Escolas fecham e servidores vão às ruas

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Escolas fecham e servidores vão às ruas

A paralisação em protesto ao parcelamento dos salários levou centenas de pessoas às ruas e causou interferência em quase toda rede pública ontem. Trinta escolas fecharam na região e pelo menos cinco mil alunos ficaram sem aula. Policiais militares, civis e agentes da Susepe fizeram passeata pelas principais ruas de Lajeado.

oktober-2024

Vale do Taquari – Uma manifestação incomum parou o centro de Lajeado na tarde de ontem. Por quase 20 minutos, cerca de cem servidores da Brigada Militar (BM), Susepe, Polícia Civil (PC) e Secretaria da Saúde, acompanhados de familiares, percorreram as principais ruas em passeata contra o parcelamento dos salários do funcionalismo gaúcho.

Crédito: Estevão HeislerHistórica, a junção das forças de segurança alvoroçou quem trabalhava ou circulava pela área central. Em determinados locais, pessoas suspenderam o que faziam para aplaudir. O grupo partiu do 22º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e seguiu pela rua Júlio de Castilhos até o entroncamento com a av. Senador Alberto Pasqualini, de onde retornou ao quartel pela av. Benjamin Constant.

Munidos de cartazes com mensagens de repúdio ao parcelamento, os participantes cantavam ainda trechos do hino rio-grandense e recitavam frases como: “Polícia na rua, Sartori a culpa é sua” e “Se o gringo não pagar, a polícia vai parar”.

Há 12 anos na Brigada Militar, um sargento diz jamais ter presenciado tamanha mobilização no Vale do Taquari. “Isso mostra a força da categoria e que todos estão insatisfeitos com a condição da segurança pública.” Da corporação, participaram cerca de 30 servidores, em especial de Lajeado, Santa Clara do Sul, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul. Todos fora do horário de serviço e sem farda.

A mobilização começou por volta das 14h, em frente ao batalhão. Ao chegar no local, servidores de outros órgãos eram recepcionados com aplausos. Manifestação semelhante ocorreu à noite em frente ao quartel da BM, em Estrela. Mulheres dos policiais ficaram paradas em frente ao prédio para evitar a saída de viaturas.

Operações suspensas

Embora PMs tenham ido às ruas, o patrulhamento foi mantido de forma normal, garante o tenente-coronel César Augusto Pereira da Silva. Quem estava de serviço não pôde participar das manifestações, conforme determina a legislação.

Na PC, quase todas as atividades estão suspensas, exceto o atendimento a casos mais graves. Os 76 servidores atuantes no Vale do Taquari participaram do protesto de ontem, incluindo delegados.

Desde sexta-feira à noite, a polícia deixou de realizar qualquer ação ou operação, com exceção de casos graves e flagrantes de delitos. Conforme o vice-presidente da associação dos delegados, Wilson Müller Rodrigues, não serão mais remetidos inquéritos policiais, termos circunstanciados e procedimentos para adolescentes infratores, exceto autos de prisão em flagrante e inquéritos de investigado preso.

A paralisação segue até que os subsídios referentes ao mês de junho sejam integralizados, o que está previsto apenas para o dia 25. Em caso de novos parcelamentos, a medida será automaticamente retomada. A partir do dia 17 deste mês, os delegados também suspenderão o sobreaviso por 30 dias.

Um terço das escolas parou

Na volta às aulas após o recesso de inverno, ontem de manhã, muitos alunos se depararam com as escolas estaduais fechadas. Dos 92 colégios da 3ª Coordenadoria Regional de Educação, 30 aderiram ao dia de protestos e paralisaram as atividades. A região engloba 23,9 mil estudantes e 2,8 mil servidores.

Apenas em Lajeado, das 11 instituições apenas três funcionaram de forma normal. Quase 3,7 mil estudantes ficaram sem aula. No Colégio Presidente Castelo Branco, “Castelinho”, a decisão de postergar a volta dos alunos ocorreu em reunião interna das 7h15min às 8h. Em seguida, um cartaz foi colocado em frente ao prédio informando que não haveria aula. O aviso também ocorreu pelas redes sociais e por meio dos veículos de comunicação.

Maior escola do Vale do Taquari, o Castelinho tem 1,3 mil alunos, 106 professores e 20 servidores. Todos foram dispensados, exceto aqueles funcionários responsáveis pelos serviços administrativos e de secretaria. Outra fechada foi a escola Érico Veríssimo, na qual são quase 900 estudantes e 80 professores e funcionários.

Em Cruzeiro do Sul, o Grêmio Estudantil da escola João de Deus protestou em defesa dos professores. A caminhada que estava previsa para ocorrer ao lado de PMs foi substituída por mobilização em frente ao prédio durante a manhã. As aulas também foram suspensas aos 250 alunos.

Situação semelhante ocorreu em Santa Clara do Sul. Quase cem estudantes do colégio local percorreram a avenida 28 de Maio reclamando do parcelamento dos salários.

A coordenadoria regional assentiu às manifestações. No entanto, prevê dificuldades para recuperar o dia letivo perdido. Como o calendário escolar encerra na última semana de dezembro, alunos e professores deveriam voltar às escolas em janeiro.

Defensoria ingressa com ação coletiva

A Defensoria Pública do Estado (DPE) ingressou, ontem, com uma ação civil pública (ACP). Pede-se o adiamento do vencimento das contas dos servidores públicos, junto ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e de suas subsidiárias.

O objetivo é evitar a incidência de juros enquanto não houver o pagamento integral dos vencimentos. “As dívidas bancárias, tais como empréstimos, cheque especial e cartão de crédito, serão as últimas contas a serem pagas pelo servidor, em vista dos custos básicos com alimentação, moradia e saúde de seu corpo familiar”, observa o defensor público Felipe Kirchner.

De acordo com ele, embora a medida de contingenciamento salarial não seja desejada pelos gestores públicos, impacta decisivamente na vida econômica dos servidores, devendo haver medidas compensatórias por parte do Banrisul, que se beneficia da relação com o Estado ao gerir a folha de pagamento dos servidores e captá-los como clientes. Havendo beneficiamento com essa relação, natural que haja a imposição dos ônus à instituição financeira das medidas extraordinárias tomadas pelo Estado, controlador do Banco.

Impacto no Vale

Das 92 escolas estaduais do Vale, 30 cancelaram as aulas ontem. Todas prometem voltar hoje.

Pelo menos cinco mil alunos foram prejudicados.

BM manteve atendimentos, mas servidores de folga protestaram.

Todos os 76 agentes da Polícia Civil limitaram os atendimentos e cancelaram operações.

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