“Me pediram um Vectra. Ofereci o meu Fusca.”

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“Me pediram um Vectra. Ofereci o meu Fusca.”

Aposentado relata momentos que passou em poder de três dos oito assaltantes que atacaram dois bancos e uma agência lotérica. Ele levou os bandidos até a Região Metropolitana em um Fusca ano 1976, seguindo por estradas vicinais e pela RSC-470.

Vale do Taquari
oktober-2024

Imigrante – Trinta policiais faziam cerco na divisa entre as localidades de Imhoff e linha Boa Vista 37 buscando capturar um grupo de três assaltantes que atacou duas agências bancárias e uma lotérica no município. Ao mesmo tempo, o aposentado R.S, de 60 anos, levava os bandidos à Região Metropolitana por estradas vicinais da região em um Fusca 1976.

Crédito: DivulgaçãoApesar de parecer surreal, a cena ocorreu na madrugada de segunda para terça-feira, quase 14 horas após o crime. Os bandidos chegaram à propriedade por volta das 2h. Do lado de fora da residência, gritaram dizendo ser da polícia. “Disseram que estavam procurando por ladrões, mas pelas roupas que usavam percebi que não eram policiais.”

Ao abrir a porta, os assaltantes se identificaram, mostraram uma arma de grosso calibre e disseram que precisavam sair da região o quanto antes. “Estavam com medo de serem mortos pelos policiais que faziam o cerco e disseram que não iam fazer nada de mal para mim.”

R.S. acordou os dois filhos e a mulher. Relatou o que estava acontecendo e disse para não se preocuparem, pois sabia que voltaria. Ao chegar do lado de fora, perguntaram se iriam em um Vectra. “Me pediram um Vectra. Ofereci o meu Fusca.”

Dois dos assaltantes se acomodaram no banco de trás e o terceiro ficou na carona. Disseram que queriam ir em direção a Porto Alegre, mas não conheciam as estradas da região.

R.S. Seguiu em direção a Arco Verde, se perdeu no meio do caminho e precisou retornar antes de chegar à RSC-470. “Evitava olhar para trás, mas toda vez que tinha que trocar de marcha enxergava a arma que estava na mão do caroneiro.”

Pela rodovia, chegou até Montenegro, onde pagou pedágio. Ao se aproximar da Região Metropolitana, passou a se preocupar em como voltar para casa. “Queriam ficar com o carro, mas pedi por favor para me deixarem ir embora com o Fusca, pois eu já tinha salvado os três.”

Nesse momento, os assaltantes começaram a fazer ligações. Em uma delas, combinaram de se encontrar com alguém e ordenaram que o aposentado entrasse na periferia de uma cidade que R.S. não soube identificar. Era a Vila Scharlau, em São Leopoldo.

“Desceram e disseram para ir embora, sem olhar para trás. Acho que um carro já estava esperando por eles, mas não tenho certeza”, lembra. O aposentado seguiu para a rodovia e voltou para Imigrante. Ao passar por uma barreira policial, falou aos agentes sobre o acontecido. Chegou em casa por volta das 8h de ontem.

Apesar de ficar por horas em poder dos assaltantes, R.S. afirma que não ficou medo. “Ficaria preocupado se me deixassem a pé”, ressalta. O aposentado alega que não havia motivo para preocupações, uma vez que fez tudo o que os bandidos queriam.

Dono da propriedade faz 11 anos, o aposentado morava em Garibaldi até novembro do ano passado, quando se mudou em definitivo para o sítio. Segundo ele, o motivo da mudança era a procura por tranquilidade.

Escudo humano

Trabalhadores de uma obra na avenida Doutor Ito João Snell não prestaram muita atenção aos barulho semelhante a tiros ouvidos próximos do meio-dia de segunda-feira, 10. “Não percebemos que era um assalto”, disse um deles, de 63 anos.

Cerca de 15 minutos depois, um homem armado com um fuzil foi até o local e chamou a equipe. A ordem era para que ficassem de mãos dadas no meio da avenida para formar um escudo humano e impedir qualquer ação da polícia.

Outros três trabalhadores, de 16, 32 e 41 anos, se juntaram a moradores, clientes e funcionários dos estabelecimentos bancários que se alinhavam na avenida. Eles descreveram os criminosos como pessoas tranquilas, que sabiam o que estavam fazendo. “Conversavam conosco para que nos mantivéssemos calmos.”

Cerca de 15 minutos depois, os assaltantes entraram em dois carros e foram embora, levando dois reféns que foram liberados após o capotamento de um dos automóveis.

No dia seguinte ao ataque, os trabalhadores voltaram ao serviço. Apesar da violência da ação, disseram não ter medo de novos assaltos. “A maioria deles foi presa. Aqui, não voltam mais.”

Testemunha ocular do assalto de segunda-feira, uma servidora da prefeitura acredita que a quadrilha é a mesma que atacou os dois bancos no dia 9 de dezembro do ano passado. Na ocasião, ela foi feita refém pelos assaltantes.

“Reconheci dois deles, um mais gordo, que na primeira vez ficou do lado de fora atirando, e um moreno magro do qual fiquei sob custódia”, ressalta. Segundo ela, as duas ações foram semelhantes. Em ambas, os bandidos chegaram atirando nos vidros das agências e formaram um escudo humano.

Pouco efetivo

O segundo assalto a bancos em oito meses preocupa o prefeito Celso Kaplan. Para o gestor, a cidade precisa de uma ampliação no efetivo da Brigada Militar para garantir a segurança dos munícipes. “Ontem (segunda-feira) eram oito homens fortemente armados e tínhamos apenas um policial.”

Apesar da dificuldade, Kaplan elogia a ação da BM no cerco aos bandidos. Segundo ele, pouco tempo após a ação dos criminosos, cerca de 80 policiais integraram as buscas, que contaram, inclusive, com o uso de um helicóptero.

Kaplan relata que os assaltantes estavam preparados para passar a noite no mato. Com os cinco que foram capturados, a polícia encontrou armas, comida, remédio e roupas limpas, além de rádios ligados na frequência da polícia. “Sabiam que não tinha sinal de celular na localidade.”

O prefeito debaterá a fragilidade da segurança pública nos municípios menores na próxima reunião da Amvat. Ressalta que outras cidades da região já sofreram assaltos semelhantes e também enfrentam dificuldades de efetivo.

Audiência debate segurança

O município realiza no dia 27 audiência pública para discutir ações que aumentem a segurança dos munícipes. O encontro ocorre às 19h30min, no Centro Comunitário.

Conforme Celso Kaplan, o encontro não tem relação com a ação dessa segunda-feira. A intenção é estabelecer ações de prevenção. “Ainda temos hábitos como deixar as portas sempre abertas e atender pessoas que não conhecemos.”

Para o prefeito, a mudança na conduta dos munícipes é necessária, tendo em vista o crescimento econômico da cidade. Com indústrias de médio e grande porte e atividade rural rentável, o município se destaca por uma renda per capita considerada alta, o que pode atrair a ação de bandidos.

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