Gaúchos lideram índice nacional de sobrepeso

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Gaúchos lideram índice nacional de sobrepeso

Seis em cada dez gaúchos estão acima do peso, o maior índice do país. Pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, na sexta-feira, mostra ainda que o drama atinge 56,9% dos brasileiros. Reportagem traz entrevistas com especialistas da área e aborda histórias de superação e de angústia decorrentes do sobrepeso.

Vale do Taquari

Vale do Taquari – A história da professora Débora Schabbach Ely, de Santa Clara do Sul, é um exemplo de superação. Aos 45 anos, se transformou. A alimentação irregular ameaçava a saúde física e mental. Frente ao risco, passou por uma cirurgia para reduzir as medidas. Em pouco mais de um ano, perdeu 60 quilos.

Crédito: Anderson LopesO problema superado pela professora atinge mais de 82 milhões de brasileiros. Os números fazem parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), apresentada pelo Ministério da Saúde na sexta-feira passada.

No RS, a situação é mais crítica. Pelos dados, o estado tem o maior percentual de pessoas acima do peso. Enquanto a média nacional fica em 56,9%, em solo gaúcho, são quase 63% com excesso de peso.

“Nós já vínhamos observando uma tendência em um aumento importante no sobrepeso e uma certa estabilização da obesidade, mas a pesquisa, de uma maneira muito objetiva, mostra que a obesidade e o sedentarismo são problemas da sociedade brasileira”, apontou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante a divulgação dos dados.

Das dietas até a cirurgia

Durante muitos anos, Débora recorreu a tratamentos convencionais para diminuir a cintura e conseguir afastar de vez os transtornos causados pelo sobrepeso. Todas as medidas tiveram como regra comer menos e aumentar a ingestão de produtos naturais. Por vezes, a dieta surtia resultados. Chegou a perder 45 quilos.

Com as dificuldades ao tentar se livrar da obesidade, surgiram também problemas de saúde. A professora evitava sair de casa, tanto por vergonha como pela falta de disposição física. Passou ainda a tomar remédios controlados em virtude da pressão alta.

A decisão radical ocorreu em dezembro de 2013, quando Débora chegou aos 121 quilos. Buscou ajuda médica e decidiu reduzir o tamanho do estômago, a chamada cirurgia bariátrica. Ingressou em um grupo de debate do plano de saúde, formado por nutricionista, psicóloga e outras pessoas em busca do tratamento. Discutiam-se maneiras corretas de alimentação e como seria o pós-operatório.

A cirurgia ocorreu dia 28 de março de 2014. As semanas seguintes, relata a professora, demandaram esforço extremo. Foi preciso deixar para trás costumes e mudar completamente hábitos alimentares. Aos poucos, Débora se acostumou e até passou a preferir cardápios naturais e com produtos verdes. Em dezembro daquele mesmo ano, havia chegado aos 61 quilos, mantidos até hoje.

A professora recuperou a autoestima e brinca com a condição anterior: entra inteira em apenas uma das pernas da antiga calça jeans. Os remédios prescritos para a pressão alta também foram deixados de lado. “A minha vida mudou. Hoje tenho vontade de sair, me divertir e com condição física para fazer as coisas.”

Comida: um vício contra a depressão

A taxa de mortalidade entre obesos supera a de pessoas na faixa ideal de peso. Isso ocorre, na maioria dos casos, pois o excesso de gordura no organismo tem potencial de agravar problemas de saúde e ocasionar uma série de doenças físicas e psicológicas, em especial hipertensão, hipertrofia ventricular, apneia, depressão e diabetes tipo 2.

Cristiane Bencke Bartz, 38, moradora de Conventos, em Lajeado, decidiu buscar auxílio médico quando todos os tratamentos se mostraram ineficazes. Há dois meses, precisou operar a vesícula e, desde então, está em treinamento para fazer a cirurgia bariátrica. A operação deve ocorrer entre o fim deste ano e o começo de 2016.

