Amturvales sofre desconfiança de prefeitos

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Amturvales sofre desconfiança de prefeitos

Falta de incentivos por parte das administrações municipais força entidade ligada ao turismo a buscar novos patrocinadores na iniciativa privada. Crescimento no número de turistas foi menor em 2014. Nomeação de ex-prefeito de Colinas Gilberto Keller, cassado em 2013, para presidência da associação, gera desconforto entre alguns gestores

oktober-2024

Vale do Taquari – A principal entidade responsável por tentar atrair maior número de visitantes para a região carece de credibilidade com alguns gestores. Duas décadas após fundação, só 25 cidades do Vale do Taquari têm convênio com a Associação dos Municípios de Turismo da região dos Vales (Amturvales). Há também acordo com Guaporé e Itapuca.

Anderson LopesHá poucos meses, o prefeito de Imigrante, Celso Kaplan (PP), rompeu contrato anual de quase R$ 7 mil que o município mantinha. Ele reclama da falta de ações e também demonstra certo receio com a manutenção de Keller no comando da associação. “Este não é o principal motivo”, sustenta. “Mas não concordamos com algumas coisas e resolvemos sair no início do ano.”

Kaplan cobra mais efetividade nas ações programadas. Lembra que seu município é um dos mais visitados da região, principalmente em função do cactário Horst, considerado um dos maiores da América Latina com mais de 800 espécies adaptadas. “São diversos ônibus passando por lá todos os meses. Mas faltam placas pela região anunciando nossos atrativos”, reclama.

Imigrante conta ainda com o Convento Franciscano Boaventura, construído entre as décadas de 40 e 50 do século passado, em Daltro Filho, interior do município. Local para meditação e formação de estudantes da ordem franciscana, o local também acolhe grupos de pessoas para congressos, retiros e seminários.

Construída todo em pedra grês, a estrutura impressiona pela magnitude e fica numa das mais belas paisagens do Vale. “Mas só receber visitantes não adianta. Precisamos de melhores formas de divulgar e segurar mais o turista”, sustenta o prefeito.

Para ele, a Amturvales falha neste sentido. “As ações não saem do papel. Não sentimos engajamento suficiente para mantermos os incentivos financeiros em meio à crise pela qual nosso município passa.”

Os índices de visitas comprovam alguns problemas. Entre 2012 e 2013, por exemplo, houve aumento de 32,3 mil turistas registrados em um ano. Os números passaram de 81,9 mil para 114,2 mil. Em 2014, o avanço foi de apenas sete mil, somando 121 mil turistas no ano passado.

A reportagem tentou contato com o presidente da associação, Gilberto Keller. No entanto, ele estava em reunião e não pôde responder aos questionamentos.

Associação otimista

A nova gestora em turismo contratada pela Associação, Elisabete Lenhard, fala das dificuldades enfrentadas pela entidade para incentivar o segmento na região. “A principal ainda é a consciência de turismo como fator para o desenvolvimento local. Apesar de ter crescido muito nos últimos anos, ainda é um fator agravante.”

Mesmo assim, avalia como positiva a resposta do poder público. Para a futura turismóloga, os gestores estão cada vez enxergando mais o turismo como forma de desenvolver os municípios. “Os eventos promovidos por eles são peça-chave para atrair o turista. Muitos já estão engajados na divulgação e no desenvolvimento das rotas e roteiros existentes no Vale”, afirma.

Elisabete admite que a associação vem trabalhando com mais afinco na busca por parceiros na iniciativa privada. Para ela, administradores estão percebendo a importância do turista na região. “Cada vez mais eles buscam por qualificação e inovação para atrair mais visitantes ao seu empreendimento.”.

Curso forma mais de 800

Com recursos estaduais conquistados por meio da Participação Popular e Cidadã (PPC), a Amturvales promove cursos às cidades associadas. São aulas para qualificação de recursos humanos para o turismo.

Eles abrangem uma série de assuntos, entre eles, gestão de agências, produção de eventos, sustentabilidade ambiental, patrimônio histórico e línguas estrangeiras. “Promovemos cursos em todos os municípios associados. Desde 2013 foram qualificadas mais de 800 pessoas”, afirma Elisabete.

20 anos em março

A Amturvales foi criada em março de 1995, com um quadro associativo formado apenas por representantes de administrações municipais. Só em 1999 a iniciativa privada entrou com a participação de hotéis, restaurantes, agências de viagens, entre outros.

Desde o início, o estatuto da Associação prevê como metas coordenar as ações de turismo no Vale do Taquari, estruturar e qualificar os roteiros e atrativos turísticos, bem como desenvolver projetos de integração regional.

Hoje, segundo Elisabete, o repasse de valores à Amturvales pelo poder público é feito de acordo com o número de habitantes de cada município. Na iniciativa privada, o apoio depende do número de funcionários ou até mesmo da negociação. Ela não soube precisar o valor anual.

Na sede de Encantado, ela trabalha com Selmar Klunk do setor financeiro. Já a diretoria é formada 24 voluntários, entre presidente, vice, tesoureiro, secretários e representantes dos departamentos de projetos, marketing, roteiros, eventos, demanda, qualificação. Há também um conselho fiscal.

Em suas metas, a Amturvales prevê ideias para incentivar turismo cultural; de negócios e feiras; gastronômico; ecológico ou ecoturismo; religioso; e rural.

São nove rotas, roteiros e tours cadastrados: Caminho dos Moinhos; Caminhos da Forqueta; Rota da Erva-Mate; Rota Germânica; Rota Trilhas e Memórias; Roteiro Encantado; Roteiro Delícias da Colônia; Roteiro Taquari Açoriana; e Tour Lajeado. Alguns deles estão suspensos de forma temporária por falta de atenção dos municípios abrangidos.

Harmonia e problemas

A Lagoa da Harmonia, que integra a Rota Germânica, é hoje o principal ponto turístico procurado por visitantes no Vale do Taquari. Em 2013, parte da família Wolf tinha como intenção vender a área com pouco mais de 120 hectares localizada no topo do morro da localidade homônima. O valor pedido era de quase R$ 10 milhões.

Durante o verão, em média, 400 pessoas visitam o local a cada fim de semana. Em 2012, os proprietários contabilizaram mais de 20 mil turistas. Os bons números fizeram a família desistir de vender a área e passar a investir em novidades. Um novo gerente do local foi contratado.

Além das sete cabanas e de locais propícios para prática de rapel e paraglyder nas proximidades, a principal novidade já apresentada é o café colonial que funciona aos fins de semana e feriados. São 72 diferentes produtos, com pratos quentes e frios, servido das 11h às 20h nos sábados e das 8h às 16h horas aos domingos. O valor é de R$ 35 por pessoa.

Apesar das mudanças e novidades, a área de lazer enfrenta problemas para disponibilizar mais atrações . O pedalinho está parado graças a uma ação judicial que tramita contra os proprietários.

Segundo um dos funcionários, uma das pequenas embarcações afundou com um casal dentro, supostamente após choque com outro pedalinho. Pertences de grande valia teriam sido perdidos dentro da lagoa.

Agora, o casal cobra ressarcimento superior a R$ 10 mil como forma de indenização. “Antes de resolver este impasse, os chefes não querem voltar a disponibilizar os pedalinhos”, comenta o funcionário.

No passado, o local também dispunha de cavalos para passeios guiados pela vasta área verde. No entanto, a Vigilância Sanitária não permite a criação de animais a menos de 500 metros da cozinha do restaurante, o que inviabiliza, por momento, a presença dos ginetes.

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