Doze dias após a conquista da medalha de ouro no Pan-Americano de Toronto, Marcel Stürmer retornou para casa. O patinador, de 29 anos, chegou em Lajeado, ontem às 17h40min, vindo de Porto Alegre, onde reside. Ao lado da família, o atleta foi recepcionado por centenas de fãs, que fizeram grande festa para o ídolo.
Com a medalha de ouro no peito, desfilou em carro aberto pelas principais ruas da cidade, sendo aplaudido de pé.
Joana Peixoto Vier, 34, levou a filha Isabel, 5, para incentiva-lá a continuar na patinação. “Ele é um exemplo de dedicação e inspiração,” salienta. Joana e Isabel são integrantes da escola de patinação da professora Jaqueline Nonnenmacher, a mesma que ensinou o tetracampeão pan-americano.
Durante o desfile, as pessoas que trabalham no comércio paravam o que estavam fazendo para acenar e parabenizar o campeão.
Nas calçadas, nas construções, no comércio e nas janelas das casas e prédios, os lajeadenses prestaram homenagem ao tetracampeão.
Entre elas estava Letícia Neumann, 27, junto com as colegas, enfeitaram a vitrina com mensagens a Marcel. “Sempre incentivamos ele, todas as conquistas foram expostas aqui, é motivo de orgulho para nós termos um campeão aqui da cidade,” conta a vendedora. Emocionadas, várias pessoas choravam ao ver o ídolo de perto. A aposentada Gerda Dolgener, 71 contou em meio as lágrimas do primeiro contato que teve com Stürmer. “Há seis anos mais ou menos, meu neto fez uma apresentação na escola onde imitava o Marcel, e no final, ele apareceu, abraçando e parebenizando meu neto, foi muito bonito.”
“Sou a torcedora número 1”
Na patinação há mais de 30 anos, Jaqueline Nonnemacher relata que a conquista de Marcel alavanca o esporte na região. Treinadora dele até 2011, considera ser difícil surgir um novo atleta como ele no continente americano. “Temos muitos talentos no Brasil, mas as conquistas que ele teve nestes 16 anos, são imbatíveis.”
No período em que conviveu com Marcel, foram inúmeros conquistas e episódios tristes, mas o mais marcante foi a conquista do Pan de 2011. Segundo Jaqueline, Marcel se reinventou após ter todos os equipamentos furtados no caminho para o aeroporto. “Por essa e outras histórias sou a torcedora número um dele.”
Família eufórica com a conquista
Ao chegar em Lajeado, o pequeno Victor Stürmer, 4, filho de Ismael, irmão mais velho de Marcel, estava eufórico. O garoto foi um dos primeiros a ganhar um abraço do campeão.
No Ginásio do Colégio Madre Bárbara, Victor pôde pela primeira vez tocar e beijar a medalha de ouro.
Para Ismael, a conquista representa muito não só para a cidade como para o estado e país, pois ajuda a difundir a patinação. “Nós que acompanhamos toda a trajetória dele, sabemos da dificuldade que passou para chegar onde chegou.”
“Se não fazem o que gostam, não serão felizes”
Durante a homenagem, o patinador contou um pouco da trajetória na patinação. Dos treinamentos realizados com a professora Jaqueline e sobre uma profecia feita. Após um treino, a então promessa, disse que seria um dia o melhor patinador do mundo. “Lógico que na hora eu nem sabia o que estava falando, mas como eu gostava muito sabia que podia chegar lá.”
Para ele, o segredo do sucesso foi acreditar e gostar do que faz. “Vocês podem ter muito dinheiro, mas se não fazem o que gostam, não serão felizes, acho que isso foi o principal na minha vida.” No seu discurso, Stürmer aconselhou as crianças e pessoas que estavam no local, a esquecer o que os outros falam e mandam fazer. “Vivemos num mundo capitalista, onde qualquer decisão é tomada por dinheiro, é importante, mas não pode ser a ração principal para nada.”
Ele encerrou o pronunciamento falando que estava lesionado antes de chegar a Toronto, mas quando chegou a cidade Canadense, não sentiu mais nenhuma dor e estava confiante em conquistar a quarta medalha.
Relembre o título
A medalha de ouro em Toronto veio sob fortes aplausos dos espectadores no Exibition Center. Marcel recebeu a nota 134.2 na apresentação longa (de 4 minutos e 10 segundos de duração e que vale 75% da nota final,) em que usou uma trilha com mix de músicas dos Beatles. Ficou com nota final agregada de 536 pontos.
No sábado, na apresentação curta (de 2 minutos e 15 segundos e que vale 25% da nota total), somou 133,4 pontos, seis à frente do segundo colocado na noite, o argentino Aníbal Frare. No fim, a prata ficou com o americano John Burchfield e o bronze, com o colombiano Diego Duque.
Esta foi a quarta medalha de ouro conquistada pelo patinador. Antes ele havia vencido em Santo Domingo (República Dominicana) em 2003, no Rio de Janeiro (Brasil) em 2007, e em Guadalajara (México) em 2011. Com a medalha conquistada no dia 12, tornou-se o primeiro atleta brasileiro tetracampeão em prova individual.
Entrevista
A Hora – Você imaginou chegar um dia onde chegou?
Marcel Stürmer – É um momento que nunca vou esquecer, nunca imaginei ser campeão Pan-Americano. Quando fui campeão em 2003, achei que isso fosse um acidente que nunca mais fosse acontecer, e bater este recorde, um patinador fazendo história no país do futebol, nem no meu sonho mais otimista eu poderia imaginar.
A Hora– Esse momento, essa recepção o que você está achando?
Marcel – Com certeza, demonstra que vale apena acreditar, ir atrás, que é possível, não existe barreira quando se tem vontade, quando se tem amor, quando se trabalha duro.
A Hora– Qual é o legado que você deixa?
Marcel – Acho que o legado é de coragem e que é possível viver um sonho, por mais incomum que ele seja, as pessoas tem que acreditar no que elas querem, indiferente se ela é a primeira a pessoa a tentar fazer alguma coisa, mesmo que nunca ninguém fez, só acreditar e trabalhar duro.