Painelistas instigam mudanças na gestão

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Painelistas instigam mudanças na gestão

A Convenção da CDL Lajeado se consolida como um dos principais eventos de formação do empresariado gaúcho. Realizada ontem, a 15ª edição reuniu quatro palestrantes que apontaram os caminhos para o desenvolvimento a partir da inovação. Gabriel Carneiro Costa, Deli Matsuo, Alfredo Rocha e Clóvis de Barros Filho apresentaram conceitos de gestão capazes de enfrentar as dificuldades do mercado.

Lajeado – A sede social do Clube Tiro e Caça recebeu palestrantes de renome nacional na 15ª Convenção CDL. Cerca de 800 profissionais de 30 municípios gaúchos participaram, ontem, de debates que abordaram o reflexo nos negócios das mudanças da sociedade.

Temas como equilíbrio da vida pessoal e profissional, gestão para o engajamento dos funcionários, inovação e mudança comandaram as atividades. Os painelistas instigaram os participantes a pensar sobre novos modelos de gestão empresarial capazes de enfrentar as crises e a era da informação irrestrita.Thiago Maurique

Na abertura, o presidente da CDL, Daniel Dullius, convidou a plateia a refletir sobre a temática do evento, de criar experiências únicas para cada cliente. “Surge como uma provocação para todos nós, independente do setor em que atuamos.”

Conforme o dirigente, o conceito é fundamental diante das mudanças do mercado. “Quem não fizer corre o risco de perder espaço neste ambiente cada vez mais competitivo e com clientes mais atentos, críticos e exigentes.”

O primeiro palestrante foi Gabriel Carneiro Costa. Com a apresentação “Vencendo o Próprio Jogo”, tratou sobre a satisfação pessoal e profissional nas corporações. Ele abordou a necessidade do equilíbrio na busca das vitórias, dentro das contradições internas de cada indivíduo.

Costa falou sobre planos de vida e de satisfação pessoal dos profissionais. Abordou medos e crenças que inconscientemente sabotam metas e sonhos estabelecidos por cada um, e as metodologias que ajudam a melhorar a performance na carreira.

Em seguida, foi a vez de Deli Matsuo, ex-diretor de RH da Google, falar sobre os impactos dos modelos de gestão na produtividade. Após contar sobre suas experiências profissionais, relembrou os diferentes modelos de gestão adotados ao longo da história.

Matsuo causou perplexidade ao dizer que os modelos controladores são ineficientes para produzir inovações. Citou o exemplo de empresas como Toyota e General Electric, em que avaliações de desempenho rígidas garantem a eficiência do processo, mas inviabilizam novos conceitos.

Como contraponto, apresentou modelos adotados por empresas em que não existe a figura do gerente. “O gerenciamento custa de 30% a 35% da folha de pagamento de uma empresa, mas quem produz são os funcionários, não os gerentes.”

Neste modelo, os próprios colaboradores se responsabilizam pelas metas e objetivos. “A pressão por um bom desempenho vem de seus pares”, ressalta. Segundo ele, quando uma equipe é formada por profissionais brilhantes com autonomia para desempenhar as funções, o controle e o gerenciamento são dispensáveis.

Era da informação e crise econômica

O palestrante Alfredo Rocha deu início aos trabalhos na parte da tarde. Com uma conversa bem humorada, em que abordou seus 33 anos de experiência na área, falou sobre os avanços da sociedade que resultaram na era da informação.

Para ele, a enxurrada de notícias que recebemos diariamente não contribui na busca de soluções para os problemas da sociedade, pois limita a nossa percepção. “Não dá pra enxergar uma saída para a crise se acordamos de manhã e assistimos aos telejornais.”

Cita como exemplo as notícias sobre casos de violência, explorados exaustivamente pelos veículos de comunicação. Para ele, quem enxerga o mundo sob a perspectiva da mídia, acha que a violência é invenção do nosso tempo. “A violência sempre existiu e era muito mais constante a cem, 200 ou 300 anos atrás. O que não tinha era a televisão, o celular com câmera e o Whatsapp.”

Rocha acredita que temos que entender o mundo novo, e não temê-lo. Segundo o palestrante, se continuarmos com medo da crise, continuaremos focando no problema e não na solução. “A influência da economia nos negócios é de 30%. Os outros 70% são das decisões e atitudes que tomamos.”

Último painelista do evento, Clóvis de Barro Filho falou sobre as mudanças do cotidiano e a necessidade de adaptação às novas realidades. Conforme o palestrantes, inovar e mudar são dois conceitos distintos. “O primeiro depende necessariamente de uma tomada de decisão resultante da nossa liberdade”, ressalta.

Para Barros Filho, esses conceitos ajudam a explicar as crises e a tomar decisões diante das novas realidades. Ele acredita que parte da crise resulta de condições materiais que não controlamos e outra parte de condições que podemos interferir.

O palestrante defende a separação entre as condições objetivas e subjetivas da crise. Ressalta que as sensações sobre os fatos são causadas pelos discursos, o que afeta a percepção. “Fabrica-se um estado de crise e muito provavelmente tem pessoas que ganham ao fomentar essa sensação.”

