Projeto cultural enaltece valor do canto coral

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Projeto cultural enaltece valor do canto coral

Fortalecer a cultura e oferecer autossuficiência aos corais da região estão entre as metas do Projeto Encontro dos Corais, a ser lançado neste domingo em Marques de Souza

Vale do Taquari

Vale do Taquari – Aprovada pelo Ministério da Cultura com mérito e relevância, a proposta atinge centenas de corais espalhados pela região. Em dez cidades onde ocorrerão workshops, espera-se atingir diretamente mais de sete mil cantores.

Crédito: Anderson LopesResponsável pela manutenção de uma arte milenar, trazida pelos imigrantes há quase dois séculos, o canto coral terá no projeto a oportunidade de estudar a história, trabalhar questões técnicas do canto e a economia da cultura: uma forma de os participantes se tornarem empreendedores culturais.

O Projeto Encontro dos Corais edição Vale do Taquari RS – Formação, Documentação e Legado da Grande Arte pretende reunir o maior número de corais da região. No dia 25 de novembro, eles se encontram para o espetáculo com todas as vozes reunidas em um grande concerto com Renato Borghetti.

Segundo o diretor-geral do jornal A Hora, Adair Weiss, neste dia será feito um registro videográfico a fim de servir como documento. O objetivo é registrar a grande arte como Patrimônio Imaterial do estado. “É a busca pelo reconhecimento e qualificação.”

O projeto financiado pelo Ministério da Cultura é promovido pelo jornal A Hora e arrecadou até agora R$ 84 mil abatidos do Imposto de Renda de empresas como Docile, Fruki, Bremil, Construtora PavSolo e Beira Rio, patrocinadoras da ação. Serão contemplados cerca de 300 corais do Vale do Taquari.

Festa e lançamento

Em Marques de Souza, o Coral Apollo – que completa 129 anos de existência – foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da cidade. Exemplo para outros grupos da região, o Apollo comemora o aniversário e abarca o lançamento do projeto. A festa será neste domingo.

Às 10h, a igreja central recebe os corais da região. O antigo ritual dos imigrantes deve ser mantido. Na entrada, cada coral, empunhando sua bandeira, cruza os mastros. O sinal é de reverência ao outro.

O almoço será na União Centenária – palco do lançamento oficial do Projeto Encontro dos Corais, às 13h30min. Às 15h, ocorre reunião -dançante.

O mais antigo coral

Apollo foi uma homenagem ao deus grego que gostava do canto e da música. A homenagem veio dos imigrantes. Hoje é o coral mais antigol da região. Tem no quadro de sócios quase 500 associados.

Para Paulo Hagemmann, 68, um dos mais antigos cantores do grupo, cantar é a maneira de demonstrar apreço pela comunidade, mantendo uma tradição que se renova. Conta que quando vieram da Alemanha seus antepassados trouxeram livros de cantos e a Bíblia.

Se instalaram cerca de dez quilômetros distantes um do outro, mas mantinham contato em dias de festa. A presença constante de animais selvagens oferecia perigo aos moradores. “Era preciso proteger também as plantações, mantendo uma fogueira acesa durante todo o tempo.”

De fala mansa, mas de pronúncia forte, o sotaque carregado não deixa dúvida da origem e do gosto pela arte. No início, os corais foram formados apenas por homens. “Alguém tinha que cuidar dos filhos e manter os animais longe das plantações. As mulheres foram escolhidas para isso.”

A primeira igreja, construída de madeira, toda feita à mão, foi derrubada pelo vento. A segunda, já foi de tijolos artesanais e durou mais tempo. Os corais mantêm o que faziam desde o início: cantam em festas, bailes, cultos e velórios, bem como se apresentam em outras cidades.

História do canto

Segundo o professor e pesquisador histórico João Timotheo Esmerio Machado, a história do canto iniciou 15 mil anos atrás. Aqui no Brasil, porém, os primeiros registros remontam aos anos de 1600 a 1750 – na época do Barroco Musical. As músicas sacras tomavam conta das partituras em escolas e igrejas.

