levará décadas e dependerá da colaboração de todos os setores da sociedade.

Conforme o palestrante, é necessário descobrir os motivos da crise gaúcha para propor medidas que permitam sair dessa situação. Segundo ele, no âmbito nacional, o ano de 2015 apresentou o que os economistas chamam de “tempestade perfeita”.

O termo é referência ao cenário em que o declínio da economia se mistura com a intranquilidade política, impedindo o sucesso do ajuste fiscal. “O governo tenta fazer a costura política necessária para aprovar as medidas que permitam passar dessa fase.”

Müller afirma que os problemas gaúchos começaram há mais de quatro décadas. Ressalta que as receitas do Estado superaram as despesas em apenas sete dos últimos 44 anos. “A Fiergs alertou diferentes governos sobre esta situação, e nada foi feito.”

Sinais de otimismo

Apesar das dificuldades, o presidente da Fiergs acredita que o momento é passageiro e aponta o setor empresarial como peça fundamental na recuperação. “As crises passam e o empreendedorismo permanece.”

Cita a confirmação de investimentos no setor petrolífero e de grandes empreendimentos privados no estado e o desempenho positivo do agronegócio entre os sinais que motivam o otimismo. “A iniciativa privada não parou de trabalhar.”

No âmbito internacional, lembra que os investidores continuam enxergando o Brasil de forma positiva. Segundo Müller, em recente viagem a Washington, EUA, os grupos que têm fábricas em terras brasileiras foram unânimes em elogiar o país.

“A opinião ouvida é que somos a nação que mais rapidamente sai das crises, como ocorreu em 2008”, relata. Conforme o presidente, pesquisas internacionais apontam o país como o terceiro destino mais atrativo para investimentos, atrás apenas da China e da Índia.

Manifesto

Ao fim da palestra, representantes da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC- VT) entregaram a Müller um manifesto assinado pelas entidades empresariais da região.

O documento contém considerações sobre o cenário econômico, recomendações aos empresários e encaminhamentos aos administradores públicos para o enfrentamento da crise.

“Multiplicação do pessimismo não leva a nada.”

A Hora – Como a Fiergs avalia o momento econômico do estado e as medidas adotadas pelo governo gaúcho para enfrentar a crise?

Heitor Müller – De todas as medidas propostas, o que mais atacamos é o aumento do ICMS. Somos absolutamente contra, tanto enquanto empresários como representantes da entidade. Nós tivemos nos últimos 20 anos 145% de aumento de arrecadação no estado, ao mesmo tempo em que toda a produção que compõe o PIB gaúcho cresceu somente 56%. Se arrecadou muito mais do que o crescimento que tivemos na economia. Hoje, a administração pública do Rio Grande do Sul não cabe no PIB. Para fazer o que o Estado estava acostumado a fazer é preciso aumentar o ICMS para 31%, o que é absolutamente inviável.

– O que representaria para a economia o aumento do tributo?

Müller – O aumento de impostos não resolve o problema. Pode causar o efeito inverso. As empresas vão vender menos, produzir menos e isso reduz a arrecadação. Outro problema é que ficamos à mercê da concorrência com outras unidades da federação. Temos uma guerra fiscal entre os estados e o RS fica na localidade mais meridional do país, fazendo com que o custo logístico seja muito maior. Se já temos essa desvantagem e o custo aumentar, ficaremos fora do mercado.

– Quais as medidas que poderiam sanar as finanças do Piratini?

Heitor Müller – Para sair desse problema em que estamos metidos, das duas uma, ou o estado diminui de tamanho ou o PIB cresce. Nos últimos 44 anos, o governo gaúcho foi deficitário em 37 deles. Temos muito contratos e muitas dívidas dentro dessa conta e não é um ou dois governos que vão resolver. Vamos levar uma geração inteira. Isso se a sociedade gaúcha colaborar como um todo. Se quisermos diminuir o tamanho do estado, vamos encontrar muita resistência no meio político. Os nossos governantes ainda estão muito arraigados às formas antigas de administração.

– Os poderes Judiciário e Legislativo também aumentaram consideravelmente os custos nos últimos anos. É justo que a responsabilidade sobre a crise recaia apenas sobre o Executivo?

Müller – O que tem que ser feito é primeiro uma harmonia entre os três poderes. O Judiciário, quando faz o orçamento dele, tem autonomia. O Legislativo a mesma coisa. Mas quando o Estado faz um orçamento e depois arrecada menos do que o previsto, os outros poderes querem receber conforme o previsto. O Executivo carrega sozinho essa carga. Isso não é possível, mas é o que ocorre.

– Mesmo diante da crise, os eventos ligados ao setor empresarial apresentam resultados animadores. Diante disso, o que podemos esperar da economia gaúcha?

Heitor Müller – Isso deve servir de reflexão contra o pessimismo. Existem muitos casos positivos ocorrendo e um grande número de novas fábricas se instalando no estado. A Expoagas foi um momento emblemático, tanto pelo comparecimento maciço do público quanto pelo volume de vendas e negócios fechados. Tudo isso dá um novo ânimo para o setor empresarial. É preciso entender que essa multiplicação do pessimismo não leva a nada.

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