“Temos que diferenciar crise de umaestratégia para enriquecimento”

A Hora – A economia mundial passa frequentemente por períodos de crise e desenvolvimento. Como fazer com que o setor produtivo se desenvolva diante da crise enfrentada hoje?

Clóvis de Barros Filho – É fundamental que a crise leve o empresariado à mudança. As condições são ideais para que tenhamos ideias novas sobre conceitos de convivência. Mas também temos que pensar a quem interessa acreditar na catástrofe. Aqueles que apostaram em ações da Petrobrás, mesmo diante da crise, ganharam verdadeiras fortunas de um dia para o outro. A quem interessa a reprodução desse discurso de catástrofe?

É possível se precaver dos momentos de instabilidade econômica?

Filho – O mundo será sempre mais complexo do que a nossa capacidade para entendê-lo. Por isso toda a tentativa de antecipação será fracassada. Porém um pouco de humildade ajuda. A mera certeza de que é difícil já é o primeiro passo para diminuir os erros. A humildade evita perder de 7 a 1, por exemplo. Ajuda a entender que as condições para a vitória de amanhã são diferentes das vitórias de ontem.

Por que as pessoas contestam e enfrentam as mudanças que ocorrem na sociedade?

Filho – Todo mundo que consegue uma posição que julga confortável lutará pela conservação. Portanto, só gosta de mudança quem tem muito pouco ou nada. Esses são subversivos. Os dominantes costumam ser conservadores. Se você quer identificar os que estão se dando bem, identifique os que não querem que nada mude. Como não estamos satisfeitos com a sociedade em que vivemos, é fundamental que as transformações aconteçam.

“Quem vê o mundo pela mídia sóreclama e fica parado na vida.”

A Hora – Os empresários têm dificuldade para lidar com o imprevisto e resistem a mudar diante das novas realidades. O que é preciso para quebrar esse paradigma?

Alfredo Rocha – As pessoas não fazem as coisas de forma incorreta porque querem, e, sim, porque já têm um método que deu certo por muito tempo. Se desvencilhar de uma coisa que deu certo é muito temeroso. Nosso objetivo não é ensinar o que as pessoas precisam fazer. Até porque nós não sabemos o que cada um precisa. O primeiro passo é se conscientizar do quanto é importante mudar a forma de pensar.

Sobre o volume de informações disponíveis hoje. Como evitar que esta enxurrada se torne um estímulo negativo?

Rocha – Hoje não temos mais uma enxurrada de informações, e, sim, um oceano. O desafio é estar focado e saber que tipo de informação realmente agrega.Se eu trabalho no comércio, preciso entender tudo sobre excelência no atendimento, gestão de pessoas, marketing e o novo consumidor. Tem que fazer um mapeamento do que vale a pena focar.

O humor é uma das ferramentas usada pelo senhor em seus painéis. Esta é uma forma de evitar o pessimismo?

Rocha – É preciso definir o que vamos permitir que entre em nosso cérebro. Quem vê o mundo pela mídia só reclama e fica parado na vida. Quase todos os canais têm um ou outro bom programa, mas a maioria é ruim e explora o lado pessimista. Até os amigos que você conversa e fazem a diferença. O leitor tem que analisar quem são essas pessoas, que tipo de conversa que têm e qual o impacto disso. Passam zilhões de pensamentos na nossa cabeça, mas os que vão florescer são aqueles que você alimenta.

“Temos que aprender a avaliar as pessoas.”

A Hora – Em sua palestra o senhor defendeu mudanças no modelo de gestão que encontram resistência no meio empresarial. Entre elas o modelo sem gerenciamento. Por que essa resistência e o que ela gera?

Deli Matsui – Um reflexo da decisão de manter modelos tradicionais é a dificuldade que as empresas tem para reter talentos. Perdem porque não conseguem se adaptar às mudanças na sociedade e nas relações de trabalho. As pessoas t~em baixo nível de satisfação e acabam saindo. A resistência aos novos modelos é comum e não só em pequenas empresas. Mas algumas coisas são inevitáveis e o tempo vai forçando essa adaptação.

O senhor também critica o modelo de controle excessivo que permeia grande parte das relações de trabalho. Por que esse sistema prevalece e por que ele precisa mudar?

Matsui – O processo burocrático se estabelece porque temos a necessidade desse controle. As empresas de tecnologia tendem a ter menos controle porque acreditam que as pessoas trabalham porque querem contribuir. Se você recrutar as pessoas certas, elas vão querer ajudar. Se você contrata mal, precisa vigiar. Ai está a diferença. Se você pega trabalhador mediano, terá que controlar e medir desempenho. Se você escolher um funcionário nota dez, você pode esquecer dele. Ele vai fazer o que puder na melhor qualidade, porque isso faz parte da vida dele. Temos que aprender a avaliar as pessoas.

Por que a rotatividade nos empregos é maior entre os jovens?

Matsui – É muito comum a noção de que o jovem não tem interesse em levar a vida a sério. Talvez as empresas não estejam oferecendo o que o jovem quer. É um equívoco imaginar que o que está estabelecido é o certo. A sociedade nunca volta, sempre anda para frente.

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