Estrangeiros buscam espaço no mercado

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Estrangeiros buscam espaço no mercado

Ação desenvolvida pelo FGTAS/Sine pretende reinserir mais de 250 trabalhadores

Lajeado

Lajeado – O alto índice de desemprego dos estrangeiros residentes na cidade motiva ação específica da agência FGTAS/Sine. A fundação inicia uma série de debates entre poder público e líderes do setor empresarial em busca de alternativas. Estima-se que quase 25% dos mais de mil imigrantes no município estejam sem trabalho.

Estevão HeislerA proposta começou a ser estruturada há mais de um mês, a partir de uma conversa entre o coordenador da agência, Oilquer João dos Santos, e o diretor-técnico da FGTAS, Pedro Francisco da Silva Filho. “Como também temos essa função social, pensamos de que forma poderíamos ajudá-los a encontrar serviço”, observa Santos.

O plano passou a ser discutido com o haitiano Renel Simon, empregado desde o começo de 2013 pelo Centro de Referência em Assistência Social (Cras) para auxiliar as famílias estrangeiras. Partem dele as principais informações e estatísticas, pois recebe a visita de dezenas de imigrantes todos os dias.

Apenas nas últimas duas semanas, 52 pessoas se dirigiram a Simon pedindo ajuda para encontrar trabalho. De acordo com ele, os principais obstáculos estão na dificuldade de comunicação e no preconceito.

De acordo com Simon, as empresas os julgam antes mesmo de conversar. Como exemplo, cita uma situação que vivenciou faz pouco tempo. “Visitei uma empresa e já na recepção me encaminharam para a vaga de ponta de estoque. No entanto, sequer havia falado o que estava fazendo lá”, destaca.

Importante aliado dos imigrantes tem sido o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Avícolas e Alimentação Geral de Lajeado e Região (Stial). De forma periódica, representantes da entidade promovem encontros para verificar se os estrangeiros têm as mesmas condições de trabalho que os demais profissionais, se os seus direitos são respeitados e se estão adaptados à região.

Mão de obra qualificada

Haitianos estão entre a maioria dos residentes na cidade. Representam quase 60% do total. No restante, são senegaleses, nigerianos, indianos e imigrantes de Bangladesh. Todos, garante Simon, ingressaram no país com o principal interesse em crescer profissionalmente e estudar.

Entre a lista de desempregados, diversos têm qualificação técnica e até formação em Ensino Superior. Engenheiros, economistas, eletricistas e especialistas em Informática, entre outros, tentam trabalho e acabam sendo dispensados.

No Brasil faz oito meses, o haitiano Adler Cédieu, 30, está desempregado faz quase 60 dias. Desde que chegou ao país, está em Lajeado. Bacharel em Economia e formado como encanador, enfrenta dificuldades para encontrar trabalho.

O primeiro emprego foi em um abatedouro, onde permaneceu por três meses e decidiu sair para buscar algo melhor. Ficou outros três meses em uma empresa, onde atuou como encanador. Nesse período, também lecionou francês. Fala ainda inglês, espanhol, português e o dialeto crioulo, do Haiti.

Proposta apresentada ao governo

A busca por mais espaço no mercado aos estrangeiros começa na próxima sexta-feira, quando o coordenador da agência de Lajeado se reúne com líderes do governo municipal. A reunião ocorre no gabinete do prefeito Luís Fernando Schmidt.

Contará ainda com a participação de integrantes da comissão municipal de emprego e das secretarias do Desenvolvimento Econômico e Inovação (Sedei) e de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas). “Queremos apresentar as propostas e provocá-los para que nos ajudem a encontrar uma solução a esses imigrantes”, observa dos Santos.

A partir do encontro, a agência FGTAS/Sine pretende contatar com empresários da cidade para organizar um evento maior, reunindo líderes do governo e do setor empresarial. Santos contesta argumento apontado por muitos na sociedade, de que os estrangeiros pretendem tirar o espaço de brasileiros no mercado de trabalho. “Isso não é verdade. Há lugar para todos.”

Circulação é constante

Nenhuma entidade ou órgão público tem informações precisas sobre o número de estrangeiros ou sua localização no país. O município de Lajeado está entre os poucos no estado a desenvolver ações em benefício dos imigrantes e acompanhar a situação das famílias.

A cada mês, dezenas partem de outros estados com destino à rodoviária de Lajeado. Em contrapartida, vários embarcam para fora. Estão em busca de uma região onde possam se adaptar e, para isso, se valem de noticiários e conversas com amigos pela internet.

O haitiano Simon foi contratado justamente para intermediar a relação entre governo e os demais estrangeiros. Trabalhava como tradutor intérprete no Haiti e fala fluentemente, além do dialeto crioulo (língua nativa), quatro idiomas: inglês, francês, português e espanhol. Tal posição lhe permite estar entre poucos a inspirar confiança dos conterrâneos. A maioria evita conversar com estranhos, muito em função de traumas decorrentes da jornada de ingresso no país, quando sofreram abusos de direito, preconceitos e golpes de atravessadores.

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