Natural de Crissiumal, Cristiane levava uma vida normal até os 29 anos de idade. Na época, pesando cerca de 70 quilos, se mudou sozinha para Lajeado em busca de trabalho. Longe da família e com uma rotina diferente da habitual, desenvolveu depressão. “Passei a encontrar na comida uma terapia contra as dificuldades”, aponta.

Com o passar dos anos, Cristiane chegou aos 150 quilos. Foram diversos os tratamentos contra o sobrepeso que acabaram frustrados. Em 2010, por exemplo, emagreceu 18 quilos com dieta regrada a alimentos naturais. Mas, nas semanas seguintes ao fim do regime, triplicou o peso.

A decisão pela cirurgia leva em consideração orientação médica. Com a obesidade, Cristiane desenvolveu pressão alta e diabetes, passando a ser tratada com medicação controlada. É urgente a necessidade de emagrecer.

Reeducação alimentar

A psicóloga Carine Bernhard Duarte e a nutricionista Patrícia Vogel administram um grupo criado com a proposta de reeducação alimentar. O AliMente trabalha com a concepção de que a perda de peso é consequência das mudanças de comportamentos e hábitos alimentares, refletindo ainda em outras esferas do cotidiano, como do campo profissional, pessoal e familiar.

De acordo com Carine, o padrão de vida interfere. A obesidade ou aumento de peso, observa, resulta de uma associação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais.

No cotidiano agitado, a praticidade ganha espaço e acaba prejudicando a saúde. Quando as comidas congeladas e rápidas tomam conta da cozinha, destaca, o exercício físico cede lugar para o sofá e televisão e o dia não tem uma rotina mínima. “Daí precisamos acender o sinal de alerta, pois assim a pessoa está permitindo que as doenças tomem conta e, por vezes, elas chegam silenciosas.”

Não existe caso impossível de tratamento”

Especialista em Nutrição Clínica e Doenças Crônicas, a nutricionista Patrícia Vogel analisa questões ligadas ao hábito alimentar, cita os diferentes fatores para a obesidade e alerta para a principal ferramenta contra o sobrepeso: a força de vontade.

A Hora – Quais os principais fatores que levam a pessoa a desenvolver peso acima do ideal?

Patrícia Vogel – A obesidade é multifatorial, ou seja, fatores genéticos, metabólicos, ambientais, socioculturais, psicológicos e de estilo de vida (alimentação pouco saudável e sedentarismo) podem estar associados ao ganho de peso. Não existe uma regra. Cada pessoa é diferente.

Algumas pessoas que têm alterações genéticas e metabólicas importantes que dificultam a perda de peso, mas não existe caso impossível de tratamento. Neste caso, o paciente deve procurar auxílio para, além de mudar seu comportamento alimentar, mudar seu estilo de vida e tratar o foco do problema. Mas para isso ele precisa ter persistência.

A sociedade vive em correria. Muitas vezes, “falta” tempo para a alimentação. De que forma isso interfere no controle do peso?

Patrícia – Na falta de tempo, a maioria das pessoas opta por alimentos prontos, industrializados e processados. Esses alimentos, na maioria das vezes, são altamente calóricos e ricos em gorduras e açúcares.

Muitas pessoas têm adotado o processo de redução de estômago para perder peso. Esse tipo de procedimento é adotado para todos os casos? Quando é a hora de fazer a redução?

Patrícia – Uma reeducação alimentar bem feita pelo paciente, com acompanhamento multidisciplinar, poderia reduzir bastante o número de indicações para cirurgia bariátrica. No caso de decidir pela cirurgia, o paciente precisa de acompanhamento com uma equipe multidisciplinar (nutricionista, psicóloga, médico, educador físico, etc) para ter suporte durante o procedimento. É importante salientar que o paciente que se submete a uma cirurgia bariátrica também necessita mudar hábitos e comportamentos alimentares, caso contrário, tem grandes possibilidades de recuperar todo peso perdido em cinco anos após a cirurgia.

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