Sem aula nem  policial na rua

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Sem aula nem policial na rua

Os servidores gaúchos tiveram a confirmação do parcelamento dos salários nessa sexta-feira. O Estado fixou em R$ 2.150,00 a parcela máxima de vencimentos pagos na data e provocou uma onda de insatisfação. Entidades definiram paralisação geral nesta segunda-feira. A promessa é de escolas e delegacias fechadas, além da suspensão do policiamento ostensivo. As nove associações da BM, ASSTBM, Abamf, Abergs, AOSFBM, FERPMB, Abservalebm, SRDW, Abef e APMT assinam documento conclamando a mobilização. Assembleia unificada, marcada para o dia 18, pode deflagrar uma greve geral de proporções inéditas.

oktober-2024

Estado – O manifesto assinado pelas associações de policias militares dá a dimensão do movimento desencadeado a partir do parcelamento dos salários dos servidores gaúchos. As nove entidades que representam a categoria decidiram por integrar a paralisação geral desta segunda-feira.

04Pela primeira vez na história, a Brigada Militar deixará de fazer o policiamento ostensivo. “Sugerimos que a população não saia de casa e que o comércio mantenha as portas fechadas” afirma o vice-presidente da Abamf, Ricardo Agras. Os agentes ficarão nos quartéis, atendendo apenas a situações de emergência.

Agras afirma que o corte atingiu 100% dos trabalhadores da BM, ativos e inativos. Com isso, crescem as chances de uma greve inédita na corporação. A decisão será tomada no dia 16 de agosto, em assembleia que reunirá todas as classes de servidores do Estado.

Conforme Agras, apesar da legislação militar não permitir greves, no entendimento do departamento jurídico da entidade, a manifestação seria legítima. “O governador, que é o comandante em chefe da corporação, descumpre a legislação ao parcelar os salários. Com isso, nos autoriza a parar as atividades.”

A área da segurança pública é a mais afetada pelo parcelamento dos salários. Estima-se que 85% dos trabalhadores do setor tiveram os vencimentos parcelados. Além da BM, Polícia Civil, Susepe e do IGP também param na segunda-feira.

Representante da União dos Escrivães, Inspetores e Investigadores da PC (Ugeirm), Magda Lopes afirma que as delegacias estarão fechadas das 8h às 18h na segunda-feira. Segundo ela, apenas casos emergenciais e delitos em flagrante serão atendidos.

“Faremos o possível para a população não ficar desassistida, mas estamos com a corda no pescoço”, reforça. Para Magda, a divisão dos pagamentos atrapalha ainda mais agentes que já atuam em situação precária por falta de efetivo e de recursos para compra de equipamentos.

Ao contrários das demais manifestações da PC realizadas neste ano, os delegados também devem integrar a paralisação de segunda-feira. Em nota oficial, a Associação dos Delegados Gaúchos declarou apoio ao movimento dos policiais.

Os serviços prestados nos presídios gaúchos também serão afetados. Conforme o diretor da Associação dos Agentes Penitenciários (Amapergs), Jean Strauss, apenas os atendimentos hospitalares e a alimentação dos detentos serão mantidas.

“Não teremos atendimentos internos, jurídicos ou serviços administrativos”, alerta. As transferências de presos também ficam suspensas.

Sem dinheiro para as contas

O parcelamento dos salários afetou a autoestima dos servidores, alega Magda Lopes. Segundo ela, o sentimento da categoria é de indignação. “Não temos dinheiro para pagar as contas e não existe uma explicação para o que está acontecendo.”

A policial alega que boa parte dos colegas ficou sem vencimentos, uma vez que o valor depositado não foi suficiente para cobrir empréstimos, financiamentos e descontos trabalhistas. “No meu caso, se eu pagar o cartão de crédito fico no vermelho.”

Um servidor da Susepe com atuação no Vale afirma que recebeu menos da metade do salário normal, e que o valor foi simplesmente depositado na conta bancária. “Não tivemos nem acesso ao contracheque.”

Como boa parte as contas de luz, água e cartão de crédito são debitadas automaticamente, alega que começará o mês com saldo negativo. “Minha situação ainda é tranquila porque não tenho empréstimos e financiamentos a pagar. Mas alguns colegas não sabem como vão se manter.”

Segundo ele, a situação é ainda mais complicada para os novos servidores que vieram morar na região. “Alguns largaram tudo, moram de aluguel e agora enfrentam essa incerteza.” O servidor afirma que as condições de trabalho nos presídios são precárias, com falta de efetivo e superlotação.

Apreensão no comércio

O agente penitenciário considera que a estratégia do governo pode ser ainda mais prejudicial para a economia gaúcha. Sem o dinheiro dos funcionalismo público, acredita que haverá queda no consumo e, por consequência, na arrecadação. “Invariavelmente veremos reflexos no setor privado.”

O presidente da CDL Lajeado, Daniel Dullius, confirma os impactos no comércio. “Já recebemos avisos de pessoas que pediram prorrogação de contas devido ao parcelamento”, afirma.

Apesar da ameaça de não haver policiamento ostensivo, ele garante que o comércio se manterá aberto na segunda-feira. “Prestaremos mais atenção na segurança dos estabelecimentos enquanto aguardamos um consenso entre servidores e o governo.”

Conformo o vice-presidente da Federação das CDLs, Fernando Balaoro, a estimativa é que R$ 330 milhões deixem de circular no comércio gaúcho. “A simples notícia negativa já retrai o consumo. Temos que estar preparados para resultados menores em agosto.”

Ele orienta que os lojista evitem circular com valores altos ou manter grandes quantias no caixa. “Também sugerimos outras ações como a contração de seguranças particulares para evitar assaltos.” O Sindicato dos Bancários (Sindibancários) ingressou na sexta-feira com uma medida cautelar na JUustiça pedindo para que os atendimentos nas instituições sejam suspensas na segunda-feira. Até o fechamento da edição, ainda não havia decisão sobre o pedido.

Cpers suspende volta às aulas

Em assembleia realizada na manhã de sexta-feira, 31, o Sindicato dos Professores do RS (Cpers) decidiu por suspender o retorno das férias, que ocorreria na segunda-feira.

De acordo com diretor-geral do 8º núcleo, Oséias Souza de Freitas, a orientação é que os pais e alunos não compareçam às escolas. “Queremos que a comunidade apoie a categoria e integre nossas manifestações.”

No fim de semana, o Cpers define uma série de protestos a serem realizados na data. Além de pais e alunos, a expectativa é que aposentados também integrem as atividades, uma vez que estão entre os mais prejudicados.

A partir de terça-feira, 4, as escolas receberão os alunos, mas as aulas serão reduzidas para a realização de debates e manifestações da categoria. “Também visitaremos pais e alunos para explicar a situação e tentar ampliar o apoio da sociedade.”

Freitas afirma que a principal reclamação da categoria é que os cortes só atingem os servidores do Executivo. Segundo ele, Judiciário e Legislativo seguem com os salários e verbas de gabinete em dia enquanto 62 mil professores tiveram vencimentos parcelados. “Quem sofre são sempre os trabalhadores de menor escalão.”

Para o dia 18, data em que ocorrerá a assembleia unificada dos servidores, o Cpers disponibilizará ônibus em todas as cidades do Vale para garantir a participação maciça dos servidores da região.

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