Mãe pede translado de filha assassinada

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Mãe pede translado de filha assassinada

Vítima foi enterrada como indigente. Família critica procedimento das autoridades

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Imigrante – O assassinato de Ana Paula Soalheiro Silva, 35, expõe falhas nos procedimentos adotados em casos de morte de pessoas que vieram de outras regiões. Natural de Brasília, foi encontrada morta na manhã de sexta-feira, 17.

Crédito: Anderson LopesO corpo permaneceu exposto na praça central por cerca de dez horas, antes de ser enviado ao DML, em Lajeado, e foi enterrado no mesmo dia sem que as autoridades tenham localizado algum parente.

Na segunda-feira, 20, os familiares souberam do crime por meio de uma reportagem veiculada na página de internet do jornal Correio do Povo. Conforme a mãe, Maria do Rosário Soalheiro, foi a Polícia Civil de Rio do Sul, em Santa Catarina, que avisou a família sobre a notícia.

“Foi um grande susto, pois mantínhamos contato com ela diariamente”, lembra. O drama da família aumentou quando a mãe procurou a Assistência Social de Imigrante e descobriu que a filha já havia sido enterrada.

“Não sabemos direito o que aconteceu e não vimos o corpo. É uma situação desesperadora”, relata. Acredita que faltou empenho das autoridades para encontrar a família e afirma que Ana mantinha os contatos de vários parentes na memória do aparelho celular e que cumpriu pena no sistema prisional catarinense.

Para Maria do Rosário, uma busca pelo CPF ou o RG da filha seria suficiente para evitar o transtorno. “Quem faz uma compra em qualquer lugar do Brasil e deixar de pagar é encontrado onde quer que esteja. Como não localizam a família de alguém que foi assassinado?”

O delegado Juliano Stobbe, responsável pelo caso, afirma que foram adotados todos os procedimentos habituais para casos como esse. “Tentamos, sem sucesso, contatar familiares e conhecidos por meio de telefones que estavam em uma agenda da vítima.”

Segundo ele, após o corpo ser encaminhado à perícia, a responsabilidade fica por conta do DML. “Como não tem câmaras frias, não houve tempo para esperar algum familiar aparecer”, alega.

Stobbe afirma que há uma regra definida para casos. “É questão de bom senso. Se houvesse o pedido para reconhecer o corpo em três dias, daríamos um jeito.”

Conforme o delegado, os familiares têm o direito de pedir a exumação do corpo e o translado para Brasília. Maria do Rosário afirma que encaminhará o caso ao Ministério Público.

Solicitação inesperada

A secretária da Saúde e Assistência Social, Regiane Möllmann, afirma que o pedido por vaga no cemitério da cidade causou surpresa. “Não sabíamos que a vítima morava em Imigrante”, relata. Segundo ela, o contato foi feito por uma funerária que não obteve sucesso em encontrar a família.

O município tentou consultar os cadastros nacionais do cartão SUS. O telefone indicado era de uma cidade de Santa Catarina, mas as pessoas que atenderam diziam desconhecer a vítima. Os dados cadastrais de Maria do Rosário também foram buscados. “Não constavam informações.”

Como a câmara de resfriamento do IML de Lajeado não funciona, o município teve que fazer o enterro no mesmo dia do crime. “Não podemos manter um corpo, até por uma questão de saúde pública. Tivemos que cumprir o que a lei determina.”

Perdemos o controle”

A mãe da vítima acredita que a situação social de Ana Paula foi determinante para os procedimentos adotados. “Pensaram que era moradora de rua e disseram que se prostituía.”

Relata que a filha era dependente química e que saiu de casa porque não gostava de obedecer regras. “Chegou a fazer faculdade de Enfermagem e trabalhou como tradutora da língua de sinais, mas perdemos o controle sobre ela.”

Ana Paula vagou por diversas cidades após sair de casa, mas sempre mantinha contato com a família. “A única vez que ficamos sem receber notícias dela, descobrimos que tinha sido presa em Rio do Sul.”

Conforme Maria do Rosário, a filha ficou um mês em regime fechado antes de ser transferida para prisão domiciliar. “Depois ela seguiu para outras cidades e um dia me ligou dizendo que estava trabalhando em um hotel de Teutônia.”

A família não sabia que Ana Paula estava morando em Imigrante. Além da mãe, ela deixou irmãos e dois filhos, de 4 e 10 anos. “O sonho de todos nós era que ela voltasse para casa e fizesse tratamento, mas não foi possível.”

Câmara fria

A falta de dinheiro para consertar uma câmara de resfriamento completa oito anos e evidencia os problemas no Departamento Médico Legal (DML), do bairro Florestal. Materiais e quadro de servidores são insuficientes para atender 48 municípios da região.

Em agosto e outubro de 2014, reportagem do A Hora apresentou problemas enfrentados pela equipe.

A câmara tem mais de 20 anos de uso. O departamento regional solicita um aparelho novo. A verba para manutenções dos equipamentos do DML em todo o estado é próxima de R$ 8 mil mensais.

Os investimentos são determinados pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). São mais de 30 unidades no Rio Grande do Sul. Neste ano, havia seis aparelhos semelhantes para serem entregues nas principais regiões.

Em junho do ano passado, vereadores encaminharam ofício ao Governo do Estado solicitando o reparo da câmara fria. O pedido não foi atendido e o Legislativo sequer recebeu uma resposta.

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