Ciclistas testam a mobilidade urbana

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Ciclistas testam a mobilidade urbana

Ruas lotadas de carros, engarrafamentos cada vez mais frequentes e aumento nos riscos de acidentes. A infraestrutura despreparada das cidades para a crescente quantidade de veículos automotores exige uma mudança cultural da sociedade, como instituir o uso da bicicleta no cotidiano.

Vale do Taquari
oktober-2024

Vale do Taquari – O passeio ciclístico pensado pelo grupo Valeciclismo, Uambla, Construmóbil e A Hora pretende mostrar Lajeado por um outro ângulo. Em uma das cidades gaúchas com índice próximo a um carro por habitante, pedalar é um desafio.

03Ciclistas dividem espaço com automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas. Nos fins de tarde, após o expediente, milhares de condutores enfrentam a rotina das ruas, cada vez mais insuficientes.

Um exemplo da falta de planejamento em mobilidade foi a instalação de 21 quilômetros de ciclofaixa. Em diversos pontos há problemas. Na av. Décio Martins Costa, área alagável, o piso tem irregularidades e está danificado. Em outros pontos, pode-se ver o acúmulo de lixo, pedras e areia. Em toda a extensão, o investimento do governo de Lajeado ultrapassou R$ 950 mil.

Pelas redes sociais, mais de cem pessoas confirmaram presença no Pedalada Cidades Criativas. Expectativa dos organizadores é atrair cerca de 200 participantes para o passeio ciclístico que ocorre às 9h deste domingo.

O ponto de partida será no Parque Professor Theobaldo Dick. A participação é gratuita e aberta a todos, sem necessidade de inscrição prévia. Haverá dois percursos de 12 e 17 quilômetros que passarão por até sete bairros de Lajeado. Previsão é concluir os trajetos em até duas horas e 30 minutos.

Conforme um dos organizadores, Fabrício Meneghini, a atividade vai chamar a atenção para a importância do transporte alternativo e dará aos participantes a oportunidade de observar a cidade de uma maneira diferente. “O pessoal anda de carro, anda de ônibus, e não olha a cidade de outras maneiras.”

Outro intuito da pedalada, segundo Meneghini, é testar a estrutura oferecida aos ciclistas. “Queremos andar pela cidade de bicicleta para mostrar como é desviar dos carros, dos buracos e pedalar pelas ciclofaixas sujas.” Em caso de condições meteorológicas desfavoráveis, o evento é transferido para o próximo domingo, 6 de setembro.

Início de um debate

O passeio ciclístico é organizado pelo Valeciclismo, União das Associações de Bairros de Lajeado (Uambla), Construmóbil 2015 e jornal A Hora. Está em sintonia com o tema deste ano da Construmóbil: “Cidades criativas”.

De acordo com uma das integrantes, a bióloga Diana Blum Künzel, essa é uma intervenção feita com intuito de provocar a população a refletir sobre a mobilidade urbana.

As percepções constatadas durante o passeio ciclístico serão levadas para um debate programado para ocorrer durante a Construmóbil. “É um trabalho que não vai resolver os nossos desafios. Queremos apenas contribuir.”

O debate do dia 23 de setembro reunirá a secretária de Planejamento de Lajeado, Marta Peixoto; arquiteta e professora de Urbanismo da PUC, Cibele Vieira Figueira; gestora cultural do Vila Flores, em Porto Alegre, Aline Bueno; e o professor da Univates, Augusto Alves.

Como é andar de bicicleta pelo Vale do Taquari? O que pode melhorar?

Desde fevereiro, o professor estrelense, Paulo Sehn, percorre cerca de 30 quilômetros diariamente para dar aulas nos bairros Santo André e Santo Antônio, em Lajeado.

“Antes de tomar a decisão de iniciar meus trajetos de Estrela a Lajeado, confirmo que muitas eram minhas dúvidas, principalmente na questão de segurança e respeito com o ciclista. Admito que fui surpreendido, principalmente na BR-386, onde os veículos de tração motora respeitaram minha preferencial.

Por outro lado, andar em vias urbanas em Lajeado, principalmente, requer mais atenção. Mesmo estando na ciclofaixa, muitos motoristas não respeitam essa via preferencial do ciclista. São vários os veículos que estacionam sob essa faixa e ainda há uma disputa de espaços dos ciclistas com os ônibus que são obrigados a parar sob a faixa para embarque e desembarque e os caminhões para carga e descarga.

Além da atenção necessária para o trânsito, é indispensável estar atento aos bueiros e ondulações do próprio pavimento, que também ocupam e atrapalham o trânsito da bicicleta, podendo, inclusive, gerar acidentes. Já em Estrela, não há ciclofaixa. Assim, sou obrigado a conduzir minha bicicleta na mesma via que os veículos”.

O morador de Estrela Jean Hansen percorre diariamente quase 20 quilômetros para se deslocar até o trabalho, em Lajeado. O trajeto é feito em cerca de 40 minutos em ritmo de passeio.

“A região é ótima para andar de bicicleta, seja a passeio, por conta das belezas naturais do Vale, seja a trabalho, pela proximidade entre nossas cidades. As dificuldades na opção por esse tipo de transporte aqui no Vale são de duas naturezas: investimentos públicos e cultura automobilística.

É comum encontrarmos nas rodovias trechos sem acostamento, pontes sem espaço sequer para pedestres, sem falar em coisas bem mais simples, como manter os acostamentos limpos de vegetação e sem buracos. Nas cidades, quando todos sabemos que há excesso de automóveis, ao invés de investir em outras formas de transporte, o que fazem os órgãos públicos? Investem em áreas de estacionamento, em alargamento de ruas, em retiradas de áreas de lazer para serem ocupadas por mais automóveis. É um contrassenso.

Já na questão cultural, aqui e em qualquer lugar, existe uma impressão generalizada de que o espaço público é, por direito, dos veículos automotores, quando o correto – até mesmo pelo que diz o CTB – é que o espaço público é das pessoas, estejam elas motorizadas ou não”.

O bancário Gabriel Simonini utiliza a bicicleta para se deslocar do bairro São Cristóvão até a agência da Caixa Econômica Federal. Ele pedala, em média, cinco quilômetros por dia.

“É legal andar por aqui, porém, acredito que poderia ser melhor. Dentro da cidade (Lajeado), certos pontos deveriam ter ciclovias, mas não têm. Tipo nas avenidas, acho muito perigoso. Daqui a pouco você tá andando e os carros entram na frente. Não dão bola para os ciclistas.

Acredito que as ciclovias que ainda existem deveriam ser cuidadas. Têm lugares como embaixo da ponte seca onde a ciclofaixa está apagada. Deveria ter algo melhor para os ciclistas.

E indo para outras cidades é complicado, pois alguns lugares não têm nem acostamento, tornando arriscado andar de bike. Nos fins de semana, saio para andar nesses lugares. Geralmente percorro uns 50 quilômetros pelo Vale do Taquari”.

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