Até 1914, o canto coral atingiu grande importância nos enredos das óperas sacras. Conforme o professor, os imigrantes que chegavam se deparavam com uma selva repleta de riscos e para não chorar eles davam as mãos e cantavam.

Jovens aspiram legado

Embora centenário, o grupo tradicional da cidade busca renovação. Para tanto, cinco jovens passaram a integrar a equipe no último ano. Rodrigo Krüger começou a cantar aos 16 anos por influência do pai. Quando criança, acompanhava os pais. Com o timbre vocal primeiro baixo, o canto foi tomando conta da sua alma.

Hoje, aos 22 anos, apoia a causa e chama mais jovens ao grupo. “Estou aprendendo muito com meus colegas, que mesmo sendo em sua maioria mais velhos, me dão muita experiência.”

Entre as viagens com os corais, as mais longas se tornaram mais interessantes. “São culturas e hábitos diferentes, novos ares.”

Para ele, as mídias não podem ser as únicas opões de lazer e cultura entre os jovens. “A manutenção das culturas nos torna pessoas melhores.”

Mudanças jovens

Para Marlon Kehl, 15, o canto mudou a rotina de vida. As novas amizades, o conhecimento de novas culturas e o aumento da autoestima foram combustível para entrar em outro coral – o Apollo, que recebeu cinco jovens nos últimos meses.

O garoto afirma que por meio do Coral 25 de Julho viajou para vários lugares. “Tinha poucos jovem, mas é legal escutar o que os coralistas mais velhos têm a dizer. O professor é bem parceria”, conclui.

Segundo o coralista Leonardo Gräf, 22, a participação nos quatro corais da região ocupa seu tempo de lazer. Tinha 8 anos quando passou a cantar no coral da escola Arlindo Back, do distrito de Forqueta, em Arroio do Meio.

Depois disso, surgiram várias oportunidades, pois os regentes lhe convidavam a integrar outros grupos.

A voz mudou mesmo quando tinha 14 anos. A partir dali, passou a ser um dos tenores. Há quatro meses, faz parte da ala jovem do Coral Apollo. Com as viagens, aprendeu a conhecer a diversidade cultural dos lugares e a lidar com as pessoas. “É um motivo para descontrair do trabalho.”

Para ele, o coral serve para isso, para trabalhar o espírito de liderança. “Acredito que meu convite a alguns amigos os salvou de muita coisa.”

Projeto Encontro dos Corais Edição Vale do Taquari RS – Formação, Documentação e Legado da Grande Arte

• O que é

Trata-se de uma proposta que visa qualificar os corais da região com workshops, ampliando o acesso à cultura e incentivando a formação de plateias. É a geração de emprego e renda da cadeia produtiva cultural.

• Como funciona

A proposta oferece cursos técnicos e de empreendedorismo cultural, visando a sustentabilidade dos grupos. Os cursos ocorrem durante o mês de novembro. No dia 25 de novembro, os coralistas serão convidados a compor o espetáculo inédito com cerca de sete mil vozes da região. Haverá o registro videográfico para materializar e documentar a grande arte na busca pelo registro do patrimônio imaterial.

• Quando

Domingo – Lançamento em Marques de Souza

Novembro – Workshops em dez cidades da região. São elas: Lajeado, Colinas, Forquetinha, Encantado, Marques de Souza, Estrela, Arroio do Meio, Dois Lajeados, Santa Clara do Sul, Teutônia.

Dia 25 de novembro – A grande final será com a apresentação com todos os corais e registro videográfico.

• Quem participa

Todos os corais do Vale do Taquari podem participar dos cursos e do concerto. Inclusive alunos de escolas.

• Realização

Ministério da Cultura e Jornal A Hora

• Patrocínio

Docile, Fruki, Bremil, Construtora PavSolo, Calçados Beira Rio e Distribuidora de Produtos de Petróleo Charrua.

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